por Sulamita Esteliam
Estou muito triste como resultado no segundo turno da eleição municipal no Recife. Não exatamente por Marília Arraes (PT) não ter vencido o processo. Muito mais pelo jogo sujo usado pelo adversário, João Campos (PSB), para compensar as próprias deficiências.
Lamentável que o exercício da democracia seja enodoado com práticas deploráveis, em particlar por um candidato jovem, que se diz moderno, e que pretende ser renovação – do que mesmo?
Repetiu-se o mesmo processo de desconstrução pessoal de que têm sido alvo os políticos de esquerda, particularmente do PT, e que só depõe contra a política. Demonizar para se esconder.
Que Estado laico, que nada. Igualdade para quem? O nome disso é violência política. E a justiça eleitoral faz vistas grossas ao que deveria se enquadrado como crime.
Mais triste ainda é constatar que o cérebro por trás do vale-tudo é uma mulher experiente, ex-militante da esquerda, a senhora mãe-viúva. Com a conivência de partidos da esquerda aliada.
Marília foi grande, superior. Mostrou que é possível exercer a política com firmeza e lisura. Sua campanha foi linda e propositiva, contundente na crítica, sem apelar para o jogo sujo.
Não vale à pena ganhar a qualquer preço. O Recife agradece o exemplo.
E, como ela própria comentou em tuíte, nesta segunda, os alicerces da muralha do socialismo de fachada com metodologia bolsonarista foram seriamente abalados.
Agora é tomar fôlego para seguir em frente, em defesa do projeto de uma cidade melhor para todos. O caminho é longo e acidentado, mas ela mostrou ser maior que os obstáculos.
Nasce uma estrela de nova geração. E como o PT precisa de brilho novo para seguir adiante. No caso, aqui coligado com, e efetivamente apoiado, o PSol.
A baixaria reinou também em Porto Alegre-RS, e também deixou para trás Manuela D’Ávila, do PCdoB.
É preciso dizer de novo que, no Recife, seu partido compactua com a vilania usada contra Marília Arraes. O que provocou racha em suas fileiras, como se deu no PDT de Ciro Gomes, que é vice na chapa vencedora.
Inegável que até parte de do espectro que se quer de esquerda adere à narrativa de que se valem a direita, o centro e os descerebrados: a inversão de valores, o machismo, a misoginia, o uso de preconceitos de classe e de fundo religioso, o fundamentalismo, as mentiras, a fraude, a farsa, a cevar o ódio, a enganar incautos.
Vou e volto.
Em Minas, Marília Campos também foi alvo de mentiras, mas conseguiu superar os ataques, e é novamente prefeita de Contagem, o terceiro maior PIB do estado e colégio eleitoral do estado.
O mesmo se deu com Margarida Salomão, eleita a primeira prefeita de Juiz de Fora, o quinto município em população e PIB de Minas Gerais.
Mesma sorte não teve Célia Tavares em Cariacica, terceira maior cidade em população – mais do que a capital Vitória e menos do que Serra – e a quarta em PIB no Espírito Santo.
Se Guilherme Boulos não conseguiu vencer a concretude paulistana, emerge deste pleito como grande liderança das esquerdas, ao conseguir 40% dos votos.
Em Belém, seu colega Edmilson Rodrigues volta à prefeitura, o que fortalece o PSol como força expressiva no campo progressista.
Viva! As carpideiras e os urubus que se acautelem no gozo da derrota do PT e das esquerdas. Temos motivos para esperançar, sim.
São duas das quatro prefeituras de cidades de porte médio a que o PT passa a administrar a partir de janeiro. As outras são Diadema, Fillippi Júnior, no ABCD berço do partido, e Mauá, com Marcelo Oliveira, no interior de São Paulo.
O partido não chegou em quaisquer das capitais, é certo. Encolheu numericamente neste capítulo, mas ampliou sua votação em relação a 2016.
É pouco para a capiliridade do PT, é verdade. Mas continua sendo o maior e mais articulado partido na esquerda digna do nome. Queiram ou não queiram os arautos do enterro petista, está vivo.
Resiste a anos e anos de ataques brutais da casa-grande, amplificados pela mídia venal que serve aos interesses plutocratas.
Ressalta destas eleições, em meio à pandemia, e sem a possibilidade de ir em massa às ruas, é a reativação do ânimo da militância, que sempre foi o combustível para seguir na luta.
Não há derrota para quem persiste, nos ensina José Mujica.
Fico por aqui, por enquanto.
Boa semana para você.