Comunicação é desafio para Dilma

Por Sulamita Esteliam
A comunicação como direito humano, na ótica feminista e do movimento de mulheres, foi o tema central do Encontro Rede Mulheres em Comunicação, de 21 a 23 de outubro, em Recife-PE/Maragogi-AL, promovido pelo Centro de Mulheres do Cabo. Na foto, de Paulo Lopes, o painel de abertura, na Unicap: de pé, Vera Barone, da Rede das Mulheres de Terreiro PE; à mesa: Ângela Nascimento, do Observatório Negro de Mídia; e Ana Veloso, professora da Unicap e doutoranda em Comunicação pela UFPE, organizadora do evento

A comunicação é, sem dúvida, um dos muitos desafios que Dilma Roussef, primeira mulher eleita para presidir a República Federativa do Brasil, vai ter que enfrentar. Em seu discurso da vitória, ela deixou muito claro que “prefere uma imprensa barulhenta do que o silêncio da ditadura”. Na hora de conceder sua primeira entrevista, contudo, escolheu a Record e não a Globo. Se tivesse optado pela TV Brasil, a única TV pública nacional, teria sido bombardeada, sem dó nem piedade. Revelou-se sensata: deu o recado, preservando-se.

Nossa velha mídia e seus arautos de plantão perdem o prumo ante a lembrança de que o país precisa de uma nova lei dos meios, que adeque o exercício da comunicação aos novos tempos e às novas tecnologias. E que regule  a relação dos veículos, em particular as concessões públicas da radiodifusão, com a sociedade.

Não se trata de censura à liberdade de imprensa, entretanto. Trata-se de garantir, também, a liberdade de expressão de quem não tem mídia, e que tem direito a se comunicar. Assim como tem direito à informação de qualidade, com respeito aos fatos e aos direitos humanos. Mas, deixemos nossa presidenta descansar, para retomar fôlego. A faina que a espera é diversa e árdua. Clique aqui para ler o diz o Brasil de Fato.

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É disso que trata o artigo de Marcelo Salles, do Fazendo Media, publicado pelo Correio do Brasil nesta quinta-feira. Transcrevo:

O governo Dilma e a Comunicação Social

4/11/2010 16:54,  Por Marcelo Salles – de São Paulo

A TV vem perdendo audiência  país

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

“A Comunicação é uma missão social. Por isto, juro respeitar o público, combatendo todas as formas de preconceito e discriminação, valorizando os seres humanos em sua singularidade e na luta por sua dignidade”(Juramento do Jornalista Profissional)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Segundo a jornalista Marilia Gabriela, a vitória de Dilma foi apertada. Doze milhões foi pouco pra ela. Uma Bolívia inteira de votos não bastou, como não foi suficiente para convencer a maior parte dos intelectuais da direita e de seus arautos. “A oposição vai governar 54% do eleitorado” é a frase mais comum a flutuar pelo vasto oligopólio da mídia.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

De fato a direita ganhou importantes governos estaduais. Ocorre que, para a infelicidade dela, o campo progressista também venceu importantes governos estaduais. E mais: 60% da Câmara dos Deputados e 70% do Senado Federal. Talvez o Congresso Nacional mais à esquerda que o Brasil já viu. Mas como parte da direita não enxerga o Brasil…

A primeira entrevista de Dilma, depois de eleita, foi para a TV Record. Nem o Lula, que é o Lula, ousou desafiar a supremacia da TV Globo. Se a iniciativa vai se traduzir em ações concretas de combate às irregularidades das empresas de mídia, que violam descaradamente a Constituição Federal, isso só o tempo vai dizer. É preciso ficar atento para os novos ministros das Comunicações, Educação, Cultura e Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República. Seja como for, não dar a primeira entrevista à Globo tem um valor simbólico gigantesco.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Por um motivo muito simples: a TV Globo, inaugurada em parceria com o grupo estadunidense Time-Life um ano depois da ditadura, foi o principal sustentáculo do regime autoritário que sequestrou, torturou e assassinou milhares de brasileiros.

Vamos à opinião de quem trabalhou por 10 anos na Fundação Roberto Marinho, inclusive ocupando o posto mais alto da organização, a de controller. Roméro Machado:

– O escândalo Globo/Time Life não é meramente um caso de um sócio brasileiro (Roberto Marinho) que aceita como sócio uma empresa estrangeira (Grupo Time-Life), contra todas as leis do país. O escândalo Globo/Time-Life é mais do que isso. É antes de mais nada um suporte de mídia que visava apoiar, dar base, sustentação e consolidar a ditadura no Brasil, apoiada e supervisionada pela CIA, por exigência dos Estados Unidos, comandado por terroristas da CIA, como Vernon Walters e Joe Walach, sendo este último com emprego fixo naGlobo, como “representante” do grupo Time-Life.

Dilma lutou contra essa ditadura, e ela sabia muito bem que a tortura foi utilizada como instrumento de controle social, assim como a Globo, para permitir a desnacionalização das economias latino-americanas. A jornalista Naomi Klein, no livro A doutrina do choque, mostrou de modo lapidar a relação dos regimes autoritários com a implementação do capitalismo neoliberal emNuestra América. Foi no Chile o laboratório. Foi no Chile de Pinochet que osChicago Boys, sob a orientação do economista Milton Friedman, fizeram a festa. O receituário é conhecido: privatizações, redução do Estado e abertura econômica indiscriminada. Rigorosamente o contrário do caminho adotado pelo Brasil e pelos países latino-americanos que conquistam avanços importantes.

Por isso é muito significativa a escolha da presidenta eleita.

Não é o fato de a TV Record ter sido a escolhida, apesar de lá existirem profissionais competentes e que não estão impedidos de fazer jornalismo por forças superiores. O fato é que a Globo foi preterida. E com isso, toda uma lógica foi declinada.

Do ponto de vista da comunicação, podemos antever alguns caminhos para o governo Dilma – caminhos esses que vão influir, em grande medida, no desenvolvimento do Brasil e dos demais países da América Latina:

1) O novo governo escolhe o caminho da conciliação com as Organizações Globo, para minimizar conflitos e poder seguir sem muitas turbulências com sua agenda política. Isso significa não mudar significativamente a política de radiodifusão.

2) Resolve tocar a sua agenda política para a radiodifusão sem pedir autorização para ninguém, o que significa, entre outras medidas: adotar as principais resoluções da Conferência Nacional de Comunicação, como proibir a propriedade cruzada, aproveitar a digitalização para democratizar o espectro radioelétrico, estimular o desenvolvimento de veículos de comunicação alternativos, fomentar a criação de um conselho para os profissionais da mídia e, óbvio, fazer valer a Constituição Federal nos artigos que tratam da Comunicação Social – 220 a 224.

No primeiro caso, poderemos esperar avanços tímidos no campo da comunicação. No segundo caso, uma revolução pode ter início. Seja como for, é fundamental alertar: qualquer caminho que seja adotado terá conseqüências diretas para toda a sociedade, considerando que a mídia tem poder suficiente para interditar debates ou impor as pautas de seus próprios interesses. E essas conseqüências virão para o bem e para o mal, e a depender da correlação de forças. Cinquenta e cinco milhões de votos e as maiorias no Senado e na Câmara são bons auspícios. Mas uma Bolívia faz toda a diferença.

Observação: se os movimentos sociais, os partidos políticos, a academia, as associações de classe e demais organizações da sociedade civil ficarem esperando que o governo faça tudo sozinho, nada vai acontecer.

Marcelo Salles é jornalista, colaborador do www.fazendomedia.com e de outros veículos de comunicação democráticos, entre eles o CdB.

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