por Sulamita Esteliam
Neste sábado completa-se sete dias do incêndio da boate Kiss, em Santa Maria, RS, tragédia que custou a vida de 236 jovens – três ao longo da semana -, e tem vigília em homenagem às vítimas. Ainda estão hospitalizadas 124 pessoas. Os donos do estabelecimento e dois integrantes da banda Gurizada Fandangueira tiveram a prisão temporária prorrogada por 30 dias. Eles podem vir a ser indiciados por homicídio qualificado, informa a Agência Brasil.

Posto hoje o que deveria ter feito ontem. Há boas notícias no rastro da catástrofe gaúcha. Motivadas pelas consequências trágicas do desastre, as prefeituras começam a se mexer em todo o país. Semana passada foi de varredura e o processo deve continuar nas boates e casas noturnas do Recife e de outras cidades Brasil afora. Antes tarde do que nunca.
Aqui, três estabelecimentos foram interditados e outros cinco notificados para fazerem correção de segurança – aqui e aqui. A Dircon, órgão de fiscalização da Prefeitura Municipal, fechou, também, a Arena Rosa e Silva, na Zona Norte, que fazia festas sem alvará e sem condições adequadas – aqui e aqui.
Todos espaços badalados na noite da capital pernambucana. Alguns dos notificados, como a Downtown no Bairro do Recife, funcionam há 20 anos com as mesmas anomalias apontadas agora pelo Corpo de Bombeiros. Curioso é que, no dia seguinte à catástrofe na cidade gaúcha, reportagem dos jornais locais, feitas a partir de entrevistas com os proprietários das mesmas casas, reafirmavam a segurança dos locais. Mostraram-se, pois, equivocadas.
O Roof Tebas, um dos três interditados pela Dircon e pelos Bombeiros, foi fechado por ordem judicial. O espaço, usado para festas descoladas da chamada turma alternativa, funcionava na cobertura do edifício comercial de mesmo nome, no Centro do Recife. O prédio tem mais de 50 anos, só possui um elevador velho, a escada de acesso é estreita e a cobertura não tem grade de segurança.

Lembro-me que, no início de 2012, minha filha, que é produtora de eventos em Beagá, foi a uma festa no Roof Tebas, e ficou preocupada com o que viu. Segundo ela, o local era interessante, “bacana até, tem uma vista maravilhosa da cidade, mas… inseguro. Deu um certo pânico imaginar como sair de lá em caso de qualquer incidente…”
O Recife nem Santa Maria estão sozinhos. Mais de 70% das casas noturnas do país não respeitam normas mínimas de segurança. É o que conclui pesquisa publicada pela revista Isto É, reproduzida pelo Sul 21. Quem frequenta sabe disso. Foi preciso que duas centenas e meia de jovens morressem para que as pessoas e o poder público despertassem para o risco.
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Postagem revista e atualizada às 21:47 hora do Recife.