por Sulamita Esteliam

Confesso que não tive coragem de assistir ao vídeo sobre a insanidade de que foi vítima o imigrante haitiano, Flaubert, trabalhador de um posto de gasolina, em Porto Alegre, capital do Rio Grande. Meu estômago anda cada vez mais sensível.
Entretanto, vi e revi a reportagem quentíssima do CQC que trata do assunto.
Calma, muita calma. Não liguei a TV. Assisti pela internet, depois de ler algumas postagens sobre.
De xenofobia se trata. De preconceito, discriminação e assédio moral. Crimes previstos em nossa Constituição Federal, em seu artigo V, Inciso XLII, regulamentado pela Lei 7.716, de 05 de janeiro de 1989, em seu artigo 1º.
Retrato pronto e acabado do ponto a que chegamos no Brasil do povo cordial e hospitaleiro – assunto de postagem no início da semana neste blogue. Falta memória, educação e discernimento.
Sobra imbecilidade, combustível do ódio, induzido e enlatado. Quem nasceu para massa de manobra não chega ao generalato; e se chega não se sustenta. Capaz de tomar rasteira de recruta.
Soube pelo Twitter. O vídeo feito pelo algoz, uma besta-fera de nome Daniel Barbosa, viralizou nas redes sociais. O DCM – Diário do Centro do Mundo identificou e denunciou o autor; em texto preciso do jornalista, músico e diretor adjunto do DCM, Kiko Nogueira.
Ele tem absoluta razão: o cara deveria estar preso. Mas não somente ele.
E Kiko faz a pergunta que não quer calar: “Quanto tempo até um depravado como Daniel Barbosa linchar um haitiano?”
Também no DCM, o jornalista Paulo Nogueira, fundador e diretor do sítio de notícias e análises, publica nesta quarta, artigo a respeito. Repercute a edição do CQC/Band, citada na abertura.
Que, pasmem, “caçou” o infeliz do Daniel, e expôs o tamanho de sua idiotice predatória.
Fez mais: ouviu, educadamente, o haitiano assediado, humilhado. Revelou aos brasileiros que o refugiado era professor de matemática em sua terra, onde também trabalhava como pedreiro. E pediu desculpas a Flaubert pela afronta, em nome do povo brasileiro.
O frentista, que carrega o nome de pensador francês (Gustave Flaubert), veio para o Brasil fugindo da guerra civil, da fome. Deixou mulher e filhos, um dos quais nascido após sua chegada aqui.
Funcionário exemplar. É o que assegura o colega também ouvido pelo CQC. O DCM, como você pode ver, foi o mote, a fonte do quadro televisivo.
A lembrar que há tempos o CQC vinha extrapolando todos os limites do bom senso e do respeito humano, em nome da gaiatice. No caso, dá lição de Jornalismo.
Nogueira registra o estranhamento com o tom que o humorístico dá à temática, tão sensível. Fernando Brito, com pena leve e certeira, também o faz no Tijolaço.
Tudo se explica: a pauta não segue, mais, a batuta de Marcelo Tass – aquele que já foi um repórter instigante e inovador -, até mesmo nos primórdios do programa que chamava de seu. O maestro, agora, é Dan Stulbach, ator, apresentador e radialista.
Talento com humanismo é quase exercício de humildade.
Ater-se aos fatos e ouvir os dois lados, com equilíbrio, é regra básica do Jornalismo. Especialmente quando repercute acontecimentos. Uma pitada de criatividade no desenvolvimento pode ajudar.
Perdoem-me, se insisto: não é o que tem feito a imprensa nativa.