por Sulamita Esteliam
Sonhei para minha neta, para meus netos, um Brasil inclusivo, com menos desigualdade, mais educação e oportunidade para todos. Lutei por este Brasil e posso dizer, sem medo de errar, que avançamos muito. Mas não o suficiente. O abismo é profundo.
Hoje, quando o meu primogênito completa 40 anos, sou forçada a dizer que o Brasil que temos hoje está longe de ser o país que eu sonhei para vocês, querida neta e queridos netos. Embora seja infinitamente melhor do que o Brasil no qual cresci, gerei frutos – seu pai, sua mãe -, tornei-me quem sou.
O que preocupa não é o povo na rua contra um governo que ajudei a eleger, e um partido no qual, desde o nascedouro, apostei minhas fichas. Governos e partido que acertaram e erraram. Tenho sido crítica aos tropeços e desvios, que devem ser cobrados, corrigidos.
Entretanto, para mim, os governos petistas acertaram dois pontos fundamentais: reduziram o fosso da desigualdade social, e nos devolveram soberania e autoestima. Séculos de atraso resgatados em 13 anos.
Desagradou muita gente.

Protestar, entretanto, é um direito legítimo dos insatisfeitos. Eu mesma fui para rua infinitas vezes contra o Estado vigente. Só não vale esculhambar.
Preocupa-me, sim, a cultura do ódio e de intolerância e o que está sendo urdido nos bastidores. A rua apenas reflete a total ausência de limites que norteia as oposições, mídia venal, parcial, inclusa. Ainda que de povo, povo, povo, os protestos de agora tenham muito pouco,
Já escrevi aqui: não vale-tudo em nome do umbigo. Muito menos sacrificar nossa democracia engatinhante.
Ora, isso não é política, é intolerância, ignorância, prepotência e autoritarismo. É rasgar os direitos fundamentais inscritos em nossa Carta Magna, a Lei Maior, dentre eles, o direito de escolha, o direito do voto.
Querem ganhar no grito o que as urnas lhes negaram.
Armam o golpe preventivo, e já escrevi sobre isso aqui no blogue. Se não fica bem com Dilma, cabe não deixá-la respirar, torná-la refém do projeto da direita.
(Sim, querida neta e queridos netos, se lhe dizem que acabou a ideologia, que não existe direita e esquerda, digo que mentem para vocês).
Só os cegos, os equivocados e os ingênuos não veem: o alvo é o Lula, o adversário que eles temem não conseguir superar, de novo, nas próximas eleições, em 2018.
Não à toa, Lula dividiu com Dilma – e há quem diga que foi o centro – o pódio do achincalhe neste domingo. Ladrão é o mínimo.
Desqualificar é arma tosca de quem não tem argumento político. É parte da tentativa de desmoralização de um líder reconhecido internacionalmente.
Não, isso não é liberdade de manifestação nem de expressão. Liberdade pressupõe respeito, ao outro, a si mesmo e às regras do jogo – que é o outro nome para lei. E o ônus da prova cabe a quem acusa.
Protestar é exercício de cidadania, mas há que ter senso de coletividade. Comportamento e linguajar de arquibancada ou porta de estádio não é o que se pode definir como atitude política cidadã. É falta de educação e de decoro, mesmo.
E não é pedir demais um mínimo de coerência.
Ninguém pode ser a favor da corrupção. Que se investigue e, se provado, puna-se todos os malfeitos e malfeitores. Todos, sem distinção.
Já pararam para pensar, querida neta e queridos netos, quanto se sonega de impostos neste país? Governos vivem de arrecadação de impostos. É daí que sai o dinheiro que os governos, qualquer governo, deveria investir em saúde, educação, cultura, infraestrutura, moradia.
Quem rouba dinheiro público é corrupto ou corruptor, e deve ser julgado e punido. E quem sonega impostos é o quê? O sonegador pode ficar impune?
A moral, muito menos a lei, não pode ser seletiva. O que vale para Chico, vale pra Francisco.
Tem-se que admitir: o número de manifestantes caiu, no geral, mas o fiasco não foi exatamente numérico, e sim de conteúdo. Curioso ver as pessoas caracterizadas como palhaços – no todo ou no detalhe -, não é detalhe…
As cenas deste domingo, 16 de agosto, Brasil afora, estão longe de dar orgulho. Fazem mal ao estômago e à sanidade.
É a personificação do mau exemplo, da des-educação, da incoerência e da hipocrisia. Injustificável ainda que em defesa dos próprios interesses.
Instalou-se a barbárie, e isso não faz bem em qualquer quadrante.
Não posso pedir a vocês, querida neta, queridos netos, que tenham memória, do que não vivenciaram. Também não pretendo que sigam a minha velha cabeça. Mas posso pedir que estudem História, para não se tornarem parte da massa de manobra da turma do tanto pior melhor.
Custou-nos muito suor e sangue conquistar a democracia. É frágil, mas cabe a nós adubá-la para que ela se fortaleça e evolua. E é a geração de vocês que herdará o que dela se fizer agora.
Dia 20 tem povo na rua em defesa da democracia.
E sigamos em frente.



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