Protestos anticorrupção se mostram esquálidos, será por quê?

por Sulamita Esteliam
Muitas faixas na concentração da marcha - foto: João Carlos Mazella

Fiquei na praia até depois das quatro e não vi a marcha contra a corrupção passar na avenida beira-mar. A convocação era para os manifestantes se concentrarem a partir das 14 horas, na Pracinha de Boa Viagem – aqui, neste blogue. As parcas notícias que encontrei na rede dão conta de que o movimento foi tímido; até as 15:30 havia cerca de 200 pessoas, de todas as idades, no local (foto).

Parece que a escassez não se resumiu ao Recife. Será por quê? A exceção, parece, foi Beagá, onde cerca de 1500 pessoas se reuniram na Praça da Liberdade. Por que será?

A propósito, reproduzo texto do mestre Ricardo Kotcho, publicado em seu Balaio, sobre o movimento de protesto nas principais capitais do país. Na mosca!

Sim, vale ler artigo publicado no blogue Rádio Moreno, do jornalista Jorge Moreno, meu ex-colega de cobertura política nos tempos de O Globo. Como lembra meu amigo blogueiro Rogério Maranhão, do Conexão Brasília Maranhão, “é voz dissonante dentro do PIG”. Fico feliz em sabê-lo.

Trata do bombardeio a que está sendo submetido o governador de Brasília, Agnelo Queiroz (PT), ex-PCdoB e ex-ministro dos Transportes. O Drama de Brasília e o Lenço de Desdêmona é assinado por Theófilo Silva. Essencial e didático.

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Vamos à postagem do mestre Kotcho:

Publicado em 16/11/11 às 10h31

Por que os protestos fracassam em todo o país?

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Manifestantes se reuniram no Museu da República, em Brasília

O que houve? Ou melhor, por que não houve?

Apareceram apenas 150 “protestantes” na Cinelândia, Rio de Janeiro, na manifestação anticorrupção organizada por cinco entidades em redes sociais.

Em São Paulo, na avenida Paulista, outros cinco movimentos (Nas Ruas, Mudança Já, Pátria Minha, Marcha Pela Ética e Lojas Maçônicas) juntaram apenas 200 pessoas. Na Boca Maldita, em Curitiba, o grupo Anonymous reuniu 80 pessoas.

A maior concentração de manifestantes contra a corrupção foi registrada na praça da Liberdade, em Belo Horizonte, calculada em 1.500 pessoas, segundo a Polícia Militar. E, a menor, ocorreu em Brasília, onde 30 gatos pingados se reuniram na Esplanada dos Ministérios.

Será que a corrupção é maior em Minas do que em Brasília? Juntando tudo, não daria para encher a Praça da Matriz da minha querida Porangaba, cidade pequena porém decente.

Desta vez, nem houve divergências sobre o número de manifestantes. Eram tão poucos no feriadão de 15 de novembro que dava para contar as cabeças sem ser nenhum gênio em matemática.

Até os blogueiros mais raivosos que, na véspera, anunciaram “protestos em 37 cidades de todo o país”, com horário e local das manifestações, parecem ter abandonado o barco. Não se tocou mais no assunto.

Parece que a sortida fauna que organiza protestos “contra tudo o que está aí” desde o feriadão de 7 de setembro já se cansou.

Os organizadores colocaram a culpa na chuva, mas não conseguem explicar como, no mesmo dia, sob a mesma chuva, 400 mil pessoas foram às compras na rua 25 de Março e 40 mil fiéis se reuniram a céu aberto no Estádio do Pacaembu, em São Paulo, numa celebração evangélica.

Nem se pode alegar falta de assunto, já que a velha mídia não se cansa de dar manchetes todos os dias sobre os “malfeitos” do governo, com destaque no momento para o Ministério do Trabalho do impoluto Carlos Lupi.

Na minha modesta opinião, o fracasso destas manifestações inspiradas na Primavera Árabe e nos protestos contra o capitalismo selvagem nas capitais européias e nos Estados Unidos, reside na falta de objetivos e de sinceridade dos diferentes movimentos que se apresentam como “apartidários” e “apolíticos”, como se isto fosse possível.

Pelo jeito, o povo brasileiro está feliz com o país em que vive _ e, por isso, só vai às ruas por um bom motivo, não a convite dos antigos “formadores de opinião”.

Afinal, todos somos contra a corrupção _ até os corruptos, para combater a concorrência, certamente _, mas esta turma é mesmo contra o governo. Basta ver quem são seus arautos na imprensa, que hoje abriga o que sobrou da oposição depois das últimas eleições presidenciais.

Dilma pode demitir todos os ministros e fazer uma faxina geral na máquina do governo que eles ainda vão querer mais, e continuarão “convocando o povo” nas redes sociais. Valentes de internet, não estão habituados a enfrentar o sol e a chuva da vida real.

Ao contrário do que acontece em outros países, estes eventos no Brasil são mais um fenômeno de mídia do que de massas _ a mesma grande mídia que apoiou o golpe de 1964 e escondeu até onde pode a Campanha das Diretas Já, em 1984 (com a honrosa exceção da “Folha de S. Paulo”, onde eu trabalhava na época).

Eles não enganam mais ninguém. O povo não é bobo faz tempo.

Um comentário

  1. Porque o Movimento Contra a Corrupção não é um movimento social. É o movimento socialaite “cansei”, pautado pela mídiaquequerpautaromundo. Mil e quinhentos belo-horizontinos foram à Praça da Liberdade – transformada em cidade fantasma – porque são belo-horizontinos. Os caras que votam em Márcio Lacerda e Aécio e que resumem a ocupção da USP como “estudantes brigando pelo direito de fumar maconha”.

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