Com açúcar, com disputa e com afeto

por Sulamita Esteliam

Retomo de onde parei: a última quinzena de dezembro do ano passado foi de casa cheia, com a prole & cia em visita ao Recife para celebrar meu aniversário e a virada de ano. Aproveitei a oportunidade para curtir férias prolongadas, bem merecidas.

Foram dias alegres e febris. Descanso passou longe, ao menos até os primeiros dias do novo ano. Férias movimentadas, cobertas de prazeres e afazeres mil, trazendo de volta velhos e preciosos tempos, e a certeza de que ainda aguento o rojão, embora com mais vagar, e sou grata.

Visita de estreia dos gêmeos mineirinhos: Arthur e Nicolas se apossaram da casa da avó, que enfim reconheceram como deles. Também, em disputa ferrenha com a prima caçula, Agatha Luna, a recifense “privilegiada” por morar a algumas quadras da casa da vovó e do vovô.

E por conta disso, e eles dizem “só por conta disso”, há desenhos dela, às dúzias, espalhados pela casa da avó, e só um ou dois deles. E é justo que se diga, não têm a mesma dedicação da prima com o desenho.

Não, eles não me colocam na saia justa de pedir que eu decline quem dos três é melhor desenhista. São muito inteligentes esses netos: só querem o que é deles por direito.

Sempre que eu ia a Beagá, eles me perguntavam: 

– Vovó, você quer a gente na sua casa?

– Oh, meus queridos, é tudo que eu gostaria: tê-los comigo em minha casa…

– Então, por que a gente nunca foi em sua casa?

– Aí, vocês devem perguntar para seu pai, para sua mãe…

Na comemoração dos 70 anos, não foi possível. Pois a hora chegou um ano depois: o filho botou o carro na estrada, porque passagem aérea para cinco não cabe em qualquer bolso. 

Uma passadinha por Itacaré, na Bahia; outra parada em Barra de São Miguel, nas Alagoas. E de lá para o Recife, onde aportaram exatamente a 28 de dezembro, dia do meu aniversário de fato.

Presente maior impossível.

Teria sido perfeito se a filha Carol, com agenda de trabalho lotada, e a neta Larissa, que mora em Fortaleza, certamente também compromissada, pudessem ter se juntado a nós. Bárbara e Almir chegaram de São Paulo na antevéspera do reveillon.

Os pequenos e a pequena se encarregaram de preencher as lacunas: se esbaldaram na praia com o “vovô Julio”, tia, primos, com ousadia de veteranos. O irmão mais velho se amostrou nas quadras de futvôlei.

É preciso que se diga: o trio peralta conseguiu tirar a Alexa do sério… ahaha!

Sim, e teve passeio de barco pelo Capibaribe, para conhecer o Recife de dentro do rio que serpenteia a cidade, permitindo a visão por sob as pontes a ecoar o coro de vozes em cantoria, e entre as margens, iluminadas pelas luzes da decoração de Natal.

O motor chegou atrasado, e por pouco a falha não impede o desfrute do pôr do sol, uma das atrações do passeio. 

Em meio à navegação, que avança pela noite, as luzes multicoloridas do barco se apagaram, porque a bateria descarregou. Márcio, o barqueiro que já nos atendeu em outras ocasiões, ficou bravo, e ligou para o ancoradouro, e outra foi trazida por um colega, rio adentro.

Focadas em suas arengas, as crianças se encantaram com a árvore das garças, dezenas delas, chocando os ninhos no manguezal. Também se divertiram com o rodopio que Márcio produz com o barco, em grande velocidade. Até Euzinha vibrei.

Só uma coisa as decepcionou: não apareceu nenhum jacaré do papo amarelo. Mas que eles hão, hão: a última vez que um deles deu as caras foi no dia 26 de maio de 2024. E estava doente o bichão; foi resgatado por técnicos ambientais e levado num tanque para tratamento médico.

Nicolas, o mais espevitado dos gêmeos, se encarrega, todo o tempo, de cobrar igualdade de tratamento em diferentes situações: não sossegou enquanto não reproduzi com ele e o irmão, separadamente, a foto que fiz da prima, há coisa de dois-três anos, na janela do meu escritório.

A foto está num porta retrato na parede do corredor de circulação dos quartos. Há também fotos deles e do Mateus emolduradas, mas não tal e qual: “quero na janela, com a Sulinha no colo, igualzinha à da Agatha, vovó”.

Sulinha é a boneca de pano que restou, das várias que a casa já teve. Criação da prima Raquel/Bonecas Quel (no Instagram), inspirada em mim.

Foi a saideira. Viajaram  de volta e, além da saudade, deixaram-me outra tarefa: imprimir as fotos e colocá-las na moldura junto à da prima, registrar e enviar para eles conferirem.

A outra tarefa é do pai e da mãe: ajudar a cumprir a meta dos gêmeos de empatar com o irmão mais velho o número de vezes no Recife. Por enquanto o placar é 5 x 1.

despedida

Para eles é difícil entender porque  eu vivo por lá, e eles não podem fazer o mesmo na rota inversa. Talvez agora, ao menos, podem mensurar o que Euzinha queria dizer com “muito longe” quando me referia à distância entre a casa deles e a nossa.

Este ano, por exemplo, estive três vezes na Macondo de origem: em junho, para os funerais do avô deles, o pai das minhas três primeiras crias; em julho, para o encontro de 45 anos da formatura de Jornalismo e em dezembro, para o lançamento do meu livro mais recente.

Euzinha - lanç Recife
Na Livraria do Jardim, lançamento Recife – Foto: JGN

Aliás, “O Livro de Dora e suas Irmãs – de afetos, fantasias, dores e silêncios” tem me dado muitas alegrias em forma de retornos com apreciação da leitura, obrigada.

Tivemos alguns contratempos que retardaram a versão ebook, e também a disponibilização em plataformas digitais de venda, mas está acessível no site da editora Comunicação de Fato.

Está à venda também em livrarias físicas, por enquanto em Belo Horizonte e no Recife:

Quem faz questão do autógrafo, pode entrar em contato comigo, aqui pelo blogue ou através do email: sesteliam@gmail.com, que é também a chave do pix que uso para a venda do livro (detalhes na próxima postagem sobre o assunto).

Fotos: SEsteliam

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