Por Sulamita Esteliam
As relações com a mídia, a necessidade de regular para democratizar a comunicação no país, o contraponto da blogosfera. Este o foco dominante no encontro do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com os blogueiros “sujos” na manhã desta quarta-feira, em Brasília: “Não existe maior censura do que a ideia de que a imprensa não pode ser criticada”, dispara, acrescentando que “a raiva deles é eu não os leio…”.
Lula diz que depois que “desencarnar” da Presidência, vai tornar-se blogueiro e tuiteiro. E manifesta a convicção de que Dilma vai fazer o debate sobre os pontos de pauta definidos pela Confecom – Conferência Nacional da Comunicação, uma vez que o envolvimento da sociedade no processo e a correlação de forças no Congresso a favorece.
Destaco outros dois pontos na fala do presidente: ele aponta o dedo para o preconceito enraizado na sociedade brasileira “uma doença que está nas entranhas das pessoas, incurável” – contra a mulher, contra os negros, contra o pobre. “O preconceito contra a mulher é muito maior do que com o homem, mesmo operário como eu”. Em contrapartida, reintera, várias vezes, a confiança de que Dilma dará continuidade e avançará o seu projeto de Brasil.
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Lula estava no melhor dos seus humores esta manhã – dia em que vai ficar para a história da Comunicação do país: o presidente de República, pela primeira vez, concede entrevista coletiva à representantes da blogosfera. No caso, dez blogueiros “sujos” escolhidos pela comissão organizadora do I Encontro de Blogueiros Progressistas, realizado em São Paulo no final de agosto último.
Fato a lamentar: não houve mulheres, de corpo presente, dentre os entrevistadores. Segundo se disse, houve quatro convidadas, dentre elas Conceição Lemes, do Vi o Mundo. Não puderam comparecer. Conceição Oliveira, do Maria Frô, fez uma pergunta, via tuítcam (com imagem e áudio) do Blog do Planalto. Não por acaso, já que é educadora, sobre a desigualdade de oportunidades entre crianças negras e brancas, também na escola. Houve, também, perguntas de internautas, através do tuíter.
Apesar dois problemas técnicos inciais, cerca de 12oo pessoas acompanhavam a entrevista pelo Blog do Planalto, no começo. Lá pela metade da conversa, a menção #lulablogs já ocupava o primeiro lugar no tuíter internacional. Pouco antes do encerramento, cerca de duas horas do começo, já eram 7 mil internautas e tuiteiros seguindo o acontecimento.
“A gente se encontra por aí. E vamos trabalhar para o Brasil não voltar atrás”, despede-se Lula.
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Esta blogueira não foi convidada. E nem poderia, dado que é aprendiz de feiticeira na arte de blogar. Participei do encontro de agosto, exatamente, para aprender como se faz – e aí a gente descobre que o aprendizado é eterno, como na vida.
A Tal Mineira estreou em 11 de setembro, dez dias após o evento. E só hoje, perto de dois meses, depois da primeira tentativa bem-sucedida, consegui incorporar um vídeo neste sítio. É a estrela de Lula, e a minha também, fazendo das suas. Para bem do meu moral e em respeito aos leitores.
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Cobri a metade final da entrevista histórica, também via tuítcam – houve problemas na transmissão inicial. Meu dia está sendo agitado. Por isso, só há pouco assisti à primeira parte do vídeo postado acima.
Fiz uma seleção de frases, mas fico no resumo do balanço que Lula faz de seu governo:
Momento mais difícil: “O dia que eu sofri mais foi o dia do acidente da Tam em Congonhas (…) Tentaram jogar sobre o governo a morte de 200 pessoas. Nunca vi tamanha irresponsabilidade…”
O lado alegre: “Estive em Palmas, numa escola pública, onde fui homenageado por uma orquestra formada por meninos e meninas. Puseram o nome de minha mãe, Dona Lindu. Só então me dei conta de que temos 10 mil escolas em horário integral, onde mais 2 milhões de crianças aprendendo música (…)”
Lucro e distribuição de renda: “Foi preciso chegar à Presidência um torneiro mecânico, metido a socialista, para este país ser capitalista”.
Mídia x governo x blogosfera: “Daqui a 100 anos, quem buscar informação em algumas revistas não vai saber o que aconteceu em meu governo. Vai ter que ler numa revista estrangeira ou então buscar na internet. Acho que vocês têm consciência do papel que vocês jogaram nisso.”
Futuro: “A gente se encontra por aí. E vamos trabalhar para o Brasil não voltar atrás”, encerrou as duas horas de conversa, 30 minutos a mais do que o previsto.
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Vale à pena ler o que escrevem alguns dos blogueiros-entrevistadores, que já postaram suas notas e impressões:
Conceição Oliveira/Maria Frô e a foto digital com O Cara
Renato Rovai/Blog do Rovai e os bastidores da entrevista; @Glauco Faria, da Revista Fórum e a cobertura via tuíter
Rodrigo Vianna/Escrevinhador avalia o encontro
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