por Sulamita Esteliam
Não, não me esqueci que Belo Horizonte completa 117 anos neste 12 de dezembro de 2014. A terra que trago na minha certidão de nascimento, e onde cresci, amei e pari três do meu quarteto – e onde terminei, pelas voltas que a vida dá, por completar o sexteto; com a contribuição alheia, por que, também não estou com essa bola toda.
A cidade onde me tornei gente, mas da qual escapei para fugir da limitação de seus horizontes. Tão belos e tão opressores horizontes.
Minha relação com Beagá é de mãe e filha, adolescente. Quase sempre entramos em rota de colisão, mas a cidade me acolhe, a cada retorno, de braços abertos.
Dentre os meus livros começados, e empacados feito mula velha, está um no qual minha Macondo de origem é protagonista: A Cidade Cordial, que acolhe e expulsa seus filhos, que orienta e controla, que acarinha e repele.
O primeiro, Estação Ferrugem, integrou as celebrações dos 100 anos da capital mineira. É o único editado – numa parceria Vozes/Prefeitura de BH.
Conta a história de uma parte excluída da cidade, região operária, palco de greves e da resistência clandestina ao regime militar no período de 1964-1985, de árdua luta pela sobrevivência. “Ali onde Belo Horizonte e Contagem se confundem”, como bem define meu amigo Jurani Garcia, jornalista parceiro de boas lutas.
Belo Horizonte são várias, como as Minas da qual se tornou capital.
Sobretudo, e especialmente, Belo Horizonte são duas: dentro e fora da linha da Contorno. A avenida, de quase 12 km (11. 720 m), que circunda a área central é traço delimitador de classe.
Desde a prancheta que a desenhou, e desfez Curral Del Rey, e empurrou sua gente para fora do traçado preferencial, que previa 180 mil habitantes. Hoje são quase 2,5 milhões.
Há exceções que, lugar comum, só confirmam a regra.
Leio, no diário O Tempo, que o presente de aniversário para Beagá é a esperança de que o Conjunto Arquitetônico da Pampulha (sítio fora da linha da Contorno), venha a tornar-se Patrimônio Cultural da Humanidade. A prefeitura do município entrou com o processo no Iphan na manhã desta sexta.
Tomara logre êxito.
JK e Niemeyer, os dois visionários que gestaram a obra, hão de ficar muito felizes.
Parabéns a Belo Horizonte e a todo o seu povo!
“Gente que sofre e que, apesar de tudo vive; e consegue ser feliz, e se omite, e participa, e, que com suas mãos, com sua alma, ajuda a construir o Planeta Brasil. Ou não.”
(Trecho da introdução do Estação Ferrugem, Vozes/Prefeitura de BH, 1998. Encontrável somente pela internet)

****************
Postagem revista e atualizada em 15.12.2014, à 00:17, hora do Recife: correção de grafia da palavra “Tomara”, ao fim (quase) do texto.