por Sulamita Esteliam
Tive uma madrugada de sonhos agitados e confusos, em que eu tentava embarcar para algum lugar, não sei mais se de trem, barco ou avião, e sempre voltava para buscar algo que deixara para trás. Acordei meio zonza, e mal consegui me exercitar.
Custei a entrar em sintonia. Servi o café da manhã para minha filha, que dormira aqui em casa com a minha netinha, e só então busquei o celular, que estava carregando no aparador da sala.
E aí, no Instagram, topei com a notícia do encantamento da Carol Andrade, a cartunista Cospe Fogo, numa charge-homenagem do amigo Genin.
Como assim, tão jovem, tão luminosa, tão plugada, a disseminar sua arte, seu talento no que importa!? Confesso que chorei.
Sei que todos, todas e todes temos prazo de validade neste plano. Portanto, ninguém vai de véspera.
Todavia, é sempre difícil processar quando a morte cruza o caminho de criança ou gente jovem; particularmente quando essa pessoa colhida na flor da idade faz diferença entre os viventes. Como dói!
Carol Tinha 40 anos e, para além de carregar o mesmo nome e é do mesmo ano de minha terceira cria, poderia mesmo ser minha filha. Fico a imaginar o tamanho da dor de sua mãe, do pai, de irmãs, irmãos, se os tem, das pessoas que são parte de sua vida…
Não nos conhecemos pessoalmente. Nossa relação, se é que posso dizer assim, floresceu no Instagram, em curtidas, comentários e repliques de suas charges sempre certeiras. A penúltima, postada há 7 dias no Instagram /@carolcospefogo :
Usei e abusei do livre compartilhamento de seu humor, seta flamejante, neste A Tal Mineira, e lhe sou imensamente grata.
Ano passado, convidei-a para ir à feira literária promovida pela Casa de Jornalistas, na sede do nosso Sindicato, em Beagá; onde ela brotou e Euzinha germinei, cresci e multipliquei-me.
Fui uma das convidadas e Carol, que morava no Rio, estava na terrinha, para onde foi a trabalho e aproveitou para beber raiz, como fazemos nós autoexilades.
Ela tinha desembarcado para a abertura da coletiva sobre o Humor na Copa, realizada pelo Cartuminas na Flor do Campos, cervejaria dirigida por um casal amigo, e no Mercado Central.
Não pude chegar para a festa. Essa é uma gente que admiro pela capacidade de faz arte “em cima da perna”, como se diz no jargão das redações. Artistas que trabalham o humor no traço, como a expressão-síntese crítica do Jornalismo.
O cotidiano dessa gente é faina criativa em várias direções, trafegando pelas artes plásticas e, muitas fezes, pela arte publicitária. Carol jogava nesse time.
Não deu certo nosso encontro. Carol voltou ao menos mais uma vez, em março, para a mostra sobre os tempos sombrios do desgoverno do Coisa-ruim, Para Não esquecer. Ministrou oficinas sobre cartum, farol a iluminar mentes e corações.
Foi a despedida.
Perdi mais uma chance de lhe dar um abraço. Enfim, não era para ser. Quem sabe um dia, talvez, em outra configuração.
Vá, Carol, incendiar o astral com sua verve luminosa e seu deboche flamejante! Nós, que a admiramos, guardamos no coração sua chama sempre acesa contra qualquer tipo de opressão, preconceito, discriminação, descaso.
Obrigada.
Sim, busquei informações e soube que Carol Andrade, seu nome civil, teve um infarto, entrou em coma e não resistiu: partiu na manhã do sábado, 8; e quem deu a notícia foi o Aroeira, cartunista mineiro que a tinha como irmã.

Era diabética, e o diabetes é responsável por cardiopatia aguda em 40% dos portadores homens e metade das mulheres.
Deixo uma mostra das homenagens da companheirada de Carol Cospe Fogo que se agrega no Instagram/Cartuminas:
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Imagem abre: montagem charge + foto capturada no Linkedin/Carol (Andrade) Cospe Fogo
