
por Sulamita Esteliam
Três notícias importantes no decorrer da semana nos revelam o quanto é equivocado o pensamento vigente sobre liberdade de imprensa e liberdade de expressão. Ao meu ver equivocado, pois, quase sempre, se confrontam com o direito à informação, à verdade dos fatos.
Não estou sozinha neste pensamento, felizmente. E os três fatos que enumero constituem três claros exemplos de que há amor e vida inteligente do lado de cá do balcão de negócios do jornalismo:
1) Na Inglaterra, o Conselho Assessor da Rainha aprovou novas regras que incluem a criação de um órgão regulador e outro ouvidor, guardiães do código de ética da imprensa. Fê-lo contra a vontade da metade dos conglomerados midiáticos; a outra metade – Guardian, Financial Times e Independent – fez ouvidos moucos. Detalhes em Carta Maior.
2) Na Argentina, a Corte Suprema de Justiça derrubou a esperança de o grupo Clarín, enterrar a Ley de Medios, declarando-a constitucional. Quatro anos após ter sido aprovada, a Lei que acaba com a concentração de meios ou veda os conglomerados midiáticos, entra em vigor com toda sua força.
Mídia democrática pressupõe algum controle social sobre a qualidade do que se informa, dentro dos limites constitucionais. Ao contrário, o que se vê, aqui, acolá e alhures é a mídia autonomear-se opinião pública, em nome de seus interesses econômico-políticos, travestidos de uma imparcialidade de carochinha, que nem inglês vê.
Os juízes hermanos não se comoveram com os argumentos del Clarín de confronto à liberdade de imprensa e ao direito de propriedade, de inviabilidade patrimonial/econômica, a se cumprir as determinações da Lei – aqui a decisão, aqui a reportagem e aqui a análise do jornalista e professor Laurindo Leal Filho, também, para Carta Maior.
E a Globo quase perde o juízo, me contam as redes sociais. Se você é do tipo que dá audiência à plim-plim, terá visto.
Para Laurindo Leal, um estudioso da matéria e, por isso, defensor da comunicação como direito humano, a decisão deixa o Brasil, cada vez mais, comendo poeira no que diz à democratização da mídia.
O professor lamenta “as dificuldades existentes no Brasil para que ocorra processo semelhante. A começar dos governos, sempre temerosos em se contraporem aos negócios da comunicação. Seguindo pela hostilidade da mídia hegemônica contra as mudanças, capaz de contaminar a universidade, totalmente alheia ao debate em torno da lei de meios.”
A lembrar, como o faz Laurindo, que a Europa e os Estados Unidos – tão venerados por nosso complexo de vira-latas – têm leis reguladoras da mídia há pelo menos 80 anos. E que vêm sendo aperfeiçoadas, como mostra o reino de Sua Majestade, Elizabeth II.
Clique para conhecer, e assinar, o projeto de Lei da Mídia Democrática.

3) E agora a terceira notícia, que a jornalista que ainda habita em mim comemora, e a leitora que sou, lamenta: a saída de Carta Capital do colega Leandro Fortes, um Jornalista, assim mesmo, com J maiúsculo.
Convivemos profissionalmente nos tempos brazilienses, ainda que em eventuais coberturas partilhadas – ele repórter, salvo engano, do Jornal do Brasil e Euzinha, na extinta TV Manchete. Voltamos a nos encontrar na militância dos blogueiros/as progressistas, em tempos recentes.
Leandro parte para outros desafios, com foco na rede. Gente da sua estirpe não é de se aninhar em berço explêndido, que é o que para ele equivalem seis anos de trabalho com Mino Carta, o editor-geral da revista . Vale à pena ler sua carta de “Despedida doída”, publicada no sítio de Carta Capital.
Terá boa sorte, com certeza.