
por Sulamita Esteliam
A 13 dias do segundo turno das eleições presidenciais os times estão escalados e todos já sabem com quem contar para tentar ganhar o jogo. Grosso modo, parafraseando Jânio de Freitas, esta é a eleição do bolsa família x bolsa de valores ou, digo eu, do Zé Povinho x Casa-Grande. Por mais que se queira traduzi-la como “mudança” ou “continuidade”.
Bertolt Brecht diria: “É a luta de classes, estúpido!”
O problema são os capatazes e capitães do mato. Aqueles que vivem à sombra do poder do senhorio, e se acreditam parte ou acima da carne seca. Até que leva um chute no traseiro, e cai na real.
Fato é que se a gente se atem ao que publica a mídia venal – escrita, falada, televisada e seus robôs amestrados, também, na internet – pode achar que o time da casa-grande, capitaneado pelo Primeiro Neto já ganhou a parada. E que o selecionado de Dilma, o Zé Povinho, está irremediavelmente perdido.
Mais do mesmo: denúncias sem prova, pesquisas sem lastro e registro, encenação do caos. Creio, acham que somos todos idiotas ou burros ou ingênuos ou todas as afirmativas anteriores. Levaram a melhor em 89, 94 e 98. Perderam em 2002, 2006 e 2010. Vão perder de novo para a força da maioria.
Aécio Neves conta com o “deus mercado”, os banqueiros de Marina Silva e esta junto, de carrada; os mercadores do bioma amazônico, mais o deus de Malafaia, Eriberto, Marcus Feliciano; mas ainda o deus e o PSB da família do falecido Eduardo Campos, tão fiéis e imaculados, seus ungidos e eleitos de plantão.
Sim, também estão com ele Jair Bolsonaro e os militares de pijama. Estes e aquele saudosos dos porões do DOI-Codi e dos bunkers das forças armadas, que ceifaram centenas de vidas dos opositores ao regime instalado em 1964. Seduzem quem acha que “comunista” come criancinha e que Cuba é o caldeirão do inferno. Isso tem nome.

A eles se juntam os empresários chantagistas da revista Exame e também da Isto É – reais ou imaginários; os escroques delatores das revistas Veja (Oia!) e Época: e mais os ditos jornalões de São Paulo e do Rio de janeiro, e também a arraia miúda regional – aqui, acolá e alhures. Verdadeira propaganda eleitoral do Primeiro Neto, empurrado da direita para o centro, segundo observa Luiz Carlos Azenha, no Vi o Mundo.
Para além de nojento, chega a ser patético. Dá um certo cansaço, devo confessar – é a minha sétima campanha presidencial -, mas não é hora de vacilo.
Não passam de ventrílocos, é o consolo. Marionetes, também, nas mãos de quem detém a chave do cofre que ajuda a sustentá-los – patrões e jornalistas, que não posso chamar de colegas, pois que jamais fui pena de aluguel.
Toda a armação fazem-na com o auxílio luxuoso do Ministério Público, por ato ou omissão, e juízes mais preocupados com o zero em seus salários do que com a aplicação da lei. Inventaram “o sigilo judicial com alto-falante”, e sincronizado com o calendário eleitoral, ironiza Jânio de Freitas, este sim, jornalista digno do nome, em sua coluna na Folha SP, no domingo.
Acham que podem subjugar e surrupiar a consciência e a vontade popular. Arvoram-se em detentores do poder de vida e morte sobre os destinos do país. Não passarão.
Cabe a nós, eleitores e eleitoras com sentimento de nação, com o olhar para além do umbigo e compromisso com um pais mais justo e igualitário, provar que não têm. A história recente do país está do nosso lado. Não podemos retroceder.
À Dilma, que já foi acusada por rivais internos, e inimigos externos, de estar à direita de Lula, quem diria, alinhou-se o lado esquerdo do espectro político nacional. As lideranças do PSol, a dissidência do PSB, dos desiludidos da Rede de Marina Silva. Bem-vindos sejam.
O quanto esse apoio vai se traduzir em votos, não temos bola de cristal, mas os lado direito da força, também não a tem. O eleitor escolhe. O povo é soberano.
Certo é que a campanha do segundo turno dispõe de 13 dias, tempo suficiente para reforçar o que importa. O que está em jogo são dois projetos de país, diametralmente opostos. É preciso mostrar claramente:
1) o compromisso programático de Dilma com o avanço e aprofundamento dos direitos civis, da igualdade de oportunidades; da democracia política, econômica e social, dos direitos de cidadania do povo brasileiro; de soberania do Brasil nos fóruns e decisões internacionais, das políticas levadas a cabo nos 12 anos de governo Lula e Dilma;
2) o retrocesso ao que representaram os oito anos de FHC – de arrocho, desemprego e pires na mão, de joelhos ante o FMI e no cabresto dos Estados Unidos.
Há quase duas semanas pela frente, e as ruas, e as redes sociais, e mais o horário eleitoral. Tempo suficiente para desmontar o embuste, para reforçar o poder do Brasil Real. Avante, pois, sem medo de ser feliz!
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A militância deu o exemplo, neste fim de semana. Agora à noite, enquanto finalizo esta postagem, os movimentos sociais se reuniram em Brasília, no auditório do Sindicato dos Bancários do DF. Para prestar suporte à campanha de Dilma e entregar à presidenta o resultado do Plebiscito Popular.
João Pedro Stédile, do MST, lembrou que os movimentos sociais não se unia, acima das posições partidárias, desde a campanha das diretas. E deu o tom:
“O povo quer mudanças, mas não qualquer mudança. O povo quer 10% do PIB para a educação, quer reforma agrária, quer reforma política com uma constituinte exclusiva. O povo não quer o retrocesso do governo do senhor Aécio, assim como repudiou o retrocesso do que poderia vir a ser um governo Marina”.
Dilma, ovacionada pela plateia, corroborou as palavras de Stédile, de que “só com a força do povo é possível aprofundar as mudanças.” A presidenta elogiou a organização do plebiscito popular, que coletou 8 milhões de votos sem apoio oficial. Reiterou seu apoio à Constituinte Exclusiva. Admitiu que não teve correlação de forças para passar a proposta no Congresso, mas alertou: “Não acredito que a Constituinte Exclusiva saia e, se sair, que vote a reforma política sem financiamento privado de campanha, se não for definido em plebiscito”. E avançou: “Digo que sou a favor da paridade de homens e mulheres nas eleições proporcionais”.
A plenária quase foi abaixo, também, quando a presidenta anunciou que Evo Morales foi reeleito presidente da Bolívia no primeiro turno. Bem-humorada e à vontade, quando conseguiu retomar a fala, Dilma brincou com as palavras de ordem repetidas a plenos pulmões: “Te cuida imperialista que a América Latina vai ser toda socialista”. A presidenta disse: “Nem tanto, ou como diria o Didi, ‘menas’, gente, ‘menas’…
Depois, a sério, lembrou o que nestas eleições estão em jogo dois projetos de país, elencou os avanços de seu governo e do governo Lula nos campos da educação, de valorização do salário mínimo e do microcrédito, comparando-os com a rejeição das forças adversárias: “Eles detestam ouvir a palavra “gratuito”, referindo-se ao Pronatec; também não gostam de falar sobre valorização do salário mínimo. Outra palavra que eles odeiam é subsídio”.
Dilma finalizou reforçando a importância de que cada brasileiro e brasileira pense no futuro do Brasil, quando estiver diante da urna no próximo dia 26.
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Postagem revista e atualizada às 21:39: acerto na concordância verbal no 16º parágrafo.