
por Sulamita Esteliam
Leio na blogosfera alternativa a repercussão da ida do senhor procurador-Geral da República a Davos, aonde foi pavonear-se de palestrante para megaempresários sobre os benefícios da operação Lava Jato – para os negócios.
Todos, empresários e negócios, aqui e alhures, santos e imaculados, com certeza.
As areias e os arrecifes da Praia de Boa Viagem estão curiosos: cabe decoro para o exercício da chefia do Ministério Público Federal?
Rodrigo Janot posa de embaixador, função que não está dentre as prerrogativas do PGR; pior, de um governo ilegítimo, oriundo de uma fraude que consubstanciou-se em golpe de Estado, e recheado de corruptos da cabeça aos tentáculos.
E sob as barbas e vistas grossas da operação Lava Jato, que Janot alardeia como suprassumo do combate à corrupção.
Não vem ao caso por falta de interesse ou de culhões? Afinal, quem são os senhores?
Ah, sim, o próprio Rodrigo Janot dá a pista: a Lava Jato serve ao mercado, que é quem manda no governo.
Não obstante, o procurador que se acha insubstituível, e não tem vergonha de ser seletivo e abusivo, acha natural fazer o papel de bobo do corte do rentismo.
Haja espaço e cara de pau para tamanha hipocrisia!
Aliás, de uma nudez impecavelmente vergonhosa, muito bem explicitada em artigo do cientista social e professor da PUC-MG, em artigo publicado pelo Brasil 247 e reproduzido pelo jornal GGN, do Luis Nassif.
Transcrevo:
Janot, o vendedor de ilusões
por Robson Sávio dos Reis – Brasil 247
Está na página institucional do Ministério Público Federal as competências do Procurador-Geral da República:
O procurador-geral da República é o chefe do Ministério Público Federal e exerce as funções do Ministério Público junto ao Supremo Tribunal Federal (STF), no Superior Tribunal de Justiça (STJ), sendo também o procurador-geral Eleitoral. O PGR deve sempre ser ouvido em todos os processos. No STF, o PGR é legitimado a propor ações diretas de inconstitucionalidade, representação para intervenção federal nos estados e no DF, além de propor ações penais públicas e cíveis. No STJ, o PGR pode propor representação pela federalização de casos de crimes contra os direitos humanos e ação penal. O PGR é quem designa os subprocuradores-gerais da República para exercer, por delegação, funções junto aos diferentes órgãos jurisdicionais do STF e do STJ.
Portanto, há que se perguntar: por que o sr. Rodrigo Janot resolveu dar uma de embaixador anticorrupção do Brasil no encontro de Davos? Essa é uma nova atribuição da PGR?
Na ausência de Temer, o decorativo, coube ao representante do rentismo internacional que dirige nossa economia, o Sr. Meireles, representar o país no encontro dos usurpadores da riqueza mundial. Levou à tiracolo o procurador-geral da República, com a missão de dizer aos detentores do capital especulativo internacional que no Brasil se combate a corrupção. Realmente, esse governo é simultaneamente trágico e hilário!
Será que o sr. Janot acha que os investidores internacionais, conhecendo o staff dos três poderes da república, acreditarão no combate a corrupção nessa república das bananeiras, como se fossem os leitores de veja ou os expectadores do jn? Que acreditam nesse conto da carochinha segundo o qual a PGR e a Justiça brasileira agem com isonomia e retidão no combate aos maus feitos públicos e privados?
É preciso dizer ao sr. Janot que só os batedores de panelas e alienados midiáticos acreditam que um governo de corruptos – do qual ele se dignou ser embaixador – combate a corrupção.
Por um acaso está no rol das (novas) funções da PGR fazer pirotecnia em foros internacionais, para tentar salvar a imagem carcomida, pelo menos lá fora, de uma juristocracia e uma camarilha golpista atoladas em privilégios e ações nada republicanas?
Talvez haja uma explicação plausível para a ida do sr. Janot até Davos. Lá (o ápice do encontro dos rentistas internacionais – que expandem seus negócios graças à corrupção generalizada que move o capitalismo neoliberal -), está travestida na sua forma mais perversa a pseudo-narrativa do combate a corrupção. É onde os grupos que manipulam o cerne da corrupção internacional se reúnem para louvar o combate à corrupção. Nisso, há muito em comum entre Davos e essa república das bananeiras.
Assim sendo, depois da embaixada do sr. Janot a Davos, sugerimos às organizações globo a criação de mais uma categoria de premiação: o troféu vendedor de ilusões.
baldoni.malu@gmail.com