Natureza em movimento castiga o Nordeste

por Sulamita Esteliam
Rua dos Navegantes, paralela à beira-mar, em Boa Viagem, dia 30 de abril - Fotos microblog JC On Line/Flickr

Meu criativo e bem-humorado companheiro – em condições normais de temperatura e pressão – me envia mensagem pelo SMS, no começo da noite de ontem, a propósito de meu breve retorno à casa: “Traga galochas: o Recife está derretendo. Bjim”.

Ligo a TV, o que faço raramente, e vejo que não apenas a capital, mas a mata pernambucana e alagoana, sobretudo, mas também os arredores de Natal (RN), estão sob as águas – de novo. Há alerta para temporais até em Fortaleza – A Cidade do Sol – e é para lá que eu vou nesta quinta-feira, 05; e de lá para o Recife, no domingo, 08.

Barreiros, Água Preta, Palmares... a mata pernambucana vive as agruras das enchetes, novamente - Foto: Chico Feitosa/TV Globo NE

É o inverno que chega, apressado e caudaloso, por conta das chamadas Perturbações do Leste, que acumularam nuvens e desabam chuvas na costa brasileira. Com mais intensidade entre Salvador (BA) e Natal, a potiguar capital da “esquina das Américas”.

Segundo o Inmet -Instituto Nacional Metereológico, o volume de águas que caiu sobre o Recife, por exemplo, é o maior dos últimos 33 anos. E Recife, minha gente, está a altitude média de 4 m, sendo que há locais da capital pernambucana, dizem, que chegam a 100 m abaixo do nível do mar.

Some-se a força das consequências do aquecimento global nos oceanos, a urbanização da cidade-planície, construída em cima de mangues e ilhas fluviais, cercada de morros-falésias, que circundam sua porção oeste, de Norte a Sul; mais os 467 anos de construção cidade, o que dá a medida da idade de sua rede de esgotamento sanitário; mais a deseducação, consumista e sanitária, do povo – de lá, como daqui e dacolá, quanto à geração e acondicionamento do lixo. Pronto, como dizem os recifenses.

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A ação permanente da defesa civil municipal em morros e alagados reduz os problemas - Inaldo/PCR

Os estrago só não é maior porque o poder público, nos últimos anos, tem-se mostrado atento e tomado providências que minimizam a fúria da natureza. Embora, insisto, falte maior atenção no que se refere à campanhas educativas e à coleta seletiva e tratamento do lixo. Bem carece de empenho a recuperação ambiental e o estímulo ao plantio de árvores nas áreas urbanas, por exemplo.

A despeito dos senões, no Recife, por exemplo, não há mortos por conta de enchentes e desabamentos, nos últimos 10 anos. No interior, desta vez, há 30 cidades atingidas pela força das águas até agora e quatro cidades decretaram estado de emergência. O número de desabrigados é grande, mas vítimas fatais registradas são três, contra dezenas em 2010 e anos anteriores.

Prevenção é a palavra que não tem nada de mágica. Ainda assim, o sofrimento é grande, especialmente da população mais carente. Clique aquiaqui  e aqui para saber mais.

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Ano passado, abril, maio e junho, foram terríveis para essa região do Nordeste. Quase cinquenta cidades foram destruídas pela força das enchentes, que levaram casas, sonhos e vidas – aqui, neste blogue, postagem sobre os efeitos dessas e de outras cheias país afora. Os recaldos chegaram à Praia de Boa Viagem: pedaços de móveis, troncos de árvores, animais mortos.

O governos federais e estadual deslocaram recursos para investir na recuperação dos municípios atingidos. Segundo o secretário estadual de Recursos Hídricos, João Bosco de Almeida, ao portal PE 360 Graus, da Globo, foram investidos cerca de R$ 500 milhões no trabalho de reconstrução de casas, escolas, hospitais, estradas e na construção de barragens para domar as águas.

Só que não há agilidade que acompanhe as necessidades – humanas e naturais. Ele próprio o reconhece: há obrigações legais a cumprir – licitações, licenças ambientais e que tais. Isso é fato, o que não torna menor o drama e a responsabilidade.

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