por Sulamita Esteliam

Vamos mudar um pouquinho de assunto.
Passou batido o resultado de pesquisa do Instituto Avon-Data Popular, que retrata violência contra mulher com foco no comportamento dos jovens: Violência Contra a Mulher: o Jovem está Ligado? Foi divulgada no início do mês, mas sem grande repercussão da parte da mídia venal, infelizmente.
Importante assinalar que a pesquisa é arte da campanha global do instituto Fale sem medo – não à violência doméstica, dentro do movimento 16 Dias de ativismo contra a Violência de Gênero, em curso. Portanto, ainda em tempo de o A Tal Mineira se integrar, como sempre faz.
Note-se que foram ouvidos 2 mil jovens na faixa de 16 a 24 anos nas cinco regiões do Brasil. Interessante que, além do relacionamento afetivo, sexualidade, Lei Maria da Penha e violência entre casais, focou-se também nos relacionamentos virtuais.
Abordou-se, principalmente, o comportamento manifestado em redes sociais como o Facebook, dentre outros meios digitais. E, adivinhe o que se constatou?
“O ciúme em excesso, a submissão e a necessidade de controlar o parceiro, inclusive sobre o que vestir ou postar nas redes sociais, são características recorrentes em relacionamentos entre jovens”. Está no relatório.
No geral, conclui-se que as agressões domésticas entre casais acabam por induzir os jovens que vivem nesses ambientes a comportamentos violentos e machistas. É a tal educação pelo (mau) exemplo.
É o que sempre digo: a posse alimenta o machismo, que vem sendo reproduzido há séculos, geração após geração – dentro de casa, nas escolas, nas igrejas, na mídia, nas ruas. Até quando?
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Transcrevo reportagem da Agência Brasil a respeito, assinada pela colega Marli Moreira. Foi indicada pelo Instituto Patrícia Galvão, que trabalha os direitos das mulheres. Editei o título, que leva a outra matéria da mesma AgBR, com enfoque específico no meio virtual:

Pesquisa retrata violência contra a mulher entre jovens no espaço virtual
As agressões domésticas entre casais podem induzir os jovens que vivem nesses ambientes a comportamentos violentos e machistas, segundo mostra a pesquisa Violência Contra a Mulher: o Jovem está Ligado?, feita Instituto Data Popular, sob encomenda do Instituto Avon. A pesquisa é parte das ações da campanha global da entidade “Fale sem medo – não à violência doméstica”, do movimento 16 Dias de Ativismo contra a Violência de Gênero.
O instituto ouviu mais de 2 mil jovens com idades entre 16 e 24 anos, nas cinco regiões do país, sobre os temas relacionamento afetivo, relacionamentos virtuais, sexualidade, Lei Maria da Penha e violência entre os casais.
Ao serem questionadas, com base em uma lista de agressões apresentadas sobre algum tipo de ataque sofrido, 66% das mulheres responderam positivamente. Já 55% dos homens admitiram ter praticado alguma das ações mencionadas na sondagem – xingar, empurrar, ameaçar, dar tapa, impedir de sair de casa, proibir de sair à noite, não deixar usar determinada roupa, humilhar em público, dar um soco, obrigar a ter relação sexual sem vontade e ameaçar com arma, entre outras.
Na enquete entre os homens que vivenciaram a violência doméstica, 64% praticaram algum tipo de agressão a alguma companheira. Dos jovens entrevistados, 43% disseram já ter visto a mãe ser agredida pelo parceiro e 47% afirmaram que interferiram em defesa da mãe.
O levantamento abordou, principalmente, o comportamento manifestado em redes sociais como o Facebook, ente outros meios digitais. “O ciúme em excesso, a submissão e a necessidade de controlar o parceiro, inclusive sobre o que vestir ou postar nas redes sociais, são características recorrentes em relacionamentos entre jovens”, diz o relatório.
“O mundo virtual em que eles vivem facilita muito o controle violento e as pesquisas têm sempre como objetivo estimular o debate”, justificou Lírio Cipriani, diretor executivo do Instituto Avon.
O estudo mostrou a existência de uma falta de percepção sobre a conduta violenta. Pelo menos 4% jovens do sexo masculino admitiram ter praticado alguma atitude violenta contra a namorada ou a mulher ou, ainda, uma “ficante”, como definem os jovens para se referir à companheira eventual. Quando sondadas, a proporção de mulheres que declararam ter sido vítimas de agressão foi 8%.
Um total de 37% das mulheres relatou ter tido relações sexuais sem camisinha por insistência do parceiro. Outro dado aponta que pouco mais de um terço dos jovens (35%) classificou como um ato violento o fato de impedir o parceiro de sair à noite. Para 34% deles, controlar o companheiro por telefone ou impedir de usar determinada roupa é uma forma de violência.
A maioria dos entrevistados (76%), dos dois sexos, manifestou ser contra o comportamento de mulheres que tenham vários “ficantes” ou “casinhos” e 38% condenaram o comportamento da mulher que tem relações sexuais com vários homens, concordando que ela “não é para namorar”.
Entre as mulheres, 68% declararam já ter levado uma cantada ofensiva, 44% já foram tocadas ou assediadas por homens em baladas ou festas e 31% já foram molestadas no transporte público.
De acordo com o relatório, embora facilite o relacionamento, o avanço das redes sociais também leva a um meio de maior controle dos casais, criando a cyber violência que vai da invasão da privacidade ao compartilhamento de fotos sem autorização. Mais da metade das mulheres entrevistadas (51%) declararam ter dado a senha do celular para o parceiro e 46% compartilharam a senha do Facebook. Entre os comportamentos de controle estão a exigência de exclusão de um amigo, apontada por 19%; o impedimento de conversas, citada por 17%; e o recebimento de vídeos com imagens de mulheres nuas, fato ocorrido com 32% das mulheres e 41% dos homens.