#Somos todas mulheres de Queimadas

por Sulamita Esteliam
Mulheres protestam e exigem justiça em frente ao tribunal em João Pessoa - Foto: Kleide /Jornal da Paraíba
Mulheres protestam e exigem justiça em frente ao tribunal em João Pessoa – Foto: Kleide Teixeira /Jornal da Paraíba

Deve ser encerrado nesta sexta, no Fórum Criminal de João Pessoa, Paraíba, o julgamento do acusado de ser mentor do estupro coletivo de Queimadas, no Agreste do Estado, em 12 de fevereiro de 2012. Eduardo dos Santos Pereira organizou a barbárie como presente de aniversário para o irmão Luciano, este já condenado a 44 anos pela violência sexual.

O julgamento está sendo acompanhado pelo governo federal, que enviou representante a João Pessoa. “Para se solidarizar com as famílias das vítimas, e se mostrar ao lado da Justiça, que não tolera mais violência contra mulheres”, nas palavras de Aline Yamamoto, da Coordenadoria de Políticas Públicas da Presidência da República.

Em Queimadas, houve caminhada de protesto - Foto: FB/Cristovão Teixeira
Em Queimadas, houve caminhada de protesto – Foto: FB/Cristovão Teixeira

Eduardo é acusado de duplo homicídio qualificado, estupro, porte ilegal de arma, corrupção de menores, formação de quadrilha e cárcere privado. O júri foi transferido para a capital por reivindicação do Movimento de Mulheres, a fim de evitar interferência familiar, política e sócioeconômicas, dada as relações do réu no local do crime.

Cinco mulheres foram estupradas por 10 homens mascarados, que simularam um assalto durante a festa de aniversário, três dos quais, menores. Duas delas foram assassinadas naquele carnaval: a professora Isabela Pajuçara e a recepcionista Michelle Domingos.

Morreram porque reconheceram seus algozes. O crime chocou o país e provocou indignação mundo afora.

Testemunhos quando do inquérito policial – e confirmados durante o júri, iniciado na tarde de ontem -, dão conta de que a sentença de morte teria sido decretada por Eduardo. O réu foi casado com a irmã de Isabela.

pajuc3a7ara-e-michele_vitimas-queimados-pbÉ mais um caso a mostrar que a violência sexual, ou de qualquer natureza contra a mulher, parte sempre de pessoas de relação próxima, quando não parentes.

Matou, ou mandou matar, e ainda teve a pachorra de ir ao velório das duas vitimas. É o que afirmar um policial militar que integrou a equipe que prendeu Eduardo, momentos depois, quando se evadia para Caruaru, em Pernambuco.

Há pouco mais de um ano, seis dos acusados foram a julgamento popular. Condenados, receberam penas por estupro. Mas não foram julgados, porque não houve denúncia, por homicídio. Por que, até hoje ninguém explicou. Os menores cumprem medida sócio-educativa de três anos  de reclusão,  de acordo com o ECA – aqui neste blogue.

Notícias que leio pela internet mostram que dois anos e meio após, o crime ainda desperta comoção nos paraibanos, e não é para menos. Filas enormes se formaram antes do início do julgamento, na tentativa de entrar no salão do júri – aqui,

Houve protesto organizado pelo movimento de mulheres já na parte da manhã da quinta feira: “Somos todas mulheres de Queimadas” é o mote, também do manifesto divulgado pela Marcha Mundial de Mulheres da Paraíba. Exigem a condenação do réu e justiça no caso de outros assassinatos e estupros de mulheres paraibanas sem punição:

“Reivindicar por justiça em Queimadas é reivindicar por justiça nos casos de Aryane Thaís, que ainda aguarda julgamento de recurso; Rebeca Cristina, que permanece sem culpados; e da professora Brígida, cujo assassino se encontra foragido”, disse a professora Ana Laura Vilela, representante do movimento ao Portal G1.

No manifesto, divulgado às vésperas do julgamento, a Marcha Mundial de Mulheres da Paraíba lembra que, ainda no desenrolar do caso, houve o estupro e assassinato de Ana Alice. A garota tinha 16 anos e seu carrasco, Leônio Barbosa de Arruda, ainda não foi a julgamento.

#somostodasmulheres de queimadasA nota diz que moradores da cidade afirmam que “é comum as mulheres serem estupradas, mortas ou acordarem de madrugada na rua, sem saber como foram parar lá”. A situação de vulnerabilidade das mulheres em Queimadas, aliás, foi diagnosticada pela CPMI da Violência Contra a Mulher, em visita que fizeram à cidade.

“A família das vítimas até hoje é tratada como culpada, é frequentemente agredida nas ruas e pelas redes sociais por parte da população queimadense, que inverte o papel das vítimas pelas dos agressores”, afirma Íria Machado, da Marcha Mundial das Mulheres da Paraíba.

É inaceitável que em pleno século XXI o machismo e a misoginia ainda determinem a vida e a morte de mulheres no mundo todo. E a impunidade é a ração que alimenta o monstro.

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PS: O julgamento foi encerrado no momento da publicação desta postagem, por volta das 09:00 horas. Ao fim de 19 horas, o réu, Eduardo dos Santos Pereira, foi condenado a 106 anos e 4 meses de prisão por duplo homicídio, cinco estupros, formação de quadrilha, cárcere privado, corrupção de menores e porte ilegal de armas. Levou mais 1 ano e 7 meses de detenção por lesão corporal de um dos adolescentes envolvidos no crime.

Significa que o réu vai cumprir 30 anos de reclusão, que é o máximo previsto no Código Penal Brasileiro. Como a sentença se refere a homicídio qualificado e estupro, crimes considerados hediondos, o condenado terá que cumprir 2/5 da pena antes de qualquer benefício legal (Lei 11.464/2007).

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Postagem revista e atualizada às 10:36: correção de erros de digitação, pontuação e palavras repetidas em diferentes parágrafos; e novamente às 11:51, para inclusão do PS com o resultado do julgamento

 

 

 

 

 

 

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