
por Sulamita Esteliam
Faltava o Abílio Diniz, outro grande empresário nacional. O ex-todo-poderoso do grupo Pão de Açúcar, ora presidente da BRF ou Brasil Foods (Sadia+Perdigão), a 7ª maior empresa de alimentos do mundo a juntar sua voz ao coro dos responsáveis: “A hora é de superar a crise através da união dos brasileiros”.
Primeiro foi Luiz Traubuco, presidente do Bradesco. Seguiu-se Luiz Ometto Filho, da Cosan. Depois Roberto Setúbal, do Itaú-Unibanco- “os empresários que contam”, escreve o colega Luis Nassif no Jornal GGN, referindo-se aos três.
Estes, falaram em entrevista à Folha SP, ao longo deste agosto, e se manifestaram contra as manobras pelo impeachment, desfraldando a bandeira da legalidade. Já Diniz fez palestra em congresso sobre gerenciamento de crise para empresários do setor de v arejo, em São Paulo, reportado pelo Brasil 247.
“A crise é, fundamentalmente, política, mais do que econômica. Se tivermos tranquilidade política a crise se resolve”, disse o empresário. E, corroborando o que vem alertando a presidenta Dilma desde o início do segundo mandato, lembrou que a crise é mundial. Nem a China escapou. “A China levou um tranco, e isso afeta o mundo inteiro”, pontuou.
Só os obtusos e as viúvas da ditadura não enxergam.
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Pausa para memória.
Quem tinha menos de 15 anos em 1989, não sabe, relembremos, pois: Abílio Diniz foi sequestrado em 1989, na primeira diretas para presidente pós-ditadura. O sequestro foi atribuído ao PT, e assim amplamente divulgado pela mídia venal, o que ajudou a levar a eleição para o segundo turno.
Collor acabou ganhando de Lula, com a providencial ajuda da TV Globo, que manipulou o debate em prejuízo do candidato petista. Anos mais tarde, a emissora o admitiria, oficialmente.
Passada a eleição, os sequestradores também confessariam que foram torturados pela polícia civil paulista, chefiada pelo delegado Fleury, bastião dos porões da ditadura. Ele os obrigadou a vestir a camisa do PT antes de serem apresentados à imprensa.
Em 2010 o sítio jornalístico Brasil Atual recuperou a história.
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Apontar a crise como “política”, equivale a dizer que a instabilidade não favorece a economia. E se o quanto pior melhor é ruim para o capital, servirá a quem trabalha?
É claro que os banqueiros e os empresários desfiam em causa própria. Bancos lucram sempre, e o lucro é a atividade-fim do capital em qualquer setor. No caso dos bancos, se favorecem da política dos juros altos, que trabalha contra a corrente da produção.
Quando não, se locupletam com o socorro do dinheiro público. O que foi o Proer do FHC senão uma espécie de “cesta básica dos banqueiros“? Mundo afora é assim que acontece.

A defesa da legalidade democrática – ou como quer Nassif, “a percepção da democracia como valor maior” é indispensável, e bem-vinda, contudo.
O que está por trás disso? Um fato: nunca o setor empresarial lucrou tanto. Uma probabilidade, já referida aqui neste blogue: tornar o governo refém do chamado à estabilidade, e manter o curso das políticas que se lhes interessam.
A agenda positiva do presidente do Senado, com o aval do ministro Joaquim Levy, pescado na diretoria do Bradesco, vai nesse diapasão.
Ou, como sugere Mino Carta em editorial de Carta Capital, há duas semana: “Se o golpe não convém, ressuscite-se a conciliação, a fênix nativa”. A sinalizar “que a casa-grande e a senzala continuam de pé”.
Fernando Brito, no Tijolaço, também questiona o chororô empresarial bandido para justificar fechamento de postos de trabalho e pressão pela redução de impostos: “Na crise, uns comem pato. E os patos pagam o pato“.
Reporta à matéria do Valor sobre pesquisa da consultoria Economática sobre o lucro acumulado de 321 empresas brasileiras no primeiro semestre, em setores variados: bancos, mineradoras, alimentos e bebidas, energia elétrica, telecomunicações, seguradoras, papel e celulose, indústria química.
A taxa de crescimento sobre igual período do ano passado é de 15%. É a crise.
Enquanto isso, no campo político, a batalha de Itararé do impitima, tudo indica, foi chocar no telhado. Nesta terça, sofreu mais dois revezes:
1) a oposição golpista ouviu “a voz da razão” e decidiu “aguardar o momento adequado” para decidir sobre o pedido. De repente, descobriu que impedimento “requer condições jurídicas e políticas”. Palavra do Mendonça Filho, líder do DEM na Câmara, relata o Conversa Afiada.
2) Em depoimento na CPI da Petrobras, o doleiro Alberto Youssef confirmou que Aécio Neves recebeu dinheiro de corrupção em Furnas.
E agora, como fica o patético-mor?
Esta semana. o colunista Ricardo Melo, da Folha escreveu que “os três patéticos” atuam com o “protagonistas de uma causa falida: o 1º Neto, “seu ajudante de ordem”, Gilmar Mendes, e o ainda presidente da Câmara, Eduardo Cunha, alvejado na Lava-jato. Todos “golpistas declarados”.
O comentário do Bob Fernandez, na TV Gazeta, nesta segunda, vai no mesmo sentido, e avança sobre o moralismo de fachada: “A corrupção que enfurece é a do PT. A dos demais, secular, já está no DNA”.
A Tal Mineira fecha com o vídeo, capturado no Youtube:
E vamos que vamos…