por Sulamita Esteliam
A notícia que transcrevo abaixo, do portal Ombuds PE, denuncia a adoção da regra-mordaça para os trabalhadores do Sistema Jornal de Commercio de Comunicação. É o caso de perguntar o que temem seus gestores.
Mas é, a um só tempo, prova arrematada do que move as empresas de comunicação no país. As exceções, se existem, só confirmam a regra.
Não se contentam em impor padrões rasteiros no trato da informação – atividade-meio do seu existir -, tratada, no mais das vezes, como reles mercadoria ou moeda de troca para seus interesses. Não é suficiente pagar salários inomináveis para a maioria dos seus profissionais. Também não basta omitir-se nos quesitos segurança e condições de trabalho – aqui, chumbo grosso em cima da plim-plim global. Acreditam que podem bloquear consciências e achincalhar direitos. É inadmissível.
Nesse departamento, as coisas sempre podem piorar. Há coisa de seis anos, o jornal, carro-chefe da organização, demitiu o jornalista e editor-chefe, Cícero Belmar. O motivo: ele havia autorizado a publicação de matéria sobre a libertação, por fiscais do Minsitério do Trabalho, de 1.200 trabalhadores-escravos na Destilaria Gameleira, no município de Confresa, em Mato Grosso. A notícia gerou protestos públicos do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Pernambuco, e repercutiu Brasil afora – clique para ler o que publicou Carta Maior.
Detalhe: a empresa era de propriedade do empresário pernambucano Eduardo Queiroz Monteiro, também proprietário do jornal Folha de Pernambuco, concorrente da casa. A Folha é conhecida, também, como mestre em atrasar salários de seus trabalhadores, e em disseminar empecilhos nas relações trabalhador-sindicato, por exemplo.
Com a palavra os sindicatos de trabalhadores no ramo, em especial o Sindicato dos Jornalistas pernambucanos.
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Por Sistema Jornal do Commercio de Comunicação entenda-se: o jornal diário, TV e Rádio Jornal do Commércio, TV e Rádio Jornal Caruaru, Rádio JC/CBN, Rádio Jornal Petrolina, Portal JC Online, JC Mobile. Um clássico da propriedade cruzada de impacto regional.
Pertence ao grupo JCPM, do empresário João Carlos Paes Mendonça, com forte incursão no setor de administração shoppings centers. São três no Recife, inclusive o considerado o maior do Nordeste; o quarto deve ser inaugurado em 2012, e está sendo construído sobre o mangue, no Pina, Zona Sul e um na vizinha Jaboatão dos Guararapes. Há dois em Salvador/BA e dois em Aracaju/SE e um em São Paulo.E há o JCPM Trade Center, um empresarial-monstro de concreto e vidro plantado em frente a Praia do Pina, bem na entrada da comunidade de Brasília Teimosa.
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Eis a denúncia:
11/07/2011
Sistema Jornal do Commercio de Comunicação limita atuação de seus profissionais nas redes sociais
Até onde vão os limites da liberdade de expressão? E da liberdade de imprensa? Até onde vão os limites da autoridade de empresas de comunicação sobre opiniões e valores de seus funcionários? São perguntas mais do que atuais nesses tempos em que as redes sociais ganham cada vez mais espaço e repercussão. Recentemente, a BBC anunciou que pretende elaborar um contrato pare restringir os comentários de seus jornalistas no Twitter. A agência de notícias Associated Press também vem tratando do assunto, orientando seus profissionais sobre casos específicos.
No último final de semana, O Sistema Jornal do Commercio de Comunicação, sediado no Recife, deu sua contribuição para a discussão. Num email (leia aqui) enviado a todos os profissionais da corporação (não apenas ao jornalismo), o diretor superintendente do grupo, Rodolfo Tourinho, informou as novas regras de utilização das redes sociais, impondo limites à atuação dos profissionais nesses espaços e impondo regras que deverão ser atendidas “de forma absoluta”.
Algumas recomendações dizem respeito ao sigilo sobre processos internos do grupo ou mesmo sobre a não divulgação de informações que estão sendo apuradas pelo Sistema. Também está proibida a participação de profissionais da empresa em espaços de redes sociais mantidos por outras corporações. Ou seja: em tese, se um estagiário do JC, em seu tempo livre, participar de um evento contra a pedofilia, não poderá conceder entrevista a um site mantido pelo portal Terra.
Entre as normas, está a proibição de se expressar posições partidárias (que possam vir a prejudicar a independência editorial do SJCC). Alguns itens são narrados em texto aberto a diversas interpretações, como o de número 3: (é vedado )o repasse ao mercado de mídia de temas, direta e indiretamente, relacionados às atividades ligadas ao SJCC, ou qualquer outra informação e conteúdo obtidos em razão do relacionamento com o SJCC;
“Se a gente trabalha com comunicação, quase tudo é direta ou indiretamente relacionado às atividades da empresa, não é?”, desabafou um repórter. “O clima na redação está péssimo. Muita gente adquiriu o hábito de usar o twitter e o facebook, por exemplo. Outros têm blogs em que expressam suas opiniões sobre os mais diversos assuntos”, informou outra fonte deste Ombuds PE. “É mordaça, né?”, desabafou um outro, que com a decisão pretende encerrar suas atividades nas redes sociais. “E se eu fizer uma crítica a um cara que é amigo do JC? Não posso perder meu emprego?”.
A imprecisão e a margem de interpretação de algumas regras faz crer que a aplicabilidade delas está sujeita a algumas variáveis. Também suscita dúvidas que, de acordo com o email, “deverão ser encaminhadas ao departamento Jurídico”. Durante a tarde, diversos jornalistas ligados ao grupo trocaram mensagens manifestando sua insatisfação com a decisão empresarial. Quero ver quem vai ficar monitorando as redes sociais pra dedurar a galera”, alfinetou um funcionário.
“Como é que jornalista é formador de opinião se não pode nem ter sua própria opinião?”, afirmou outro, reservadamente. Num perfil do Facebook, um outro repórter postou, sem comentários em texto, imagens que representam a censura, como um rosto amordaçado ou um elefante com o rosto coberto por um lençol.
Informado sobre a mensagem, o representante do Sindicato dos Jornalistas de Pernambuco (SinjoPE) na Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) se disse surpreso com o conteúdo. “Tudo o que diz respeito à liberdade de expressão faz parte de nossa luta e de nosso interesse. A mensagem do superintendente aos profissionais do SJCC me causa uma estranhamento muito grande, até porque vai na contramão de tudo que vem sendo feito e discutido em todo o Brasil. O que queremos é que a liberdade de se comunicar seja de todas as pessoas e certamente não é dessa maneira unilateral que o assunto tem que ser tratado”, opinou. Mello conclui informando que a SinjoPE deverá reunir-se amanhã e o assunto será tratado de forma institucional pela representação profissional.
Procurado por este OmbudsPE para falar sobre o comunicado, Tourinho não estava disponível. “Ele está cheio de reuniões. Não pode falar nem cinco minutos. Não tem tempo nem para a própria equipe interna”, explicou sua secretária.
Sendo assim, se o superintendente, ou qualquer outro diretor do SJCC, desejar utilizar este espaço para esclarecer ou argumentar sobre este conteúdo – ou sobre qualquer outro – poderá entrar em contato com este OmbudsPE e terá sua expressão garantida, seja através de artigo, entrevista, vídeo o formato que preferir, com o devido destaque.
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