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Durante anos, sábios, os mais sábios da Idade Média e da Renascença discutiam por horas uma questão filosófica e teológica: Jesus ri? Debates acalorados. Uma turma garantia que Jesus ria, sorria, gargalhava. E os outros, porém não menos numerosos, garantiam à exaustão que Jesus não ria, não sorria. Muito menos, gargalhava! Os adeptos da cara séria de Jesus argumentavam que se se aceitasse que o Filho de Deus se desse a esse desfrute, seria o fim do cristianismo. Que rir, sorrir é coisa dos mais reles mundanos. Dirá gargalhar! Uma infâmia. O Cristo, ah!, a despeito de se apresentar como homem era um deus. Ser altivo e magnífico. Muito acima desse ato primitivo. Horas e horas foram, e são gastas – gastas, não -, investidas nessa discussão que ainda não terminou e ocupa gente graduadíssima, das mais notórias instituições do ramo, nos quatro cantos do mundo, em todos os continentes. A turma do yes, Jesus smiles é mais light. Longe da carranca do mau humor, faz um V com os dedos e decreta: amor e sorriso são como queijo com goiabada, Romeu e Julieta. Um não vive sem o outro. Só quem tem compaixão, só quem pratica todas as virtudes eleitas pelo cristianismo sabe sorrir, pode rir e sorrir, defendem com lábios de Mona Lisa. Saindo das trevas da Idade Média e mergulhando na escuridão do século 21, um google nos conta que pesquisadores, os sábios hodiernos, encontraram nexo causal entre inteligência e a capacidade de rir. E decretam, o riso é tão importante para a nossas vida quanto a inteligência e a criatividade. Quem tem inteligência elevada e refinada acha mais graça das coisas, da vida, das situações. Essa gente tem QI:). E ri e sorri numa escala incompatível com a de Binet. Muito acima do QI 157 de Santos Dumont. Quem afirma, prova e comprova são os estudiosos da inteligência humana, que, assim como os sorriso do Redentor, também são questionados. Toda essa prosopopeia é para falar da piada da presidenta Dilma. Ok, ela não é nenhuma one show woman , como seu colega Barack Obama. Dele todos riem. Vestem black tie e pagam uma fortuna por um convite onde o mister president fará umas graças. Os tupiniquins de fraque, barrados no baile, passam mal de rir da piada que não entenderam. É a claque. Na abertura dos Primeiros Jogos Mundiais dos Povos Indígenas, um evento lúdico e propício a falas desanuviadas, a presidenta fez troça.”Nós temos a mandioca”, como Carmem – a Miranda, não a de Bizet – disse, yes, nós temos banana. E, em homenagem à inteligência excepcional das mulheres indígenas, que colhem a mandioca sem arrancar o pé – como, ao contrário, fazem os que não acham graça nenhuma -, sapecou um mulheres sapiens. Sacou? Aquele diagrama que mostra do macaco ao homo sapiens. Quer que desenhe? Foi isso. Duas piadas. E a bílis derramou. E dá-lhe o cipó de aroeira no lombo da dona. Quanta ignorância. Quanta ofensa. Quanta indelicadeza. Quanta falta de espírito! O QI do humor no Brasil anda baixo. A capacidade de ler e entender acompanha o índice de azedume. O debate está no CTI, prestes a ter múltipla falência dos órgãos. E junto com ele morre a cada dia um pedaço da democracia. E pensar que sábios passaram milênios discutindo se o Nazareno – de Nazaré, na Galileia, não de Chico City – sorri, ri, gargalha ou não. Como se diz por aí, nem Jesus! Ou será só Jesus. Isso vai depender do QI:). Oportuno parodiar o Messias: bem-aventurados os que têm bom humor. Mas, mais bem-aventurado ainda, aquele que entende uma piada e aquela que faz o outro rir!
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