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por Sulamita Esteliam
Está lá o corpo estendido no chão da Esplanada, sob o olhar complacente e caolho da Deusa da Justiça. Juro que pensei ter visto um sorriso no canto esquerdo da boca de Têmis.
Só dá para ver as pernas do cadáver: convenientemente vestidas de cetim azul, estampado de naipes vermelhos do baralho; os pés calçados de tênis preto, molhados pela chuva que aliviou Brasília na noite da quarta; sem meias, cadarços cruzados deixando à mostra o peito dos pés.
Quem se veste de palhaço com tamanho esmero: para implodir-se?
Sim, ele queria explodir o STF, não conseguiu. Tentou explodir a Estátua da Justiça, não conseguiu. Então, explodiu-se – porque já estava nos planos explodir-se.
Na hora em que vi a foto, assinada pela fantástica Gabriela Biló, da Folhapress, no The Intercept Brasil*, pensei: estúpido, achava que era o curinga.
Se não leu, precisa ler “O Dia do Curinga”, de Jostein Gaarder, 1990 – uma história que nada tem de infantil, e que preciso reler.
Ora, você não tem compaixão, Sula? Só pode ser um desesperado, que se busca alívio para suas dores, para sua falta de perspectiva e amor próprio, só vai encontrar purgação.
Meu Anjo sopra no ouvido esquerdo, aquele que me deixa zonza de tanto escutar aquilo que preferiria não ouvir.
Há uma legião de desgraçados sem noção, que pensam que são jedi, mas atendem o lado sem luz da força.
E esses pobres diabos vieram ao mundo para serem desnorteados pela atração fatal que esculhamba o Planeta, e que ainda campeia à solta também em terras brazilis.
Vade retro!
O Coisa-ruim, em torno do qual se projetou o gabinete do ódio, tem mais um cadáver na própria conta, ou seria gaveta? Deve estar se pelando, pois sabe bem o que fez, e mais dia, menos dia, vai ter que pagar.
Há, todavia, o lado bom dessa história terrorista: aquela conversa de anistiar golpista do 8 de janeiro, do 12 de dezembro, do 7 de setembro e de todos os abris e janeiros despedaçados, está fora da ordem, mais do que nunca; não é mais sequer miragem.
A-ca-bou.
Não obstante, é preciso rigor e celeridade para não dar corda pra maluco armar trama.
E no mais, viva a República do sempre resta um.
PS: Vi depois, na Revista Fórum, que o sociólogo Jessé de Souza descreve o que nomeou “síndrome do Coringa” em seu livro “O Pobre de Direita: a vingança dos bastardos”, 2024, Civilização Brasileira. Cynara Menezes, a Socialista Morena, assina o texto, que resgata e compara o filme “O Coringa”, de Toddy Phillips, estrelado por Joaquin Phoenix. Tudo a ver.
As ideias não andam sozinhas.
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* The Intercept Brasil: ‘A cabeça dele explodiu” – reportagem de Vinicius Nunes
*”Um importante alerta de Ladislau Dowbor, economista brasileiro de origem polonesa, Professor da PUC-SP, consultor de agências da ONU e autor ou coautor de mais de 40 livros sobre economia brasileira e internacional.”*