por Sulamita Esteliam
O assunto do dia por aqui foi a violência policial sofrida por um casal de turistas baianos, que vieram para o Carnaval, e acabaram presos por “atentado violento ao pudor“. Eles afirmam que se beijaram após serem revistados por policiais militares. Aconteceu na Ribeira, na noite de quarta-feira.
No boletim de ocorrência, a PM anotou “masturbação em público”, e receberam o apoio do secretário de Defesa Social. O Ministério Público de Pernambuco, discorda; e nesta quinta divulgou nota de recomendação para que o Estado oriente os agentes policiais a respeitarem o direito à diversidade do afeto. Convocou, ainda, audiência pública para o dia 23 de abril, sobre segurança da população LGBT.
Em desagravo, as redes sociais entraram em ação, e convocaram um “Beijaço Gay” para a esta noite, em frente à Delegacia da Ribeira, onde o casal foi abordado, apanhou e foi preso. A concentração foi nos Quatro Cantos. Depois do beijo coletivo, desceriam em bloco pelas ladeiras, no dia da abertura oficial do Carnaval de Olinda
Na terça-feira gorda, outro “beijaço” deve acontecer, também na Ribeira, desta vez à luz da manhã e em meio à folia. No Twitter a convocação é para as 10 horas.
Mexeu com um, mexeu com todos.
A agressão é injustificável, mas é mais comum do que se pode imaginar. Nossa sociedade é predominantemente conservadora. Retrato disso é o Congresso Nacional.
É lá, por exemplo, na Câmara presidente por Eduardo Cunha(PMDB), que foi desarquivado um projeto, de autoria do deputado carioca, que estabelece nada menos do que o “Dia do Orgulho Hetero“! É pra rir ou chorar?
Olinda tem certa tradição de tolerância em relação a manifestações públicas de afeto entre homossexuais, sobretudo no Carnaval. Há até um logradouro, a 13 de maio, considerada “território gay” durante a folia.
No geral, porém, a gente sabe, vigora o preconceito. Ainda outro dia, tomava uma água de coco em um quiosque à beira-mar, aqui no Recife, e a conversa com a “operadora” era sobre liberalidade. Ela, uma pessoa bastante popular na freguesia, garante que respeita as diferenças.
– Mas, convenhamos, ninguém é obrigado a assistir um homem beijar outro homem. Que façam isso no seu particular, mas em público, é ofensa…
Não resisti, e perguntei: “E mulher, pode?”
Ela arregalou os olhos, soltou uma gargalhada nervosa, e devolveu:
– Você está brincando comigo…
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Compartilho um vídeo com música gravada por Cássia Eller, em 1992, sobre o direito ao amor entre pessoas do mesmo sexo. Eles é uma canção de Tavinho Fialho e Luiz Pinheiro. Topei com o clipe em uma das páginas do evento ‘Beijaço’ no FB:
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Postagem revista e atualizada dia 13.02.2015, à 00:24 hora: inclusão do vídeo e do sétimo parágrafo; remanejamento da foto do pé para a cabeça do texto.