por Sulamita Esteliam
Vou entrar num assunto delicado, mas que nem por isso pode ser jogado para debaixo do tapete: a história, grave, da condenação por pedofilia de Nartagman Wasly, ex-membro da Executiva Municipal do PT em Belo Horizonte. E as providências tomadas pelo partido a respeito, apesar das acusações de “blindagem” que circulam, não mais à boca pequena, mas explicitamente, na blogosfera. Recebi várias mensagens, de companheiros/as de Minas a respeito nos últimos dias.
Acusado de molestar sexualmente duas crianças, suas enteadas, em 2004, Wasly foi julgado, condenado em primeira instância em 2010, apelou, teve a condenação confirmada, em maio, apesar de sempre alegar inocência. Cumpre prisão desde o dia 1º – aqui. Quem trouxe a história da omissão a público foi um ex-petista, no Twitter, dia 19. Dia 21, o PT, através da sua Secretaria Nacional da Mulher, divulgou nota de repúdio a respeito – aqui, em Vi o Mundo.
Acionados pelas mulheres do PT de Minas – aqui e aqui, a Executiva Estadual também divulgou nota, curta e objetiva, reiterando o pedido de expulsão – Clique para ler, no sítio do partido. A pergunta ululante é: e o Diretório Municipal, por que não se pronunciou diante de um caso de tal gravidade? Outra pergunta básica é: alguém perguntou?

Procurei no sítio do PT de Beagá e não encontrei uma linha. O passo seguinte foi perguntar ao presidente Roberto Carvalho, que também é vice-prefeito de Belo Horizonte. Deixei recado no Facebook, ontem à noite (anteontem), com três perguntas – no mural e no espaço reservado à mensagem privada. Eis a resposta por escrito:
“Sulamita, que alegria vê-la. Sobre o caso Nartagma, o PT municipal tão logo saiu a sentença, afastou-o de todos os cargos, e no Diretório Municipal, aprovamos o seu desligamento do Partido e de todos os direitos partidários.
Muito antes da prisão já havíamos tomado todas as medidas que o deplorável caso exigia.
Abços
Roberto Carvalho”
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Carvalho me ligou no início da noite de hoje (ontem); havia detalhes a acrescentar. Renovei as perguntas, e ele manteve a resposta: Nartagman não faz mais parte do PT, o Diretório Municipal “só não fez alarde” da decisão, por considerar “desnecessário”. A repercussão do caso está a mostrar o contrário, mas enfim:
“Só esperamos a confirmação judicial para caçar todos os direitos políticos dele no partido. Jamais poderíamos ser coniventes com uma história dessa gravidade”, sustenta.
Não se poderia esperar outra atitude. Pedofilia e estupro são crimes hediondos e odiosos.
O próprio Roberto Carvalho presidia o PT Municipal quando o caso aconteceu. Nartagman Wasly, só agora foi desligado do partido, mas, à época, foi afastado das atividades partidárias, garante.
Para ele, não se discute decisão judicial. Entretanto, diz, o caso envolve controvérsias:
“Ele (Nartagman) sempre alegou inocência. Dizia que o ex-marido de sua companheira o denunciou por ciúmes. À época, pedi a três companheiras da direção que conversassem com a mãe das crianças, e ela própria sustentava a versão dele. Tanto que, no princípio, foi testemunha da defesa; está nos autos. Depois, voltou para o ex-marido e passou à acusação”, conta.
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Até que se julgue e sentencie, a presunção da inocência é um direito de todos, assim como o direito à defesa. Tanto mais em casos como esses, que envolvem crianças, o que agrava os aspectos traumáticos, morais, afetivos e familiares – o que só complicam seu deslindamento. As questões políticas são ingredientes a mais – para o mal ou para o bem.
Note-se que não tenho procuração para defender quem quer que seja. Apenas cumpro meu dever de jornalista, de militante dos direitos humanos e de cidadã, de informar. Para fazê-lo, sigo regra elementar do Jornalismo: tentar esclarecer os fatos e ouvir o outro lado, no caso o PT de Beagá, apontado como leniente, no mínimo. Até porque, a condenação de Nartagman Wasly é sentença transitada e julgada, sem recurso, e o réu está recolhido ao lugar que a Justiça se lhe destinou.