Sindicalismo pelo avesso

por Sulamita Esteliam
Humor sem censura - do blogue Solidariedade Socialista

Jairo Barbosa da Silva, um dos parceiros desta hoje reles blogueira, ao longo de 12 anos de jornada – de 1998 ao início de 2010 -, acaba de somar-se ao time de desempregados sindicais. Há exatas duas semanas. Diagramador, com registro no Ministério do Trabalho, e dirigente do Sindicato dos Jornalistas de Pernambuco, presidiu o Sintespe – Sindicato dos Trabalhadores em Sindicatos por duas gestões. Deste último foi, também, delegado sindical, até o ano passado. Na quarta-feira, 09 de fevereiro, o Sindicato dos Bancários de Pernambuco o demitiu – após 22 anos de serviços prestados.

Imunidade e estabilidade sindical, tão cara a sindicatos e sindicalistas, foram desconsideradas. Da mesma forma, a tão decantada liberdade e autonomia sindical. As três entidades envolvidas no caso são filiadas à CUT – Central Única dos Trabalhadores.

As tentativas de reverter a demissão, por via negocial, se revelaram infrutíferas.  Entraram na dança os sindicatos, assessoria jurídica, central sindical e políticos do mesmo campo – que se autodenomina de esquerda. A liberação para o exercício do mandato sindical também foi negado. Os argumentos do desgate político para o sindicato, com história de vanguarda no movimento cutista, e dos riscos abertos pelo precedente para todo o mundo representativo dos trabalhadores foi escamoteado.

Posição que faz juz a velho ditado: “Palavra de rei não volta atrás” – no caso, de rainha, pois o Sindicato dos Bancário de Pernambuco é presidido por uma mulher, Jaqueline Mello, desde novembro de 2009. As mulheres estão em outros cargos-chave na Executiva.

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O caráter irrevogável da demissão foi reiterado em comunicado, por escrito, à entidade que rege os jornalistas pernambucanos, na terça, 22. Mera formalidade. Antes, dia 17, fim do prazo legal, o Sintespe frustrou a tentativa de homologação: pelo fato de que “o senhor Jairo Barbosa da Silva é portador de estabilidade no emprego” (ao lado).

Ao Sindicato dos Jornalistas não foi levada a homologação da dispensa. Até porque, direção para direção, já se havia afirmado que “o Sindicato dos Bancários não reconhece o mandato de Jairo. Nossas relações sempre se deram via Sintespe”.  O voto da categoria jornalista, ao que parece, tem pouco ou nenhum valor.

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Resta, pois, o caminho jurídico.

E esta é uma das ações que o Sindicato dos Jornalistas de Pernambuco está encaminhando, no momento. Cautelosa, a direção – que também tem uma mulher na presidência, Ana Cláudia Eloy – evita declarações a respeito. Antes, quer oficializar, por escrito, o ocorrido à CUT, regional e nacional, o que vai ser feito esta semana. A Fenaj – Federação Nacional do Jornalistas, que reúne a diretoria, no próximo fim de semana, em São Paulo, também será notificada.

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Este blogue tentou falar com o presidente da CUT PE, Sérgio Goiana, por telefone, ontem e hoje. Deixou recado na secretária, mas não houve retorno.

O assunto, entretanto, foi tema de reunião da direção regional, semana passada. Pautada pelo secretário de Políticas Sociais da CUT Nacional, Expedito Solaney, que considera o episódio “precedente perigoso e inaceitável”. Disse entretanto, que a CUT “não pode interferir na autonomia dos sindicatos filiados”.

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Nesta tarde, a tentativa de contato com a presidenta do Sindicato dos Bancários, Jaqueline Mello, resultou em nada.

