por Sulamita Esteliam

Sempre admirei o trabalho dos Doutores da Alegria. Mas jamais imaginei que teria uma pessoa tão próxima, afetivamente, integrando a trupe*. Mais, uma moça que conheci menina, e tive o privilégio de ver crescer e, como amiga da família, compartilhar suas vitórias. Pedi a Laurinha que me enviasse fotos e escrevesse um texto sobre a experiência para eu postar no blogue. Ela topou na hora, e o que chegou deixou-me, vivamente, emocionada. Você, também, certamente não escapará.
Médica? Talvez. Mas palhaça, com certeza!
por Laura Oliveira – Especial para o A Tal Mineira
Olá,
Pra quem não sabe ainda eu sou Laura, 18 anos, estudo medicina na UPE, que é vizinha do cemitério Santo Amaro (mas isso não quer dizer muita coisa). Entrei no início do ano na faculdade e, pouco tempo depois, surgiu umas histórias de um Projeto chamado Palhaçoterapia. Eu, com a minha formação midiática, liguei logo aos Doutores da Alegria e me animei total a participar; tudo que eu queria. Depois de entrar no Projeto, descobri que não fazia ideia de como é o “Doutores da Alegria”. Então, não tenho nem como comparar!
Nunca pensei que desse tanto trabalho ser palhaço! Foi um processo delicioso, e bem comprido, com direito a carta de intenção, entrevista, vivência e oficina de clown. O mais engraçado é que em épocas de oficina, nós, participantes, não conseguíamos falar de outra coisa… Essa história de virar palhaço mexe muito com a gente.
Aprendemos a aceitar nossos defeitos como possíveis qualidades, aprendemos que o nosso companheiro é o melhor do mundo, que o erro pode ser mais legal que o acerto, que o importante não é o resultado e não o caminho, e muitas outras coisas que se eu fosse falar, não seria um texto e sim um livro!
Como é um processo bem comprido, vou logo pra parte da história em que eu virei mesmo palhaça. Participo do grupo que frequenta o PROCAPE (Pronto Socorro Cardiológico Universitário de Pernambuco Prof. Luiz Tavares – vizinho do campus) e o Hospital Infantil Maria Lucinda (vizinho do parque da Jaqueira).

Não tenho palavras pra explicar o sentimento do primeiro dia de atuação no hospital. Era uma mistura de medo de não saber o que fazer com ansiedade de estar lá, com curiosidade de como seria, receio de não gostarem da minha querida palhaça Zeza Maeza… Imaginei: temos de estar em branco, como uma folha de papel, esperando as novas cores que vão aparecer durante a atuação, mas… E se não pintarem nada nessa minha folha e ficar tudo branco mesmo? Era uma sensação muito angustiante. Mas mesmo assim, juntei energia, coloquei meu nariz vermelho, ou melhor, o nariz vermelho de Zeza, e fui. E corri pro abraço. Acho que, quase, literalmente porque ganhei vários abraços! Na minha primeira atuação eu descobri minha vocação. Médica? Talvez. Mas palhaça, com certeza!

A maioria das pessoas nos recebe bem, até espera pela nossa visita, nos chama para ir lhes visitar. Algumas estão desanimadas, e a gente chega com um jogo irresistível, elas entram com tudo e esquecem de que estão no hospital, pelo menos por alguns segundos. Acho que essa é a maior função de um palhaço que atua em hospitais, fazer com que aquela pessoa esqueça enquanto você está lá de que está num hospital, sente dores e faz exames horrorosos. Seja transportada para um universo paralelo onde qualquer coisa pode acontecer.
Não sei bem mais o que falar dessa experiência, porque ela é tão subjetiva. É como dizemos: o palhaço é a melhor parte da gente mesmo. E ir para os hospitais é levar nossa melhor parte para encontrar a melhor parte dos outros. A parte gente boa, a parte animada e divertida, a parte que não sente dores e que nem liga onde está, a parte que sonha e imagina mundos mágicos dentro da enfermaria. E todo esse encontro se dá com os olhos, os olhares. Dizem que os olhos são as janelas da alma; e também que um palhaço reconhece outro pelo olhar. Olhos brilhantes; brilha o olhar! Nos fala nosso “professor” de palhaço. Tudo isso pra ser um palhaço melhor, que nunca está pronto porque palhaço pronto é palhaço morto.
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* O entusiasmo desta reles blogueira acabou provocando constrangimentos. Na verdade, como lembra o internauta Rivaldo Farias, em comentário nesta postagem, Laurinha não integra a trupe Doutores da Alegria, que na verdade é uma ONG que trabalha há 21 anos levando aos hospitais a terapia pelo humor. Laurinha é, sim, uma palhaçoterapeuta – “São coisas diferentes”, segundo ele.
Conferi com nossa personagem, que confirma. Então, aí está a observação. Não obstante, mantive o termo no título, agora em minúsculas e devidamente aspeado, para contemplar as conveniências dos fatos. Todavia, para mim, Laurinha – e todos os que praticam a arte de levar alegria a quem sofre – vai continuar sendo uma doutora da alegria.

Adorei!Lindo de viver!Com certeza Laura com apenas 18 anos é mais feliz hoje do que foi ontem. Ela é o broto que floriu e fez a diferença com Zeza Maeza.Parabéns!
Obs: Ela não é uma doutora da alegria, ela é uma Palhaçoterapeuta. São coisas diferentes.
Doutora da alegria ou Palhaço terapeuta são apenas detalhes de interpretação o que importa e o efeito, o benefício que ambos podem realizar na vida de pessoas debilitadas, carentes de afeto e consolo em horas tão difíceis como a doença e ambiente hospitalar. Isto se chama compaixão, solidariedade, amor ao próximo.
Rivaldo, seu palhaçoterapeuta bruto! xD Não precisa ser tão indelicado né? ;D
Obrigada Sula, pelo espaço no seu blog! E sempre que precisar pra contar do projeto, pode chamar, porque não há nada melhor do que falar da minha vida de palhaça! A Zeza adora essa divulgação, rsrsrs.
O espaço é seu Laurinha. Mande que eu publico. Estamos aí para contribuir. Agradeço a sua disposição e delicadeza. Xêro.