por Sulamita Esteliam

Não tem jeito, é da minha natureza. Volto a falar de política partidária-eleitoral. Faço-o para não passar batida das revoluções em minha(s) Macondo(s). Primeiro, quero aplaudir o exemplo de coerência e maturidade política de Roberto Carvalho, presidente do PT mineiro, e vice-prefeito da minha cidade-natal. Atitude de gente grande acatar, e apoiar, a decisão da Executiva Nacional do partido de indicar o ex-ministro do Desenvolvimento Social do governo Lula, Patrus Ananias, candidato à Prefeitura de Belo Horizonte. Mostra que, ao romper com o alcaide Márcio Lacerda (PSDB), e fincar pé pela candidatura própria do Partido dos Trabalhadores, não estava defendendo o umbigo, mas a saúde da agremiação.
Há tempos, Carvalho vinha alertando para o risco do casamento do PT com o PSB do atual prefeito, apadrinhado pelo PSDB do ex-governador Aécio Neves; fruto de um surto malabaristico do ex-prefeito e atual ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior do governo Dilma, Fernando Pimentel. Carvalho sempre considerou o enlace “uma aliança suicida”. E com razão, nada mais esdrúxulo.
(Não gosto de parênteses, mas cedo às evidências: ainda ontem, no Pátio de São Pedro, eu e meu companheiro, a propósito das decisões em BH e no Recife, nos lembramos de uma conversa há menos de dois anos, ali mesmo numa mesa do Buraco do Sargento. Desavisados, vimos frustrado nosso esforço militante de uma caminhada, que não houve, da campanha majoritária para o governo pernambucano, encabeçada por Eduardo Campos-PSB, com apoio do PT. Para não perder a viagem, rumamos para o Pátio e lá encontramos outros desalentados. Um deles, que não conhecíamos, ao identificar nossos paramentos, puxou conversa e decretou: “Se o PT não tomar cuidado, vai ser engolido por esse fiote de Arraes…”)
Foi preciso que o PSB desse uma rasteira no PT para que o partido, finalmente acordasse: em Beagá, negando-se à coligação proporcional; no Recife, lançando candidatura própria na corrida para a prefeitura.
Em Belo Horizonte o diretório municipal decidiu pela candidatura própria, no último fim de semana, mas sem indicar nomes. Roberto Carvalho registrou seu pedido de candidatura no TRE-MG, mas agora a retira “em nome da unidade”. Em suas palavras, “não importa o cargo, importa o projeto e a causa” – aqui e aqui.
Patrus, campeão de votos para a Câmara Federal em 2002, com 520 mil votos, foi o primeiro prefeito do PT em Beagá, em 1992. Deixou o governo com 85% de aprovação, e fez seu sucessor o vice: o médico conhecido como “Dr. BH”, Célio de Castro, então no PSB, de Miguel Arraes, avô do governador de Pernambuco e atual presidente do partido, Eduardo Campos.
O saudoso “Ti Célio” seria reeleito em 2000, e se transferiria para o PT em 2001, depois de ficar breve tempo sem partido. Manteve como vice Fernando Pimentel, que terminaria seu mandato – depois que um AVC o vitimou, no final de 2001. Pimentel foi eleito, em 2005, e novamente em 2008, com o PV na vice.
Aí, com 90% de aprovação do mandato, foi picado pela mosca azul e amarela tucana, e reeditou a dobradinha com o PSB. Deu no que deu.
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Enquanto isso, no Recife, minha cidade-adotiva, a bomba política do dia é a saída do agora ex-deputado federal Maurício Rands do PT. Em carta aberta, datada do dia 03 de julho, mas somente divulgada hoje, anuncia também a saída do governo Eduardo Campos, onde ocupava a Secretaria de Governo, e da vida política – “para exercício pleno da cidadania”. Mas, de pronto, anuncia o apoio ao candidato do governador e do PSB à Prefeitura do Recife.
Esquisito é pouco.
Quanto mais que é este mesmo Maurício Rands que, líder na Câmara dos Deputados, em 2005, cumpriu com honradez a tarefa de defender o governo Lula dos ataques golpistas durante a crise política provocada pelo chamado “mensalão”. Aliás, diga-se, que até hoje não restou provado, e cujo julgamento no STF deve ocorrer agora em agosto, na antevéspera das eleições municipais. Coincidência!?
Pois bem. Preterido na tumultuada prévia do partido, Maurício Rands acusou o adversário João da Costa, atual prefeito, de “fraude”, e também foi acusado da prática. O que provocaria a malfadada cunha da direção nacional, que também o preteriu, indicando o senador Humberto Costa, da mesma corrente de Rands – aqui no blogue.
Maurício Rands, aparentemente, acatou a decisão, e se recolheu – segundo ele, para refletir – aqui. No Twitter, Humberto Costa registra: “Causa surpresa a decisão do deputado Maurício Rands, que tomei conhecimento pela imprensa, de renunciar ao mandato e deixar o #PT”. Segundo o candidato petista, “no processo de definição da candidatura, Rands nunca havia mostrado desconforto com as decisões partidárias”.
Não combina com Rands posar de “menino buchudo” (mimado, birrento, donzelo), como se diz por aqui. Mas, ao que parece, a indicação do ex-prefeito João Paulo para vice de Humberto foi a gota d’água para o orgulho-Rands – como foi para Erundina, a foto de Lula-Haddad com Maluf – aqui. Pronto, falei.
Ainda que o desfecho do imbróglio tenha se dado a reboque da decisão do governador Eduardo Campos em o PSB lançar candidato próprio: um excelentíssimo desconhecido do mundo político, de nome Geraldo Júlio, até então secretário de Desenvolvimento Econômico de seu governo.
De lambuja, Campos levou o PCdoB, tradicional aliado petista, para a vice e arrebanhou boa parte dos partidos que estão em seu governo, e até então aliados do PT, para a coligação-base da candidatura. Não contente, trouxe também o PMDB de Jarbas Vasconcelos, a quem sucedeu no comando do Estado.
Note-se que, adversário ferrenho do PT, Jarbas é o homem que impôs humilhante derrota ao padrinho político do governador, o avô Arraes – em 1998.
Não obstante, a cartada do neto de Miguel Arraes, que segundo a crônica local não engolia o prefeito João da Costa – e o teria rifado junto ao PT em troca do apoio à candidatura de Fernando Haddad à Prefeitura de São Paulo – provocou os brios do PT pernambucano. No último sábado, enquanto o PSB oficializava seu candidato, o PT anunciava chapa puro-sangue, com o ex-prefeito e deputado federal, João Paulo Lima e Silva, como vice de Humberto.

João Paulo governou o Recife de 2000 a 2008, e deixou o mandato com 88% de aprovação popular. Fez sucessor o secretário do Orçamento Participativo, encarando a corrente majoritária e direção do PT no Estado, que se alinhava com a pretensão, justamente, de Maurício Rands à indicação para disputar o cargo. Um acordo interno – não se sabe em que bases – levou Rands a se retirar em favor de Costa que, eleito, acabou por renegar seu criador.
Rompidos, eis que agora João Paulo ressurge das brumas para reforçar a tropa que antes enfrentou. Há quem diga que o acordo prevê a saída de Humberto para disputar o Governo do Estado, sonho tentado e inatingido, o que faria de João Paulo titular da prefeitura em dois anos, caso a estratégia logre êxito. Todavia, quem conhece João Paulo sabe que o Palácio Campo das Princesas é a meta do ex-prefeito da capital.
A conferir, nas voltas que a política dá.

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