Entretanto, após alguma insistência e recados, houve retorno da Assessoria de Comunicação da entidade, por telefone. A presidenta está viajando, mas “conversaria com a direção a respeito”. Combinamos o envio de três perguntas para explicitar a posição oficial da entidade sobre o caso Jairo Barbosa. Ei-las:

1) Quais as razões da demissão do funcionário?
2) O referido funcionário é portador de imunidade e estabilidade sindical por duas entidades: diretor do Sindicato dos Jornalistas e em gozo de estabilidade pós-mandato de delegado sindical do Sintespe. A lei não veda demissões em casos como esses?
3) Do ponto de vista político, não é uma contradição, em se tratando de sindicatos de trabalhadores?
A resposta chegou em cerca de hora e meia, também via correio eletrônico. Transcrevo:
“Conversei com a direção do Sindicato e o pessoal disse que não tem interesse em responder as questões.
Atenciosamente,
Fábio Jammal”
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Ao colega demitido e aos mediadores, a direção dos Bancários informou, primeiro, que “razões políticas” sustentariam a demissão.  Depois passaram a alegar “motivos profissionais”. Depois de 22 anos de trabalho?

“Disseram que eu apoiei  a Chapa 1, e que não reconhecem meu mandato de diretor do Sindicato dos Jornalistas, porque sempre fui regido pelo Sintespe. Depois, disseram, também, que eu me recusei a trabalhar à tarde, horário de maior demanda de serviço, mas essa proposta nunca me foi feita”, afirma Jairo Barbosa.

Ao que tudo indica, Jairo cometeu o pecado de opinião.

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Resumo da ópera: houve eleição para renovação da diretoria, no final de 2009. A direção anterior rachou em três. E Jairo apoiou a chapa encabeçada pelo então presidente da entidade, Marlos Guedes, candidato à reeleição – ele e 90% dos funcionários da casa, explicita ou implicitamente. A eleição foi ganha por um dos braços da gestão anterior, com diferença de dois votos. Suscitou recontagem, batalhas judiciais, caça às bruxas e o embróglio, como se vê, permanece.

Esta reles blogueira teve o privilégio de inaugurar a guilhotina. Depois de uma tentativa, em janeiro, ganhou “a serventia da casa” em abril de 2010. Apesar de ser portadora de LER/DORT – Lesão por Esforço Repetivo/Doenças Osteomusculares Relacionadas ao Trabalho; com laudo de inaptidão e atestado da perícia médica do INSS – a tal da estabilidade acidentária, por um ano. Aguardamos sentença judicial.

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Em tempo:  A última audiência na ação trabalhista que movo contra o Sindicato dos Bancários aconteceu dia 07 de fevereiro. Jairo estava arrolado entre minhas três testemunhas – ao lado de outro ex-colega de trabalho e da ex-diretora de Comunicação. O depoimento de minha ex-chefe imediata foi o bastante. O que dispensou a ouvida dos dois jornalistas. Eles aceitaram a carona de retorno que lhes foi oferecida pelos diretores presentes. Dois dias depois, Jairo foi demitido.

6 comentários

  1. A CUT “não pode interferir na autonomia dos sindicatos filiados”? Boa notícia, porque até então intrfere em tudo e principalmente nas formação de chapas que concorrem às eleições de renovação de diretorias.

  2. A CUT “não pode interferir na autonomia dos sindicatos filiados”? Boa notícia, porque até então interfere em tudo e, principalmente, na formação de chapas que concorrem às eleições de renovação de diretorias.

  3. Infelizmente são várias as contradições das ações atual diretoria do Sindicato dos Bancários de Pernambuco.
    Não sei com qual moral uma diretoria que não respeita direitos dos seus empregados terá para defender a categoria que representa diante de seus patrões.
    A resposta do sindicato, ao ser questionada pela Jornalista Sulamita sobre a demissão de Jairo Barbosa, revela claramente a essência da formação democrática dos tais diretores:
    “Conversei com a direção do Sindicato e o pessoal disse que não tem interesse em responder as questões.
    Atenciosamente,
    Fábio Jammal”

    Belos representantes de uma Categoria. Não tem como justificar ou argumentar seus atos.
    Adauto Beserra
    Representado por eles.

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