por Sulamita Esteliam
Perdi-me na marcação; tem acontecido com frequência. Não me preocupo, tenho tempo de sobra para me achar, ou perder-me de vez.
Enquanto isso, flano entre a obrigação e a devoção: cuidar de mim, sem perder o afeto que não se encerra, ainda que titubeie em interpretações difusas por aí; e manter o olhar interior e ao redor, que é donde emana o poder da criação.
No vai dessa valsa escorregadia, recorro à escritora Ana Karla Dubiella, uma de minhas irmãs por escolha, para cumprir tardia homenagem deste A Tal Mineira: à inigualável Marina Colsanti, encantada há dois dias.
Leia o texto abaixo e você entende o porquê:
Elegantérrima escritora
por Ana Karla Dubiella – em seu perfil no Instagram
Eu a conheci quando fui entrevistar o Affonso Romano de Sant’Anna, seu amado, para minha primeira pesquisa literária sobre a crônica, no Mauc/UFC., em 2005, por aí. Depois eu e Affonso não nos separamos mais e fui algumas vezes ao apartamento do casal, na Nascimento Silva. Por coincidência, bem vizinho ao apartamento da @livia.m.rodrigues. 35, onde sempre me hospedo no Rio.
Affonso assinou o prefácio do meu primeiro livro. Escreveu uma crônica em que citou meu trabalho e publicou em diversos jornais. Enviava pra mim vários mimos, como uma camiseta do centenário de Rubem Braga e um cd com histórias do seu amor por Marina.
Na Bienal da Crônica, em Cachoeiro de Itapemirim, um repórter queria uma entrevista ao vivo sobre o seu amigo Rubem Braga e ele se esquivou dizendo: vc deve entrevistar essa minha amiga, é ela a maior especialista em Rubem Braga, não eu. Tive de dar a entrevista.
A última vez que vi o casal, na casa deles, tomando um chá e conversando sobre livros, foi em 2017, logo depois do lançamento de As cidades de Rubem Braga e W. Benjamim, na livraria Travessa de Botafogo. Depois conto essa história.
Ainda uma vez entrei em contato com Marina, em 2020, para que autorizasse a publicação de uma crônica de Affonso no meu PANDEMÔNIO, uma promessa que eu havia feito a ele. Marina, claro, foi um amor. Só me pediu para escolher o texto, pois estava muito atarefada.
Com sua partida inesperada, só digo duas coisas: a literatura perde uma grande escritora. E o Rio, sobretudo na rua Nascimento Silva, jamais será o mesmo.
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Também tive o imensurável prazer do contato pessoal com Marina Colasanti e seu companheiro Affonso Romano de Sant’Anna. Ele é conterrâneo das Minas Gerais, que se radicou no Rio de Janeiro, como a maioria dos jornalistas-escritores mineiros de sua geração.
Foi em fins de março de 2013, durante a Lercon, um Congresso de Literatura e Contação de Histórias, no Centro de Convenções Olinda-Recife. O casal era um dos convidados para a abertura.
Euzinha cobria pela Releitura – Rede de Bibliotecas Comunitárias de Pernambuco, que assessorei por dois anos. Topei com os dois flanando pelos estandes das bibliotecas comunitárias que participavam da feira de livros e contação de histórias.
Abordei Affonso, me apresentei como egressa da terrinha, jornalista, então com um livro publicado. Muito simpático ele me apresentou sua companheira: “Esta é Marina…” , no que complementei: “Colasanti, exímia contista. O bom é que a concorrência familiar é estimulante”.
Riram, rimos juntos.
Tivemos uma ligeira conversa sobre Literatura e o incentivo à bliblioteca e à leitura. Depois cada qual foi cumprir seu papel no evento. Inesquecível.
Dez anos depois, inclui contos de Marina em uma Leitura Literária de autoras no meu canal no Youtube, que aliás precisa ser retomado. Está reproduzido aqui no blogue.
Marina Colasanti tem mais de 70 obras publicadas. Em 2024 foi eleita Personalidade Literária do Ano pela CBL – Câmara Brasileira do Livro e foi a homenageada do Prêmio Jabuti.
A foto que abre esta postagem foi capturada em seu perfil no Instagram exatamente com a notícia publicada pela Agência Riff.

Perda muito grande!
Especialmente em mim, profissionalmente, teve muito impacto e influência.