por Sulamita Esteliam
Fazer mais com menos. Eis o desafio e o dilema do governo federal e a recomendação da presidenta da República à equipe, ora remodelada. Na posse dos 10 novos auxiliares, na segunda-feira, Dilma Roussef insistiu no imperativo da eficiência na ação e na utilização dos recursos, parcos. Também na necessidade de interação, e de se abrirem ao diálogo com a sociedade e com o Congresso Nacional.
Não dá para agradar a gregos e a troianos, Dilma sabe disso. Não obstante, não lhe resta alternativa que não tentar. Na contramão dos que tentam imputar-lhe uma ‘não-presidência’, cumpre seu papel de primeira mandatária da Nação com dignidade e fibra espantosas.
Se antes se mostrava arredia, parece decidida a se comunicar melhor. Demorou.
Os machos metidos a alfa, grosseiros ou dissimulados, mas sempre misóginos, seriam incapazes de aguentar um milímitro do que lhe vai nas costas e lhe passam na cara. No mais das vezes injúrias, frutos do preconceito, do machismo e da discriminação.
Até quando tentam ser condescendentes com a situação de achaque a que a presidenta tem sido submetida, sem refresco, por homens e mulheres, capitaneados ou não pela mídia venal, desde o primeiro mandato. O machismo se revela estarrecedor.
Ouvi, de pessoa querida, a seguinte avaliação do quadro: “Sacaneiam com a Dilma, porque ela não tem pica (sic) pra botar na mesa”. Desnecessária a tradução. Até porque, nem Freud explica.
Embora crítica a muitos de seus atos e atitudes, gosto do jeito Dilma de ser, jamais neguei; ao contrário, sempre apregoei aos quatro ventos, aqui mesmo neste blogue. Ocorre que Euzinha sou Maria Ninguém.
O certo ‘absolutismo’ e até ‘altismo’ que criticam nela, para mim, é o que ela tem de melhor. Revela sua obstinação e capacidade de ligar no automático e dar a volta por cima, instintos de sobrevivência. Morta ou depressiva ela não serve para nada nem ninguém, a começar por si mesma. E isso enfurece quem quer vê-la de espinha quebrada.
Apontar o dedo é fácil. Difícil é fazer.
Toda e qualquer mulher que ousar sair da sua zona de conforto para encarar o mundo, tem que levar consigo uma faca na bota. Falo no plano simbólico, naturalmente. O espaço público é, continua sendo, masculino. Por mais que sejamos mais preparadas, para a vida e intelectualmente. Podem discordar, mas é fato.
E nesse contexto, a mulher tem duas armas: ou joga o jogo, com astúcia, ou quebra a banca, com inteligência; ou usa a fibra ou a sedução. Ocasiões há em que é preciso fazer jogo duplo.
Dilma revela-se camaleoa.

No episódio da atual reforma administrativo-ministerial, conseguiu surpreender, politicamente.
Tanto, que desagradou a mídia venal, a oposição que vale. E se não agradou os movimentos sociais e ao seu próprio partido, o PT, ofereceu-se ela própria ao holocausto, cortando na própria carne ao reduzir o salário seu e da equipe de ministros em 10%.
Para além da entrega de mais um ministério e duas pastas importantes – os ministérios da Saúde e da Ciência e Tecnologia, antes sob o comando de seu partido e aliado mais confiável (PCdoB) -, ao insaciável PMDB. Que está aí há trocentos anos, mamando nas tetas do governo, qualquer governo. E não tem o menor pudor em valer-se da chantagem para manter-se à mesa.
Ai povo cabe a tarefa de submetê-lo a uma dieta, pelo não-voto, já que a negação e dieta são modas vigentes. As eleições municipais de 2016 são uma boa oportunidade.
O PT reduziu presença numérica na Esplanada dos Ministérios. Chia, mas manteve postos estratégicos e permanece maioria: Casa Civil, a recém-criada Secretaria de Governo, e os denominado dois super-ministérios da Previdência e do Trabalho; e das Mulheres, Igualdade Racial e dos Direitos Humanos. Além dos ministérios da Justiça, Desenvolvimento Social, Desenvolvimento Agrário, Educação e da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República.
A mineira Nilma Lino Gomes é a ministra das Mulheres, Igualdade Racial e dos Direitos Humanos. A entrega à até então titular da Seppir – Secretaria para a Promoção Racial, acabou revelando-se postura salomônica. Os movimentos de mulheres e outros movimentos sociais bombardearam a fusão de três secretarias fundamentais à redução das desigualdades – este blogue mesmo manifestou-se perplexo.
Dilma saiu pela tangente: evidenciou no nome do novo ministério a paridade de importância, e entregou a pasta à coordenação de uma mulher negra.
Parece ter ouvido a “sugestão” da coordenadora do Instituto Patrícia Galvão, Jacira Melo. Embora crítica à junção das secretarias, defendeu que, “pelo menos” a titular fosse uma mulher. Certamente, a presidenta trocou figurinhas com Eleonora Menicucci, amiga e companheira de martírio nos porões da ditadura, que se mantém no cargo, agora sem status de ministra. Postura, aliás, descente como é do seu feitio.
Claro, há choros e ranger de dentes, aqui e ali. Mas a reação foi menos intensa do que se prenunciava. O foco, agora, é pressionar para aumentar o volume de recursos disponíveis para a nova pasta.
Como lembra Rachel Moreno, do Observatório da Mulher e da Rede Mulher e Mídia, psicóloga e pesquisadora, “é preciso ver como ficarão os recursos, que nunca foram tão abundantes para as três pastas. Creio que veremos o que se quer, e o que dá para fazer, com mais algum tempo.”