por Sulamita Esteliam
O 25 de julho celebra o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha. Mulheres-fruto da diáspora africana rumo à servidão e à desigualdade. Mulheres dupla, triplamente oprimidas: pelo gênero, pelo racismo, pela desigualdade econômica e social. As histórias de superação só confirmam a regra, infelizmente.
A opressão prevalece no terceiro milênio, e se reproduz entre as jovens negras, bafejadas pela reprodução da herança da senzala e da sociedade machista patriarcal. Estudo recente da OIT – Organização Internacional do Trabalho, divulgado semana passada, por exemplo, não deixa dúvidas sobre tais afirmações, no que se refere ao Brasil, ao menos.
A pesquisa revela que uma em cada quatro jovens negras entre 15 e 24 anos não estuda e não possui trabalho remunerado, o que representa 25,3% desta faixa da população. Dentre as mulheres jovens em geral, o índice é de 23,1%; dentre os homens jovens, 13,9% e dentre os homens negros, 18,8% – aqui, na Agência Patrícia Galvão, via Agência Brasil.
A escolha da data de celebração e luta se deu no I Encontro das Mulheres Negras da América Latina e do Caribe, realizado na República Dominicana, em 1992. E traduz a necessidade de organização e união para opor-se à perpetuação dos grilhões – saiba mais aqui.

E no Blogueiras Feministas, encontro entrevista com Conceição Evaristo, escritora negra de projeção, mineira de nascimento e criação, conterrânea de Beagá, que superou o gueto, o medo, a discriminação e o racismo, e ganhou o mundo, pela força da literatura. Data de 2010, mas é atualíssima. É dela o poema que transcrevo abaixo, selecionado dentre vários publicados pelo Amai-vos:
Eu-Mulher
Conceição Evaristo*
Uma gota de leite
me escorre entre os seios.
Uma mancha de sangue
me enfeita entre as pernas.
Meia palavra mordida
me foge da boca.
Vagos desejos insinuam esperanças.
Eu-mulher em rios vermelhos
inaugura a vida.
Em baixa voz
violento os tímpanos do mundo.
Antevejo
Antecipo
Antes-vivo
Antes-agora-o que há de vir.
Eu fêmea matriz
Eu força motriz
Eu-mulher
abrigo da semente
moto-continuo
do mundo.
No blogue da Releitura – Bibliotecas Comunitárias em Rede tem mais poesia de Conceição Evaristo.
*CONCEIÇÃO EVARISTO nasceu em Belo Horizonte/MG em 1946 e reside no Rio de Janeiro desde 1973. Formou-se em Letras (Português-Literaturas) pela UFRJ. É Mestre em Literatura Brasileira pela PUC/RJ e doutora em Literatura Comparada pela UFRJ.
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Revista e atualizada às 23:37 do dia 26.07.2012
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