Estudem, meninas, estudem!

por Sulamita Esteliam
Sábia dona Dirce: "O estudo é a redenção dos pobres" - foto: Unicef/Unifem

Mulheres e crianças são as principais vítimas da miséria, este câncer que teima em corroer as bases, não só da sociedade brasileira, mas de toda a América Latina. Apesar dos avanços inegáveis alcançados nos últimos anos, a partir da ascensão de governos populares ou de esquerda; sobretudo, no Brasil da Era Lula da Silva – assim mesmo, com letras maiúsculas.

Ainda temos longo caminho a percorrer até alcançarmos um mínimo de dignidade para todos os filhos e todas as filhas deste Brasil e Latino-América. É questão estrutural, herança maldita de séculos de espoliação colonialista, sim, perpetuada pela cegueira das nossas elites.

E a educação, ou a falta ou deficiência dela, é o que faz a diferença.

Tais reflexões me fazem lembrar, com desvelo, minha querida mãe, que já é estrela há mais de dez anos. Ela, que trocara os estudos pelo casamento – só veio a concluir o antigo primário quando sua primogênita, Euzinha, já ia pelos 17 anos. Dona Dirce não se cansava de repetir, diuturnamente, talvez porque tenha sentido na pele o peso de sua decisão adolescente (?): “Estude, menina, estude! O estudo é a redenção dos pobres”.

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A Agência Patrícia Galvão, um “espaço de opinião e debate sobre questões críticas para as mulheres brasileiras”, acaba de inaugurar uma seção dedicada, exclusivamente, à notícias sobre erradicação da miséria. Como se sabe, este é o principal compromisso de governo da presidenta Dilma Roussef.

É do novo espaço da Patrícia Galvão, que me chega via boletim semanal – clique aqui para se cadastrar -, que pesquei a grave, e triste, informação que compartilho com vocês a seguir. Recorte importante do que vai nas entranhas de um país que ainda precisa se reinventar a cada dia.

Mulheres são maioria entre jovens fora da escola e do mercado de trabalho

Qua, 02 de Fevereiro de 2011 20:11
(Agência Brasil) Uma parcela da população brasileira entre os 18 e 24 anos do país não estuda e nem trabalha. São cerca de 3,4 milhões de jovens que representam 15% dessa faixa etária, apurou a repórter Amanda Cieglinski. Estudo do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) mostra que as mulheres são as mais afetadas por esse problema, muitas vezes em função da maternidade e do casamento.
Do total de jovens fora da escola e do mercado de trabalho, 1,2 milhão concluiu o ensino médio, mas não seguiu para o ensino superior e não está empregado. Segundo a pesquisa do Inep, a proporção de jovens nessa situação aumentou de 2001 a 2008, e quase 75% são mulheres. Uma em cada quatro jovens nessa situação tinha filhos e quase metade delas (43,5%) estava casada em 2008. 

Para Roberto Gonzales, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o estudo reflete a desigualdade de gênero, que ainda persiste não apenas na diferença salarial, mas no próprio acesso ao mercado de trabalho. “Isso tem muito a ver com a divisão do trabalho familiar, seja doméstico ou de cuidados com o filho. É uma distribuição muito desigual e atinge em especial as mulheres, por isso você tem tantas meninas fora do mercado e da escola”, diz o pesquisador.

Ainda de acordo com a pesquisa, entre as jovens de 18 a 24 anos que estão na escola e/ou no mercado de trabalho, o percentual das que têm filhos é cinco vezes menor. Segundo o estudo, os dados comprovam que “existe forte correlação entre casamento/ maternidade e a saída, mesmo temporária, da escola e do mercado de trabalho observada para as mulheres”.

“A baixa escolaridade não é uma barreira absoluta ao mercado de trabalho, mas é um problema porque há a possibilidade de criar-se um círculo vicioso. A mulher não terá acesso a bons empregos que dariam experiência profissional e poderiam melhorar sua inserção no futuro”, alerta Gonzales, que afirma ainda que as políticas públicas precisam ser mais flexíveis e acompanhar os “novos arranjos” da sociedade para garantir mais apoio a esse grupo de jovens mães.

Uma das estratégias básicas para garantir que a jovem consiga prosseguir com seus estudos ou ingressar no mercado é a ampliação da oferta em creche. Atualmente, menos de 20% das crianças até 3 anos têm acesso a esse serviço no país. “Essa é uma das principais barreiras alegadas pelas mulheres inativas”, indica Gonzalez.

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