por Sulamita Esteliam
Acordei dia desses com saudade de sentar-me num banco de praça e bater um papo ao vivo, pelas ondas do rádio, com a gente que faz literatura em prosa, verso, mediação e narrativa oral.
Mas não só: gente que leva a leitura às crianças de todos os quadrantes, através das bibliotecas populares, que transformam meninas e meninos de todas as idades em amantes do ouvir, escrever, contar histórias e interpretar, de recitar e fazer poesia.
O gostar de ler é um hábito que se forma desde broto que eclode de semente, que pode ter sido plantada ainda no ventre, ou mesmo que irrompeu em meio à aridez do deserto de letras e livros, pela tradição da oralidade. Basta ouvir as palavras mágicas: “Era uma vez…”
Meu despertar foi de saudade, que vicejou ainda em meio ao sono, numa viagem em busca de tempos recentes, mais do que daqueles remotos, mas que ainda não se perderam na memória.
Todo sábado bem cedo, chamava um aplicativo e ia me encontrar com a equipe do Programa Banco de Feira, que tocava literatura e cultura popular pela Rádio Guarani AM, de Camaragibe, Mais FM do Recife, Conexão Jovem FM de Olinda e Educadora da Praia de Gaibu, no Cabo de Santo Agostinho.
Na direção, o jornalista e radialista, Ruy Sarinho. Euzinha apresentava o quadro Violência Zero, que abria o programa e garantia a primeira meia hora. Depois era a vez de Zefinha Paridera e do próprio Ruy Sarinho entrarem em ação com artistas convidados.
O professor Eutrópio Édipo – o nome é este mesmo, e ele faz questão de ecoar, com direito a bordão, que não tem culpa alguma no cartório – tinha fala garantida em toda edição, além de ser meu substituto oficial. Isso quando não era chamado a cobrir a falta de algum convidado, que por motivo ou outro não comparecia ao programa; aconteceu mais de uma vez.
Por mais que a produção se esmere em amarrar todas as pontas, imprevistos são tratados como tais, e é preciso improvisar. E a produção éramos todos nós.
Vale aquela máxima de apresentador famoso de TV: “Quem sabe faz ao vivo”, e essa é a delícia da comunicação, sobretudo do rádio, cujo Dia Nacional se celebra em 25 de setembro.
No faz tudo do projeto Banco de Feira, também os jornalistas Vitor Silva e Rodrigo Lambert, e o dublê de sanfoneiro, cinegrafista, fotógrafo, editor de imagem e transportador, Daniel Bento.
Em plena pandemia, a gente se deslocava para um mercado ou praça pública, terreiro ou casa de cultura popular no Recife, em Olinda, Paulista, Abreu e Lima, Camaragibe, Jaboatão Velho, Igarassu, Itapissuma, São Lourenço… para falar de cultura e direitos humanos; com tradução em Libras em tempo real pelo amigo Célio Lopes Cadena.
Aliás, foi em meio ao rebuliço da feira, em São Lourenço da Mata, o nosso último programa ao vivo. Tivemos que inverter a ordem, porque a convidada do Violência Zero, moradora da cidade, se perdeu no trânsito.
O Banco de Feira abriu a edição, que teve Arlindo Moita, encantado neste mês – que seja luz -, como uma das atrações.
Um projeto lindo, que foi abortado por falha de gestão do planejamento proposto pelo próprio sistema estadual de cultura, aqui de Pernambuco. Confira no Instagram/programabancodefeira e no YouTube/Programa Banco de Feira
Estivemos no ar ao vivo de janeiro a agosto do ano passado. Cobrimos setembro com reprises para não deixar as emissoras na mão.
Fomos interrompidos pela falta de verba: a gestão anterior não cumpriu o rito de liberar a segunda parcela do orçamento aprovado, mesmo após a prorrogação do prazo para finalizar o projeto; em princípio, setembro de 2022, esticado para maio deste ano.
O governo atual não se mexe, apesar das sucessivas cobranças e novo pedido de prorrogação junto à Fundarpe – Fundação de Cultura/Secretaria de Cultura do Estado de Pernambuco.
E o nosso projeto é apenas um, dentre cerca de 40 de vários matizes à espera da liberação de recursos. E o tempo a ver navios encalhados já ultrapassa o de uma gestação humana. O que se ouve na rádio peão é que o dinheiro começa a ser liberado em outubro.
Como diz a minha caçula, oremos!
Você deve estar se perguntando o porquê de trazer a baila o assunto só agora. Por que a fase do jogo de cintura já se esgotou, tudo tem limite.
Na falta do microfone, melhor dia não há que o Dia do Rádio, para se lançar mão do velho e bom trombone. Boca nele, pois.
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Fotos e vídeo: Daniel Bento e Rodrigo Lambert/Banco de Feira
Postagem revista e atualizado em 26.09.2023: correção do nome do artista convidado do programa transmitido de São Lourenço da Mata: o correto é Arlindo Moita.
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