por Sulamita Esteliam
Todos os dias são dias de Natal, mas nessa época do ano andamos mais dispostos a nos comovermos. Algumas pessoas até se permitem ser solidárias, e há mesmo quem adicione um presépio à decoração da sala, como que a lembrar que nem só de consumo vive o homem.
Lembro-me de Gabriel Silva, um filho de português bom de relações públicas e dadivoso de coração, com quem aprendi a trabalhar em tenra idade. Ele costumava dizer que se a humanidade permanecesse embebida de espírito natalino todos os dias do ano, o mundo seria um tantinho melhor.
Busquei além-mar, via rede, um poema de Natal para não ter que chatear vocês com meus versos pobres. Posto mais abaixo.
Quem é do Recife pode unir espiritualidade e arte na cantata natalina do Baile do Menino Deus – nestas quarta, quinta e sexta-feiras, no Marco Zero, sempre a partir das 20:00 horas. A entrada é gratuita.
O enredo coloca em cena dois Mateus – personagem-palhaço da cultura pernambucana – que se juntam às crianças para encontrar e abrir a porta da casa onde nasceu o Menino Deus, e oferecer a ele um baile de celebração da vida – mais aqui.
Senhores donos da casa, Jesus, José e Maria
O Baile aqui não termina, o Baile aqui principia
Do mesmo jeito que o sol se renova a cada dia
Da mesma forma que a lua quatro vezes se recria
Do mesmo tanto que a estrela repassa a rota e nos guia
Já assisti o espetáculo, mais de uma vez, nos primeiros anos na cidade. Vale muito à pena.
No mais, que vocês tenham um Natal feliz, com harmonia, alegria, energia boa e muita saúde para celebrar junto à sua família. Que a abundância, sem desperdício, e a prosperidade necessária habitem a vida de cada um de nós.
E que assim seja.
Haja Natal
por João Coelho dos Santos
Do peru, das rabanadas.
– Não esqueças o colorau,
O azeite e o bolo-rei!
– Está bem, eu sei!
– E as garrafas de vinho?
– Já vão a caminho!
– Oh mãe, estou pr’a ver
Que prendas vou ter.
Que prendas terei?
– Não sei, não sei…
Num qualquer lado,
Esquecido, abandonado,
O Deus-Menino
Murmura baixinho:
– Então e Eu,
Toda a gente Me esqueceu?
Senta-se a família
À volta da mesa.
Não há sinal da cruz,
Nem oração ou reza.
Tilintam copos e talheres.
Crianças, homens e mulheres
Em eufórico ambiente.
Lá fora tão frio,
Cá dentro tão quente!
Algures esquecido,
Ouve-se Jesus dorido:
– Então e Eu,
Toda a gente Me esqueceu?
Rasgam-se embrulhos,
Admiram-se as prendas,
Aumentam os barulhos
Com mais oferendas.
Amontoam-se sacos e papeis
Sem regras nem leis.
E Cristo Menino
A fazer beicinho:
– Então e Eu,
Toda a gente Me esqueceu?
O sono está a chegar.
Tantos restos por mesa e chão!
Cada um vai transportar
Bem-estar no coração.
A noite vai terminar
E o Menino, quase a chorar:
– Então e Eu,
Toda a gente Me esqueceu?
Foi a festa do Meu Natal
E, do princípio ao fim,
Quem se lembrou de Mim?
Não tive tecto nem afecto!
Em tudo, tudo, eu medito
E pergunto no fechar da luz:
– Foi este o Natal de Jesus?!!!
*João Coelho dos Santos in Lágrima do Mar – 1996. Transcrito do sítio Fábulas e Contos
