por Sulamita Esteliam
Glenn Greenhald, jornalista norte-americano, escritor e advogado especialista em Direito Constitucional, vive há anos no Rio de Janeiro, onde desde 2005 tem um companheiro brasileiro. Ganhou notoriedade, e um Pulitzer – o Oscar do Jornalismo estadunidense – com a divulgação inicial, no britânico The Guardian, dos documentos vazados por Edward Snowden sobre o programa de arapongagem da NSA em 2013.
O repórter e editor entrevistou o ex-presidente Lula, na sexta passada, e o resultado está publicado no sítio The Intercept, na Internet, desde domingo. E faz um comentário revelador do nível de improbidade e impropriedade desempenhado pela mídia nativa na oposição ao governo, embora a mesma midia venal argumente com a tal da imparcialidade. “Estou impressionado com nível de ferocidade na mídia brasileira para com o governo, eu que vivo há tantos anos no Brasil”, confessa.
Muito mais relaxado que na primeira coletiva concedida a jornalistas internacionais, na última semana de março, Lula não fugiu a nenhuma questão, como é seu estilo. Mostra-se sereno, entretanto, com voz pausada e sem o amargor na voz que, justificadamente, vinha caracterizando suas falas, desde o fatídico 04 de março; e mais ainda após a divulgação dos grampos de conversas telefônicas particulares suas com presidenta Dilma e outras autoridades com quem priva de intimidade.
O semblante de Lula está mais tranquilo, e ele até sorriu, mais de uma vez. E vê-lo sorrir de novo desanuvia o ambiente e acalma o coração.
Sem esquecer que a Comissão Especial do Impeachment, na Câmara dos Deputados inicia a discussão do relatório que encaminha pelo acatamento do processo contra a presidenta Dilma. Na maioria das capitais brasileiras e em várias cidades País afora, vigílias cívicas acompanham a votação, em ritmo acelerado pelos golpistas.
“Eduardo Cunha não tem moral para comandar o impeachment da presidenta Dilma. Não há nada contra a Dilma”, afirma Lula.
As andanças por São Paulo e pelo Brasil para participar e discursar em atos públicos em defesa da legalidade e pela Democracia, têm sido um processo terapêutico para Lula. Luiz Inácio Lula da Silva é movido a política. Fazer política é o que ele sabe fazer de melhor, e é o que tem feito nas últimas semanas, intensamente. Para desespero da turma que, tudo faz para imobilizá-lo.
“Há 20 anos a mídia brasileira tenta quebrar minha imagem”, brinca.
Tarefa inglória, a julgar pela recente pesquisa do “insuspeito” DataFolha. Depois de tudo, Lula ainda é o presidente mais querido do Brasil para 40% dos entrevistados.
O ex-presidente voltou a falar sobre as atitudes do juiz Sérgio Moro, o justiceiro de Curitiba, que se mostra, por assim dizer, picado pela mosca azul do sucesso midiático. Para Lula, isso pode acontecer com as pessoas, deixar-se encantar pela ilusão do poder, pelos afagos, achar que tem muito poder, e deixar-se perder em excessos. “É próprio do ser humano”, acredita. Ninguém escapa, “eu também; é preciso estar vigilante o tempo todo e ter muita responsabilidade.”
Compartilho a entrevista mais recente e parte da anterior concedida aos correspondentes estrangeiros – a parte em que Lula responde à pergunta do repórter do The New York Times.
Até porque, o PIG briga com os fatos cada vez mais, talvez por que considere que pode prescindir de praticar Jornalismo.
