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por Sulamita Esteliam
Decidi restringir a campanha eleitoral deste ano ao boca a boca e ao meu redor recifense. Quase não tenho saído de casa, envolvidas com atividades prementes. Os últimos anos foram bem pesados, e deixaram ranço de fastio numa seara que sempre militei. Não vou mentir.
Aqui a coisa parece resolvida, mas não está, necessariamente não. A urna é soberana e meu, nosso voto, não seque a cartilha. Acolá, na Macondo de origem, Beagá, a coisa tá embolada e feia, tanto que ressuscitaram o voto útil de priscas eras.
Deficiências na comunicação política da esquerda à parte, o fato é que não adianta argumentar com convertidos. E a capital mineira deu a vitória ao Coisa-ruim e sua turba nas eleições passadas, não esqueçamos.
Nesta reta final, minha irmã de alma e também jornalista e escritora, Eneida da Costa, postou nas redes apelo no mínimo curioso; e que dá bem a panorâmica da situação nas Alterosas:

É fato que política e religião sempre estiveram embricadas, desde os sacerdotes hebreus que cuidaram de demonizar o Nazareno Jesus, às guerras santas e às trevas da Idade Média.
Tudo é questão de dinheiro e poder, ou o poder do dinheiro ditando as normas para os desvalidos, desde sempre. Acreditava-se no avanço civilizatório, num mínimo de distribuição de riqueza e bom senso. Retroagimos na última meia década, lamentavelmente.
Nós do Recife votamos fora da curva: 13 e 65 para a vereança, 50 para o Executivo. Meu núcleo familiar, que já foi maior por essas bandas; por ora, soma cinco votos diretos mais dois indiretos. Irradiamos boas energias a partir de nossas escolhas.
O lema é sempre à esquerda. Até porque já restou provado que a direita quando ocupa o poder não é opção é equívoco – com sérias consequências para as nossas vidas.
E a gente não pode esquecer que quase fomos à lona em tempos recentes, outra vez.
Busco o espírito da querida e saudosa Carol Cospe Fogo, cartunista mineita radicada no Rio de Janeiro, estrela aos 40 anos em 9 de julho de 2023: “Chega de passar vergonha!” é a charge que abre esta postagem.
Acreditamos que é importante eleger mulheres de bom senso e reeleger quem já prestou bons serviços, mulheres e homens progressistas, com atuação relevante, sobretudo, nos campos dos direitos humanos e da cultura.
São meios abrangentes para o existir com dignidade, tempero do bom viver e da criatividade. Recondicionantes da alma. Critérios que podem nortear bem a escolha do voto.
Quem exerceu mandato, atento ao compromisso do cuidado com as pessoas e com a cidade, certamente ainda tem muito o que contribuir para a cidadania de fato.


E aqui deixo um salve para o colega jornalista e comunicador popular dos melhores que já conheci, Ivan Moraes (PSol). Ele deixa a Câmara Municipal do Recife depois de dois mandados substanciosos, efetivos, suculentos; compromisso com a renovação.
Tentou a indicação para disputar a prefeitura, mas Dani Portella, deputada estadual e ex-candidata ao Governo de Pernambuco em 2014, levou a melhor. E ela é nossa candidata por um Recife melhor para roda a gente.

Aqui em casa somos daqueles que também creem na importância de renovar, eivar o canteiro municipal com novas e produtivas sementes. Há várias no campo progressista, mas aqui vão duas indicações:


Não é segredo para ninguém que sou do lado esquerdo da força, desde criancinha. Todavia, não faço delas iguaria de quaisquer refeições, pode crer. Meu paladar e meu impulso sempre foram afeitos ao traçar e acolher em série, com gosto.
Faço parte dos talvez 55% ou 60% do povo com direito (e dever) a voto, que tem lado. A minha banda se restringe a 15%, talvez 20% ou até 30%, a depender da pesquisa e do campo.
E a História deste país não nos permite ter ilusões: a maioria que diz não ter lado flutua entre uma banda e outra, mas namora perigosamente com o inimigo. Não raro elege quem pisa na sua garganta.
O opressor bem sabe usar essa tendência masoquista em seu benefício. E os desvalidos e/ou desligados são presas fáceis do discurso enganador.
Nada mais brechtiniano – Bertolt Brecht, dramaturgo e poeta alemão nascido em fins do século XIX e em atividade até 1956 do seculo passado, e autor de “O Analfabeto Político”.
´”O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas. O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que da sua ignorância política nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos que é o político vigarista, pilantra, o corrupto e lacaio dos exploradores do povo.”
O poster com este verso carrego comigo vida afora, desde que o descobri na faculdade. Minhas crias ficavam pê da vida quando Euzinha as colocava para refletir sobre algum mal feito ou desaforo social ou familiar sentadas em frente à peça. Há algum tempo habita o banheiro social da nossa casa.
Digo que sou uma pessoa do bem, sem religião, mas que tem fé, que crê na possibilidade de interagirmos com uma força superior que rege o Universo. Deus ou tenha o nome que tiver. Todavia, o tal do livre arbítrio deveria ser levado em consideração, sempre, inclusive na solidão da urna.
Política, para mim, é compreender o imperativo do bem comum, é torcer e agir por uma vida digna para todos. Responsabilidade que acredito ser de todo mundo e de cada um ou uma, de quem se importa. Portanto, creio, firmemente, que não há vida fora da política.
Não obstante, o direito de escolha é básico; desde que não traga prejuízo para mim, para o próximo e para a geral. A tal da liberdade, a ansiada felicidade, não existe sem olhar ao redor. Bons e seculares conceitos humanitários – e cristãos, aliás.
Utópico se considerarmos a História do homem e suas riquezas ou desvalias. Para gente como eu e a minha frequência, a vida só presta assim, na pisada bem definida por Eduardo Galeano, jornalista e escritor uruguaio:
“A utopia está lá no horizonte.
Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos.
Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos.
Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei.
Para que serve a utopia?
Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar.”