Os povos indígenas, a degradação pela voracidade

por Sulamita Esteliam
Foto enviada por Berdadete Lage - não disponho do crédito

O 19 de abril, dia em que se celebra o índio no Brasil, não é dia de comemorar. É dia de ouvir o som melancólico da parasuy (flauta Mundukuru) em lamento pela extinção gradativa, mas não lenta, desses povos, pela degradação voraz de sua cultura, a despeito da resistência de seus herdeiros. A Nação Munduruku é símbolo desse processo, que vem de longe, e contínua, pois fruto de ganância inesgotável e das “exigências” do desenvolvimento – aqui e aqui.

Há pouco mais de um mês, recebi de Bernadete Lage, guerreira da causa do Povo Cigano – a partir de Viçosa/MG, aqui neste blogue -, matéria publicada pelo Estadão sobre a espoliação do povo Munduruku, no Vale do Rio Tapajós, no Pará, pela irlandesa Celestial Green. A empresa se apresenta como líder mundial nos créditos de carbono, às custas da nossa soberania.

Assista ao vídeo em que uma índia Munduruku ameaça o diretor da empresa estrangeira com um borduna. Aconteceu durante reunião da Câmara Municipal de Jacareacanga, este ano: “Índio não é besta. Ucê pensa que índio é besta?”

A reportagem do Estadão, assinada por Marta Salomon e publicada em 10 de março, afirma que por US$ 120 milhões, a empresa teria adquirido os direitos sobre uma área equivalente a 16 vezes o estado de São Paulo. O contrato lhe asseguraria o direito irrestrito de exploração das terras indígenas por 30 anos e o consequente controle sobre a biodiversidade.

A reserva Munduruku, demarcada em 1979, somava perto de 950 mil hectares. Abriga riquezas inestimáveis, além da biodiversidade – ouro, borracha, por exemplo – o que a torna alvo de cobiça e conflitos. O espírito guerreiro dos Munduruku não tem sido capaz de evitar as tragédias.

Tudo com o conhecimento do Estado. A matéria referenda que a Funai – Fundação Nacional do Índio registra 30 acordos desta natureza em toda a Amazônia. A própria Celestial Green – notem a ironia do nome – admite que possui mais de  16 contratos no Brasil, abragendo área de 200 mil quilômetros quadrados, ou duas vezes o território de Portugal ou quase o estado paulista, observa a repórter.

Encontrei no Youtube um documentário da TV Cultura, de áureos e saudosos tempos de TV Pública, que conta as história do Povo Munduruku, suas lutas e a aculturação que sofre desde sempre. Foi produzido na década de 80, mas permanece atual.

Está publicado em sete partes, que vocês podem ver aqui. Posto as três primeiras:

Parte 1

Parte 2

Parte 3

2 comentários

  1. Querida Sula,
    Hoje passei em frente a Estação Ferrugem, “e cadê ela?”. Não existe nem sinal mais, fiquei melancólica e bateu saudade daquele tempo sem compromisso, só nas brincadeiras divertidas e criativas do nosso tempo, tecnologia, essa, estava longe, nem imaginávamos. Mas voltando a estação, achei um absurdo a demolição, não restou nada, só as fotos do seu livro, ainda bem.

    Brasileiro tem memória curta e mesmo assim não valoriza e nem preserva o que tem de visual, começaram algumas iniciativas, mas até então muito se perdeu e a Estação Ferrugem foi uma delas, nossos netos não vão ver, uma pena!

    E DIA DO ÍNDIO? Todo dia é dia do índio, como é dos pais, das mães, dos namorados… Existe o dia para deixarmos um pouco sem culpa pela desconsideração que as vezes temos, e no dia pagamos com algumas homenagens o que deveria ser feito o ano inteiro, a vida toda.

    BEIJOS,

    Maria de Lourdes – Belo Horizonte

    1. Pois é, menina, as fotos da capa do Estação Ferrugem são o que restou da nossa estação. Incrível é que a comunidade não moveu palha para impedir a demolição, e o metrô,seis ou mais anos passados, até hoje não chegou aí, e fica todo mundo esperando a banda passar…

      O poder público,no geral, só se move sob pressão; não basta votar, tem que vigiar e cobrar.

      Compartilho, plenamente, o seu entendimento sobre “os dias de…”

      Abração.

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