por Sulamita Esteliam
Não costumo blogar no domingo, mas devo notícias de sexta, já que toquei no assunto. Dia 16, a presidenta Dilma Roussef escapou de boa ao encurtar sua agenda em Beagá – aqui, neste blogue. Ela participaria da inauguração do relógio-ampulheta, com oito metros de altura, da contagem regressiva da Copa 2014, nos mil dias que antecedem o evento. Houve festas em todas as capitais-sede do campeonato mundial, mas a da capital mineira, no início da noite, é a única oficial da Fifa.
Vale um parêntesis, para registro: neste domingo, Dilma desembarcou em Nova York, onde participa da 66ª Assembleia Geral da ONU, que acontece até o dia 23. Será a primeira mulher a abrir o debate – aqui, no Blog do Planalto.
De volta a Minas, era para ser uma festa pública, que aconteceria na Praça da Liberdade, em frente ao Palácio-símbolo do governo mineiro. Mas, como diria Garrincha, esqueceram de combinar com os adversários. No caso professores e trabalhadores dos Correios, em greve – os primeiros há mais de 100 dias, pelo cumprimento do piso nacional, estabelecido em lei.
Ao grupo de mestres acorrentados no canteiro central da via que circunda a praça, desde as primeiras horas da manhã, somaram-se milhares de grevistas. Em assembleia no dia anterior, na Praça da Assembleia Legistiva, eles haviam decidido pela continuidade do movimento – aqui.
O pau quebrou na praça. Houve professor e outros trabalhadores machucados, mas isso não foi notícia em nenhuma das redes de TV, pelo menos que eu conseguisse ver. A Globo estava com equipamentos para transmitir ao vivo, mas a notícia não entrou, sequer, no Jornal Nacional. No Jornal da Globo, a reportagem com passagem da repórter no ato da inauguração do relógio, passou ao largo da manifestação e do confronto com o Batalhão de Choque da PM; só fogos de artifícios ao fundo, antecedidos pelos Tambores de Minas. Entretanto, notícia e fotos da ação policial estão no portal G1 – também aqui.
Felizmente, para quem requer informação, há os alternativos. O jornal Contramão/UNA.TV registrou parte da violência policial e a “explicação” da PM. Eis os vídeos:
Reforçados por trabalhadores do Metrô e pelos movimentos sociais, os grevistas obrigaram a transferência da cerimônia para dentro das grades palacianas. Palanque e relógio foram levados para a parte lateral do palácio, para que as autoridades não corressem risco.
Precavido e sabedor da própria popularidade, o presidente da CBF e do Comitê Organizador da Copa, Ricardo Teixeira, só se juntou ao governador Antônio Anastasia (PSDB), prefeito Márcio Lacerda (PSB), ministro Orlando Silva, dos Esportes (PCdoB), dentre outros, no último minuto – “e saiu de cena, rapidamente”. Aqui, no Portal Terra.
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Não bastasse tudo, um certo vereador belohorizontino, do PTC, arranjou um jeito de aparecer na mídia: quer coibir manifestações nos limites da Av. do Contorno, o grande tabuleiro redondo sobre o qual Beagá foi traçada -, mas que acabou vazando para todos os lados e serra acima. Justificativa: “evitar transtornos” no hipercentro. Nem é preciso dizer que é inconstitucional. Aqui, no sítio do Hoje em Dia, que afirma ser o confronto da sexta a inspiração.
Quanto ao Relógio da Copa, este volta para onde deveria estar: a praça, que, como escreveu Castro Alves, “é do povo/como o céu é do condor” – ou na paráfrase frevada velosiana, “a praça…é do povo/como o céu é do avião”.
Embora, na Beagá dos últimos tempos, a coisa não tem sido bem assim… – aqui, neste blogue
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Bom, no que se refere à greve dos professores, as notícias são de que que haverá negociação com o líder do Governo no Legislativo mineiro, na manhã da terça. Está neste vídeo, também Contramão/TV.UNA:
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Seguramente, aí tem o dedinho da presidenta Dilma Roussef. O que a mídia também não noticiou é que Dilma recebeu uma comissão do Sindicato dos Professores e da CUT na base aérea da Pampulha. A missão: pedir que ela intercedesse junto ao Governo de Minas, para retomada das negociações, ao que a presidenta se comprometeu. Aqui, no sítio do SIND-UTE.
Os professores têm assembleia marcada para esta terça, às 13 horas, na Praça da Assembleia, independentemente do anunciado retorno ao diálogo. Na sexta à tarde o SIND-UTE foi notificado pela Justiça do Trabalho para retorno imediato às lides, sob pena de multas impagáveis. Todavia, não decretou a ilegalidade do movimento – aqui a nota de esclarecimento do sindicato.
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