Genocídio e golpe: a pauta morde e assopra

por Sulamita Esteliam

Mudaram a pauta: o protagonismo mundial de Lula pela paz, em contraposição ao chilique de comentaristas da mídia local pelas declarações do presidente do Brasil contra o genocídio que Israel produz em Gaza, saiu do noticiário.  

A manifestação da extrema-direita na Paulista, uma das maiores, senão a maior dos últimos tempos, 185 mil pessoas, segundo critério de medição sustentável da USP, veio a calhar para roubar a cena, e mostrar a extensão das garras da extrema-direita.

Os pentecostais levam a sério a teoria do domínio. Tudo que é mentira pode ser visto como verdade: até senhoras de verde amarelo, carregando a bandeira de Israel, cantando e dançando ao ritmo de “vem, vamos embora que esperar não é saber..”, o hino , da resistência à ditadura de 64, composto por Geraldo Vandré – Para não dizer que não falei das flores.

Foi providencial. Depois que o próprio Lula partiu para cima e acusou a manipulação de seu discurso em Adis-Abeba, em cerimônia  governamental já no Brasil, a mudança de tom era obrigatória, então…

Importante assinalar que #Lulaestácerto, e o comprovam a vasta adesão de países da União Europeia e África, sem contar a disposição manifesta do representante dos Estados Unidos na reunião do G-20 no Brasil, em trabalhar pelo cessar fogo que é um verdadeiro massacre de Israel sobre a Palestina. Assine o manifesto:

A História está aí para refrescar a memória dos intrépidos coleguinhas, analistas de ocasião: em 1948, Albert Einstein também denunciou Israel por prática de genocídio em Gaza.                O físico alemão encabeça as assinaturas de vários intelectuais em carta endereçada ao New York Times,  em 04 de dezembro daquele ano. Diz na abertura – linco a íntegra ao pé da postagem:

Entre os fenômenos políticos mais perturbadores de nossos tempos está o surgimento no recém-criado Estado de Israel do “Partido da Liberdade” (Tnuat Haherut), um partido político muito parecido em sua organização, métodos, filosofia política e apelo social aos partidos nazistas e fascistas. Foi formado a partir da adesão e seguimento do antigo Irgun Zvai Leumi, uma organização terrorista, de direita e chauvinista na Palestina.

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Albert Einstein – Foto capturada no Wikipédia

A atual visita de Menachem Begin, líder deste partido, aos Estados Unidos é obviamente calculada para dar a impressão de apoio americano ao seu partido nas próximas eleições israelitas e para cimentar os laços políticos com elementos sionistas conservadores nos Estados Unidos. Vários americanos de renome nacional emprestaram seus nomes para saudar sua visita. É inconcebível que aqueles que se opõem ao fascismo em todo o mundo, se corretamente informados sobre o histórico político e as perspectivas de Begin, possam adicionar seus nomes e apoio ao movimento que ele representa.

De volta à Paulista, é claro que não se pode subestimar a manifestação convocada pelo Coisa Ruim, e terceirizada ao pastor Malafaia, no domingo 25.

Mostra que a extrema-direita tem poder de fogo, não tem pudor em usar multimeios – inclusive a coerção com as chamas do inferno –  para demonstrar força, e pretende retomar o poder ao menor cochilo.

O tom de “olha não foi bem assim…” não é humildade, arrependimento ou medo puro e simples: prepara a cama para a tentativa de emplacar o projeto de anistia aos golpistas do 8 de janeiro, para começar.

Sorte é que eles sabem como ninguém meter os pés pelas mãos, como tem mostrado o resultado as investigações da Polícia Federal. 

E na Paulista o que não faltou foi confissão de culpa a engordar o arsenal de acusações e investigados sobre a organização da tentativa frustrada de golpe de Estado no 8 de janeiro. A proposta de anistia o confirma. 

Seria muito útil a quebra do sigilo das contas do pastor Malafaia e sua igreja. O que o faz defender com tamanho fervor um sujeito que ajudou, por omissão e delinquência, a matar 700 mil pessoas?

Será a mesma motivação de seus seguidores, que defendem, em nome da fé ou seja o que for, um governo que massacra 7 mil crianças, milhares de mulheres e jovens, impõe fome, doenças e humilhação aos sobreviventes e não esconde que quer extinguir o povo palestino da face da Terra?

De qualquer forma, governo e as forças que o sustentam têm que abrir o olho e tratar de melhorar a comunicação com o povo, para começar. E afinar os argumentos políticos com seus aliados no Congresso – tinha 20 parlamentares da base do governo na manifestação da paulista.

Por enquanto, a mídia venal experimenta a síndrome da barata, morde e assopra. Contudo, já se viu, o que não falta é coalizão para tentar desestabilizar a gestão do “Sapo Barbudo”, por mais que ele se esforce para ser “Lulinha Paz e amor”.

Até um pedido de impeachment liderado por uma investigada em mais de um processo se apresentou. O que tem uma coisa a ver a denúncia feita pelo presidente contra o governo de Israel com crime de responsabilidade contra a Constituição brasileira? Pouco importa.

O colega Luís Nassif, aliás, no auge do “banzé” midiático contra a fala de Lula, chama a atenção para o cinismo transmutado em histeria:

O banzé montado em cima das declarações de Lula – invocando o Holocausto como uma maneira de radicalizar as críticas contra o genocídio de Gaza – tem o claro intuito de desestabilizar o governo.

– Não há outra explicação para esse carnaval no qual colunistas se vestem com as lantejoulas da adjetivação forte para aparecerem na passarela da mídia. Perto desse show de vaidades vazias, o BBB parece uma reality de pessoas maduras.

Por essas e outras é que em ocasiões como essas, em que prevalecem a hipocrisia e o cinismo sobre o dever de ater-se aos fatos, que me cumprimento pela decisão de não mais servir ao Jornalismo de fancaria praticado pela dita “grande mídia”. As exceções apenas confirmam a regra.

Fico por aqui. 

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Recomendo a leitura da íntegra do artigo do Nassif. Para quem se interessa em aprofundar no assunto, bom ler também Gaza e a Indústria do Holocausto, do mesmo autor, no Jornal GGN, que edita.

*A foto que abre a postagem foi daí capturada – se alguém souber os créditos é só dizer, que acrescento.

Aqui a íntegra da carta de Einstein  ao NYT, denunciando o fascismo sionista de Israel.

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Postagem revista e atualizada em 29.02.2024, às 18h40: correção de erros de digitação e inclusão de informação/análise no parágrafo que introduz o Manifesto #LulaEstáCerto.

6 comentários

      1. Eu lamento muito, especialmente por mim mesmo, enquanto não consigo conceber qualquer outro cenário não fora pessimista.
        Somente vejo uma saída no final: o fim.
        Abraço grande de um fã.

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