por Sulamita Esteliam
No início da noite do sábado minha filha, Bárbara, chega em casa completamente rouca e suada, mas absolutamente feliz. Fora assistir à transmissão da partida decisiva na sede do seu time, o Sport Clube do Recife, e estava emocionada. Emoção, não apenas, porque o Leão da Ilha ascendeu à primeirona. Mas, também, por toda a catarse que vivenciou por lá. Certamente, a preparou com requintes para um fim de semana de vestibular, para Direito, na UFPE.
– Mãe, foi de arrepiar. O poder que tem um gol, a senhora não tem noção. O Sport estava perdendo, quer dizer, o empate, naquela hora, mantinha a gente na segundona. Estava muito tenso, um chuva horrível, lá, no Serra Dourada, o campo encharcado, o gol não saía… muito, muito tenso. A Jovem (torcida organizada) começou uma briga; era mesa e cadeira quebradas, e voando pra todo lado. A gente já estava saindo fora, eu a Bita (amiga) e Renato (namorado da amiga), quando foi gol do Sport. O povo parou de brigar, mãe, instantâneamente! E começou a se abraçar, e a berrar: ‘É GOL DO SPORT, É GOL, PORRA! GOOOOL….’. E a gente gritou junto, e todo mundo se abraçando… Foi muito, muito, muito emocionante!
Eu estava no supermercado na hora do gol. E a explosão de alegria uniu funcionários e clientes, aqueles rubronegros: “É GOL, PORRA! GOOOL DO SPORT…!”. E lá estava o refrão de qualquer torcedor pernambucano que se preze, repetido, sem pejo, por homens, mulheres e crianças, de todas as idades.
Na volta para casa, outro grito de guerra ecoava das janelas dos prédios classe média, dos carros, das pessoas nos bares, nas esquinas, todos paramentados de vermelho e preto: “Ôoo, o meu leão voltou/o meu leão voltou/o meu leão voltooou…!”. Misturados a toda sorte de rimas com o bicho Timbu, que simboliza o time adversário preferencial, o Naútico. O alvirubro também deixa a segunda divisão – e como vice-campeão.
A comemoração varou a noite de sábado em incessante coro de buzinas, e continuou por todo o domingo até que o sol se pôs, e a noite voltou, e a multidão, que parou o Recife e congestionou o aeroporto para receber seus heróis, levou o carro do Corpo de Bombeiros, com trio-elétrico e tudo, pela beira-mar e através da cidade até a Ilha, onde tudo continuou….
A paixão do brasileiro por futebol é antológica, mas a do pernambucano é madeira de dar em doido. Paixão assim, avassaladora, é para se respeitar e louvar, independente das cores que se veste. Vocês hão de concordar comigo.
Pernambuco não merecia ter os seus três maiores times fora da elite do futebol, e por tanto tempo, um jejum de dois anos. Sport e Náutico, agora, estão de volta.
O Santa Cruz, o Santinha, a Cobra Coral – que tem a torcida mais apaixonada do Brasil -, também voltou, agora está na terceira, depois de amargar quatro rebaixamentos seguidos. Vai ter que esperar mais dois anos. Tomara, mesmo, que os ventos continuem soprando a favor.
Não, não sou rubronegra, muito antes pelo contrário. Também não sou alvirubra nem tricolor. Meu único, incondicional e intransferível amor é pelo Galo, meu alvinegro Atlético Mineiro, uma vez até morrer – que, aliás voltou a ser forte e vingador, e a nos proporcionar muitas alegrias.