por Sulamita Esteliam
Impossibilidades físicas mantiveram-me afastada do blogue ao longo da última semana. A lombar travou, e não me deixou alternativa a não ser repouso absoluto, em posição horizontal. Regada a anti-inflamatórios e bastante desconforto, para dizer o mínimo.
Convenhamos, ninguém merece. Todavia, há que se fazer do limão a limonada. Aproveitei para ler um dos vários livros que ganhei de presente de natal: o que comemora o Nascimento do Mestre, e o desta reles criatura que vos fala.
Renovaram minha biblioteca com quatro títulos aos quais eu ansiava degustar. Incluindo o luxo de dois Mia Couto, escritor moçambicano – e não sul-africano, como escrevi originalmente -, coqueluche da vez. Li o primeiro, O Pé da Sereia, em três dias, na semana anterior à que relato; gostei muitíssimo, e quando terminar o segundo, que já comecei, talvez escreva algo.
Muito obrigada, caras e caros.
O da vez: cerca de 900 páginas devoradas em seis dias, dentre outras leituras não-literárias e ligeiras incursões ao sofá da sala – mantida a horizontalidade -, para buscar alguma novidade na TV. Buscas infrutíferas, naturalmente.
Terminei a leitura de Caná, o novo e último livro da série Operação Cavalo de Troia, do espanhol JJ. Benítez, editado pela Planeta, 2011. Uma obsessão – e uma mina – que levou quatro anos para se corporificar em 1033 páginas, e quase seis para chegar às minhas mãos… desde que encerrei a leitura de Jordão, o número oito da saga, em meados de 2008.
O que é o tempo diante da arte e da imaginação!?
Há cinco anos, como sempre acontece desde que fui apresentada à série, pelo meu companheiro, em 1994, em Brasília, onde então residíamos, amaldiçoei o autor.
Deveria, na verdade, é aprender com ele: como manter o leitor cativo durante anos, à espera do desfecho de uma história que, paradoxalmente, nada (?) tem de mistério. Afinal, trata-se da passagem de Jesus Cristo neste quadrante do Universo, história que a rigor conhecemos (?), desde criancinha.
Aí é que está. Há controvérsias – para além das “ousadias” apresentadas por Samarago no Evangelho segundo Jesus Cristo – 1991, Editorial Caminho/Lisboa e 1992, Companhia das Letras/Brasil. “O filho de José e de Maria nasceu como todos os filhos dos homens, sujo do sangue de sua mãe…”, e teria tido irmãos e irmãos, escreve o genial português.
Presenteei minha mãe com esse livro, sempre me recordo. Católica fervorosa, ela ficou indignada logo aos primeiros capítulos, e abandonou a leitura, cobrando-me pela “blasfêmia” e pelo “atrevimento”, à primeira oportunidade e enquanto viveu.

O livro de Benítez vai além, e questiona a própria capacidade dos 12 discípulos e dos quatro evangelistas – João, Mateus, Marcos e Lucas – em compreender e traduzir a mensagem espiritual do mestre. Minha mãe, leitora voraz quase tanto quanto a filha, recusou-se a tocar no primeiro, segundo e terceiro volumes, por mais que eu insistisse.
Parte de uma suposta operação engendrada pela Nasa de retorno no tempo. A aventura é chefiada por uma major, médico da Força Aérea norte-americana, que, acompanhado de um colega engenheiro retorna ao ano 30 dC para acompanhar a Paixão de Cristo e os dias que a antecederam.
É o enredo do primeiro livro, lançado em 1984, pela editora espanhola, e trazido ao mercado brasileiro em 1993, pela Mercuryo. O major teria deixado um diário que teria entregue ao jornalista-escritor espanhol, com algumas condições do que deveria ser “revelado” e em que tempo.
Daí a dosagem homeopática do que seriam os testemunhos da íntima convivência do Ma’lak (mensageiro, em aramaico), que é como, supostamente, o Mestre tratava o major Jasão. Saga traduzida nos nove livros da série, que levou 30 anos para se completar – 20 anos para aficionados brasileiros, como esta escriba.
O que seria uma inversão, terminou sendo três retornos no tempo, em diferentes épocas da vida de Jesus. O último cobre o período imediatamente anterior ao início da vida pública do Galileu – cerca de quatro anos.
Página 343: “Ao chegar à parede do fundo (em frente à porta), o Galileu parou um instante. Lá se viu, como se pode recordar, uma equação “diofantina”: ‘Amor = Dou porque Tenho’ (A= D x T).”
Pág. 344: “Mas, antes de dirigir-se à porta, o Mestre deu meia-volta, foi até a parede do fundo, pegou um pano e, em silêncio, apagou parte da citada fórmula… corrigiu: ‘A = T x D, Ou: ‘Amor = Tenho porque Dou’. Assim era o filho do Homem.~”
E mais não digo. Deixo que você, que como eu gosta de ler, descubra por si.
PS: J.J Benítez é um fissurado em detalhes, e abusa das notas de rodapé: hora na “boca” do major, hora de próprio cunho. Digo, sem pestanejar: é possível pular esta parte, em noventa por cento dos casos.
****************************************
Postagem revista e atualizada às 14:48, do dia 27.01.2014 e às 9:48, do dia 01.02.2014, hora do Recife.
Graça e paz
Li todos os livros e realmente doí-me o coração imaginar que tudo isso possa ser apenas ficção….