por Sulamita Esteliam

Há muita coisa no ar do Recife, para além dos aviões de carreira. Há espigões que assolam a cidade, nos quatro cantos, mais do que o calor escaldante que neste verão faz nossos corpos “frever”, mais do que sempre. E pensar que até a brisa querem nos roubar.
Há espigões por toda parte, e a sanha dos tratores quer fazer da paisagem o refrigério dos apaniguados. Para aqueles menos bem-nascidos, em berços que soçobram no tilintar do vil metal, a eles, o caldeirão do inferno.
Que o diga a boa gente do Coque, sob ameaça de remoção, em curso, para dar lugar a um polo jurídico, que inclui a futura nova sede da OAB PE.
Que o diga a gente distinta da Vila Oliveira, expulsa de seus lares de 30 anos, com título de posse e tudo, tratorados às vésperas do Natal. O que deles foi feito, a mídia não se ocupa mais.
Que o diga o povo guerreiro de Brasília Teimosa, cercado de empreendimentos milionários por todos os lados, a comer pelas bordas o que conquistaram com suor e fibra – há mais de 50 anos. No ritmo em que a coisa vai, em pouco terão que se abrigar no Buraco da Véia, se este conseguir escapar à sina do aterramento.
Que o diga o Bairro de São José, que pode vir a ser encurralado por um paredão de 12 torres, um centro comercial refrigerado e edifícios-garagem, no Cais José Estelita; a lhes tolher a vista, o ar, a identidade histórica. Novo Recife para quem?
O Recife resiste, e há de resistir até o limite. Está no sangue dessa gente.
A comunidade se mobiliza no Coque: “Do Coque não saio. Daqui ninguém me tira”. Reunião comunitárias, mural, passeata, página no Facebook, conexão com o movimento nacional Não saio daqui porque, representação junto ao Ministério Público.
O movimento Direitos Urbanos contra a dúzia de torres colhe seus primeiros frutos, desde o #ocupeestelita e depois da Carta ao Prefeito do Recife. Liminar da Justiça barra o andamento do projeto, a partir de ilegalidades documentadas.
Não à toa, a edição de domingo dos três diários locais veio recheada de “caderno especial” publicitário do consórcio empreendedor do projeto. Doze páginas para vender o maná e tentar esconder a vergonha.
É briga de Davi contra Golias.
Sim, nesta quarta, 27, tem audiência pública na Assembleia Legislativa de Pernambuco para discutir o futuro do Recife. A partir das nove horas. Dia 07 de março tem outra, na Câmara dos Vereadores, de 9:00 às 13:00 horas.

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Outras postagens neste blogue sobre o assunto:
#Ocupeestelita: para barrar a especulação imobiliária
Quando as pessoas e suas vidas são descartáveis
Grilagem reciclada com aval da Justiça
Povo se mobiliza contra o projeto “Novo Recife”
Pinheirinho, Vila Oliveira, Morro da Providência… quantos mais?
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PS: Ando numa roda-viva sem par. Daí a ausência do blogue desde a última sexta-feira. Tentarei não deixar que se torne rotina. Tudo o mais é trabalho e, em decorrência, cansaço. Paz e bem.
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