por Sulamita Esteliam

O tempo e a vida são escolas indeléveis. Há quem aproveite para aprender.
Dia 07 de abril é comemorado o Dia do Jornalista, no Brasil. Há 82 anos, se não errei as contas. Há algumas ironias na data, pela história – e pelo que me diz respeito.
Deixemos de lado as particularidades, de ontem e de hoje. Vamos aos fatos, ou versões, que interessam – pela simbologia analógica com o que assistimos hoje em terras midiáticas, e políticas, sobretudo brasileiras:
Consta que, em 1931, a ABI – Associação Brasileira de Imprensa criou a data para homenagear João Batista Líbero Badaró, nascido Gianovanni Baptista Líbero Badaró, em terras de Itália. Médico e jornalista, liberal anti-absolutista, editava um jornal em São Paulo: O Observador Constitucional. Comprou inimigos, ganhou a morte – em 21 de novembro de 1830. Tornou-se nome de rua, a mesma na qual tombou em São Paulo.
O assassinato de Líbero Badaró, me revela pesquisa na rede (também aqui), gerou um levante popular que redundou na abdicação de D.Pedro I em favor do filho Pedro II – a 07 de abril de 1831. O estabelecimento do Dia do Jornalista teria celebrado o centenário do episódio.
Curiosamente, o calendário-memória da própria ABI não registra o fato. Sequer a memória histórica o faz. Lembra-se entretanto, de apontar o 07 de abril como data da fundação da entidade, em 1908, por um paladino chamado Gustavo de Lacerda.
Houve um tempo em que a ABI representava jornalistas – o tempo em que jornalismo se confundia com imprensa, e era a própria imprensa em defesa de uma causa ou ideal. Adequou-se aos novos tempos, gradativamente.
Está lá, na memória histórica da ABI: “A ABI jamais deixou de cumprir os objetivos que a originaram, mas se adaptou ao longo do tempo. Seus estatutos foram ajustados às diversas situações socioeconômicas da indústria jornalística.”
Nossa profissão se operariou, faz tempo – e a maioria de nós finge que não sabe. Perdeu a poesia, o glamour e o rumo, e não se deu conta disso. Muito antes de ir à universidade – e isto se deu em 1969.
Despiu-se do humanismo. Mercantilizou-se, em nome da sobrevivência ou da conveniência.
A sindicalização, necessária, não traduz espírito de classe. Muito menos de coletividade. Pátria, então, converteu-se em palavrão demodê. Farinha pouca, meu pirão primeiro.
Sou da geração que se formou sonhando incorporar-se a uma missão. Levei, levo, e continuarei a levar puada por isso. Não sou a única, feliz ou infelizmente.
Sobrevivemos.
Houve um tempo em que a morte de um jornalista mobilizava a população.
Hoje, pagamos preço triplamente qualificado: nos confundem, nos confundimos ou nos deixamos confundir com o patrão.
Há jornalistas que morrem por exercerem seu papel a despeito de, num tempo em que a vida vale menos que o interesse de ocasião.
Há jornalistas que morrem por não dissociarem, conscientemente ou não, seu papel daquilo que move a máquina que lhes paga o salário.
Há jornalistas que morrem por inanição.
Para além do risco das ruas, nas redações e locais de trabalho assemelhados, se morre um pouco a cada dia – de assédio moral, depressão, baixo-estima, omissão, alcoolismo, overdose, tabagismo… falta de opção.
Parabéns pela data.
Orgulho-me de te-la conhecido e, em pouco tempo, poder ter ouvido deliciosas histórias do seu jornalismo, sempre com jota em caixa alta.
Infelizmente a ABI hoje é mais conhecida por Instituto Millenium. Sinal dos tempos.
Grande cherô.
zcarlos
Na verdade, a ANJ – Associação Nacional de Jornais é a expressão do Instituto Milenium, não é Zé Carlos. Mas a ABI hj, apenas, encastela medalhões…
Obrigada, de qualquer forma, por suas palavras, sempre gentis. Para mim, tbm, é um prazer contar com sua amizade. Abração.
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Abç,
Natanael Lima Jr Editor do blog Domingo com Poesia http://www.domingocompoesia.com
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