por Sulamita Esteliam
Há dois anos, reproduzi aqui no blogue entrevista com a socióloga Walquíria Leão Rego, publicada originalmente no Brazilianas.org, sítio comandado pelo colega Luiz Nassif. Ela tinha acabado uma pesquisa sobre o impacto do Bolsa Família na vida das pessoas pobres dos pobres rincões brasileiros.
Lugares tais como o querido Vale do Jequitinhonha, na minha Gerais, ou o sertão do Piauí, sertão e litoral das Alagoas, ou o interior do Maranhão, ou as periferias de São Luis e do Recife … A pesquisa, em dobradinha com o filósofo italiano, Alessandro Pinzani, levou cinco anos, virou livro editado pela Unesp – Vozes do Bolsa Família -, recém-lançado, e que só agora ganha a visibilidade da mídia conservadora.
Um amigo do Facebook compartilhou com esta escriba entrevista com Walquíria publicada na terça, 22, no blogue de Roldão Arruda – Movimentos, direitos e ideias -, na seção de política do Estadão. O título vem aspeado: “Preconceito contra Bolsa Família é fruto da imensa cultura do desprezo’, diz pesquisadora”.
Assino embaixo.

Meus ouvidos estão preenhes de escutar gente, que se acha bem posta na vida, encher a boca falar do “bolsa esmola”, que alimentaria a “preguiça atávica” dos pobres, a “a malandragem inata” dos brasileiros e brasileiras do andar de baixo. A contradição é óbvia e o argumento agride o bom senso.
Não vou mentir: saio do sério, nestas circunstâncias. Meu flair play não chega a tanto.
Volto à entrevista lincada acima. À certa altura, a repórter Isabela Peron, que assina a matéria publicada por Roldão, pergunta: “A que atribui a resistência de determinados setores da sociedade ao pagamento do benefício?” E Walquíria responde:
– O Bolsa Família é um programa barato, mas como incomoda a classe média (ela ri). Esse incômodo vem do preconceito.
E a jornalista retruca: “Fala-se que acomoda os pobres.” E a socióloga responde:
– Como acomoda? O ser humano é desejante. Eles querem mais da vida, como qualquer pessoa. Quem diz isso falsifica a história. Não há acomodação alguma. Os maridos dessas mulheres normalmente estavam desempregados. Ao perguntar a um deles quando tinha sido a última vez que tinha trabalhado, ele respondeu: “Faz uns dois meses, eu colhi feijão”. Perguntei quanto ele ganhava colhendo feijão. Disse que dependia, que às vezes ganhava 20, 15, 10 reais. Fizemos as contas e vimos que ganhava menos num mês do que o Bolsa Família pagava. Por que ele tem que se sujeitar a isso, praticamente à semiescravidão? Esses estereótipos tem que ser desfeitos no Brasil, para que se tenha uma sociedade mais solidária, mais democrática. É preciso desfazer essa imensa cultura do desprezo.
Pano rápido.
O Programa Bolsa Família acaba de completar 10 anos no último domingo, 20. Lançado por Lula, em seu primeiro governo, atendia 3,6 milhões de famílias, com cerca de R$ 74 mensais, cada. Hoje são 13,8 milhões de famílias atendidas, com o valor médio de R$ 152. Significa que o benefício chega a 50 milhões de pessoas, ao custo de menos de 0,5% do PIB – que é a medida de todas as riquezas produzidas pelo país.
É um programa barato, sim. Segundo o Ipea – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, cada real investido no programa incrementa R$ 1,78 ao PIB – mais aqui.

Mas é da vida e da dignidade das pessoas que se trata, e o Bolsa Família faz a diferença – clique para ler aqui no blogue. Em uma década, o programa retirou 36 milhões de pessoas da miséria. Só em 2012, o Bolsa Família reduziu a pobreza extrema em 28%, ainda segundo o Ipea.
Fez mais, contribuiu para a redução do índice de mortalidade, pois vincula o recebimento do benefício à vacinação das crianças – clique para saber mais. E para a redução da evasão escolar, pois só recebe o Bolsa Família quem mantém os filhos na escola, e comprova a frequência- confira aqui e também aqui.
Um comentário