
por Sulamita Esteliam
Não vou mentir. Bateu uma inveja boa do povo na rua, na tarde de hoje. Tentei deixar a manhã livre para participar da manifestação no Recife, e acordei cedo o bastante para tal, com deliberada intenção. Não se viabilizou.
Ando às voltas com preparativos de mudança residencial, de novo e novamente. Rotina de quem vive de aluguel, e não quer pagar o preço da ganância do senhorio, que desperta a cada vencimento de contrato.
Já no café da manhã me apareceu um contato, que não pude dispensar. Reabrimos a vistoria, e o tal retardatário acabou levando o serviço. Uma diferença gritante: coisa de R$ 700 sobre o menor orçamento de que dispunhamos. Os últimos serão os primeiros, não é assim?
Bom, só consegui chegar ao computador no descanso do almoço tardio, ansiosa por saber notícias das manifestações do lado de cá da força. Aquela, do povo-unido-jamais-será-vencido, que defende o Brasil, sua empresa-símbolo, os trabalhadores, trabalhadoras e seus direitos, a democracia.
Democracia que implica necessária tolerância com as dificuldades, a inevitável convivência com os contrários – e vista grossa para a ignorância e a hipocrisia -, o fundamental respeito às diferenças e a imprescindível liberdade de escolha.
Euzinha faço parte da maioria que escolheu dar à Dilma um segundo mandato. Que, aliás, nem bem começou, e começou esquisito, digamos assim. Fruto de uma campanha sofrida, uma eleição disputada, e uma rixa que nem tão cedo vai acabar.


Mas não tem terceiro turno. As urnas deram o veredito.

E não aceitamos golpe. E o povo nas ruas, nesta sexta-feira 13, em todo o país, deixou bem claro que não é bobo, nem manietado. Dilma é produto da nossa força, e é com a nossa energia que ela vai cumprir seu mandato, integralmente.
Abaixo o golpismo!
Houve quem duvidasse do sucesso da mobilização. Afinal, a CUT, as centrais sindicais de modo geral, e os próprios movimentos sociais, à exceção do MST, andaram meio recolhidos, perplexos, aderidos, desde o primeiro governo Lula. Tanto, que foram pegos com as calças na mão, pelas ditas jornadas de junho, em 2013.
Bom ver que recuperam o gosto, a energia das ruas, seu berço e combustível.
Gente boa, mesmo do lado de cá, por um ou outro motivo, desacreditou. Seja porque está com o fígado em bílis, ou tem má-vontade expressa com o jeito Dilma de ser. Não é só o machismo que explica.
Certo é que quem apostou no fiasco, ou o temia, tem que admitir que quebrou a cara.

Nos reservamos o direito de criticar os vacilos do governo; é papel de cidadania. Nenhum direito a menos. Este é o governo que escolhemos. E vamos sustentá-lo nas redes e nas ruas. Não há contradição nisso.
Reservo-me o direito de não ir além de mencionar o papelão da mídia venal nesse processo. E de não ir além de registrar que #dia15nãovou. Porque, como postou o garoto Joelson Mendonça, meu amigo potiguar, no FB, “estudei História”. E penso.

#ImpitimaMeuzOvo e #impitmaMeuzOvário. #Nãopassarão.
A História é guia insubstituível para quem, como os da minha geração e da geração imediatamente anterior, não pode contar com a memória da vivência.
Quem delas desfruta sabe bem o quanto nos custou, a todos os brasileiros, chegar até aqui. E mal começamos. E queremos, precisamos e merecemos, muito mais.
Acompanhei as manifestações Brasil afora pelo Twitter, pela transmissão ao vivo da Mídia Ninja, via Portal da CUT Nacional. A revista Fórum fez uma cobertura excelente, minuto a minuto, da manifestação em São Paulo. Entremeou com flashes do que rolou nas outras capitais. Arrasou. Renato Rovai e equipe estão de parabéns.
Na capital paulista, o protesto durou mais de cinco horas, e levou cerca de 100 mil pessoas à Avenida Paulista, no pico da mobilização. Nem a chuva impediu a caminhada até a Praça da República, via Consolação, coalhando de gente o centro financeiro da maior capital do país.
Foi lindo.

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Postagem revista e atualizada dia 14.03.2015, às 9:15: correção de erros de digitação em diferentes parágrafos. Inclusão de frases no 14º parágrafo: “Nenhum direito a menos” e “Não há contradição nisso”; inclusão das fotos da manifestação em Fortaleza e em Brasília.