Por Sulamita Esteliam
Para não dizer que não falei de… recorro a Ovídio Martins, nascido caboverdiano, lá onde o vento faz a curva, em África. Poeta e jornalista, foi um dos fundadores do Suplemento Cultural (1958, São Vicente). Seu envolvimento em atividades de promoção da independência valeram-lhe a pena de prisão e o exílio nos Países Baixos.
Sua poesia corta feito faca. Às vezes, é preciso.
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FLAGELADOS DO VENTO-LESTE
Nós somos os flagelados do Vento-Leste!
A nosso favor
não houve campanhas de solidariedade
não se abriram os lares para nos abrigar
e não houve braços estendidos fraternamente para nós
Somos os flagelados do Vento-Leste!
O mar transmitiu-nos a sua perseverança
Aprendemos com o vento o bailar na desgraça
As cabras ensinaram-nos a comer pedras para não perecermos
Somos os flagelados do Vento-Leste!
Morremos e ressuscitamos todos os anos
para desespero dos que nos impedem a caminhada
Teimosamente continuamos de pé
num desafio aos deuses e aos homens
E as estiagens já não nos metem medo
porque descobrimos a origem das coisas
(quando pudermos!…)
Somos os flagelados do Vento-Leste!
Os homens esqueceram-se de nos chamar irmãos
E as vozes solidárias que temos sempre escutado
São apenas
as vozes do mar
que nos salgou o sangue
as vozes do vento
que nos entranhou o ritmo do equilíbrio
e as vozes das nossas montanhas
estranha e silenciosamente musicais
Nós somos os flagelados do Vento-Leste!
OVIDIO MARTINS, 1928-1999
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Sobre os 31 anos do PT, completados em 10 de fevereiro, recomendo o texto “É preciso, vamos!” da minha amiga Reiko Miúra, jornalista e blogueira, assessora de Comunicação da Fundação Perseu Abramo.
A comemoração aconteceu em Brasília, com a presença de Lula, reconduzido à Presidência de honra do partido. A presidenta da República, Dilma Roussef, prestigiou. Aqui, a cobertura da Rede Brasil Atual.