por Sulamita Esteliam

Sou cobra d’água
nadando em águas de fogo.
Estou exausta,
mas não me entrego.
Minhas escamas,
ressequidas,
são prato cheio
para as chamas.
Tudo me incomoda,
e nada se resolve.
Estou exausta,
mas não desisto.
Sou besta-fera
pastando em maremoto.
Sangra-me as ventas.
Arde-me o dorso.
Os dentes se foram,
e os cascos não se sustentam.
Mas persisto.
Hora dessas, o vento muda.
Então, talvez eu possa voltar
a ser bicho encantado.