
por Sulamita Esteliam
Nesta quarta-feira, 14, os movimentos sociais e lideranças partidárias, reunidos em torno do Comitê Nacional Lula Livre, voltam a ocupar as ruas de Curitiba no entorno da Justiça Federal.
Vão acompanhar o depoimento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à juíza substituta do inquisidor; aquele que saiu de férias, e não se exonerou, para atuar como ministro indicado no gabinete de transição do governo eleito do coiso inominável.
Tudo normalíssimo, por mais indecente que possa parecer. Afinal, ao garantidor da eleição loas e tapetes vermelhos. A versão do que a minha avó materna, em tempos idos, constataria como sendo “em rico nada pega”.
Lula deixa a carceragem da Polícia Federal na capital paranaense, onde é preso político desde 07 de abril deste ano. E primeira vez em sete meses que vê a luz do dia fora do pátio onde toma banho de sol diariamente.
Desde quando decidiu se apresentar para cumprir a condenação, sem crime e sem provas, a 12 anos e um mês de prisão por causa do triplex do Guarujá, que pertence, ou pertencia pois foi leiloado, à OAS.
O ex-presidente vai depor à juíza substituta da Lava Jato, Gabriela Hardt, sobre o processo do sítio de Atibaia.
Espera-se mais um jogo de cena da ópera bufa em que se tornou a Lava Jato, quando os acusados são do PT.
Quem, por mera distração, ouse nutrir qualquer tipo de expectativa de sentença favorável a Lula, pode tirar seu cavalinho da chuva.
Se, antes, manter o ex-presidente preso era condição sine qua non para se consolidar o golpe, via processo com verniz democrático, agora Lula é o troféu e a ser mantido preso para justificar o injustificável do ponto de vista jurídico e moral.
É o álibi perfeito parta atestar a “imparcialidade”, que até as algas do mar de Boa Viagem sabem inexistente, de seu algoz. Aquele juiz que nunca foi político, e que não mente. Só pisca, e como pisca!
Joaquim de Carvalho, colega jornalista e blogueiro do DCM, tem acompanhado a Lava Jato desde seu início. Agora mesmo, escreve a propósito do que chama de “sentença anunciada”. Para ele, a substituta de Moro não esconde ter opinião formada a respeito, e tem pressa em anunciar a sentença.
“No processo sobre o sítio de Atibaia, os depoimentos tomados esta semana pela juíza Gabriela Hardt, substituto de Sergio Moro, foram favoráveis ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Mas quem espera que esses depoimentos resultem na absolvição do ex-presidente deve se decepcionar. Gabriela Hardt já deixou entrever o que pensa sobre o caso e, assim como Moro, tem pressa para sentenciar.
Na audiência em que ouviu dois controladores da Odebrecht e um ex-diretor de relações institucionais, Gabriela pediu aos advogados e ao Ministério Público Federal que acelerem os procedimentos finais do processo.”
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“Gabriela tem muito perto dela opinião definitiva sobre Lula
Assim como Moro. No caso deste, é a esposa, Rosângela, que nunca deixou de fazer militância antipetista na internet.
Já em relação a Gabriela é o pai, engenheiro químico que trabalhou na Petrobras. Ele é ativo na rede social nos ataques à administração de Lula.
“A quadrilha do Lula instalada na Petrobras não roubou só bilhões. Roubou o futuro da empresa”, escreveu ele, em uma publicação no Facebook.
A substituta de Moro também teve um artigo publicado em uma organização norte-americana ligada à presidência dos Estados Unidos, o Wilson Center.
Desde 2006, esse think thanks tem um departamento voltado para temas brasileiros, o Institute Brazil, dirigido pelo jornalista Paulo Sotero, ex-correspondente do Estadão.
O Wilson Center tem outros tentáculos e foi acusado de estimular a tentativa de golpe contra o governo de Recep Tayyip Erdogan, da Turquia, conforme narrado Miguel do Rosário, em O Cafezinho.
No Wilson Center, já fizeram palestras, além de Sergio Moro, alguns ministros do Supremo Tribunal Federal, e entre patrocinadores dessas atividades estão grandes petroleiras.
No artigo, publicado em 2017, Gabriela elogiou Moro e escreveu:
“É óbvio que, ao lutar contra forças poderosas, você deve esperar que eles usem todos os meios à sua disposição para manter o poder que conquistaram. No entanto, continuo a acompanhar de perto o trabalho duro de pessoas bem intencionadas e bem preparadas que enfrentaram novas batalhas nos últimos três anos e meio. Por tudo isto, espero e confio que esta crise apresentada pela divulgação das investigações da Lava Jato sirva como uma verdadeira janela de oportunidades para que possamos ter um país mais forte e honesto.”
Esse trabalho de pessoas bem intencionadas resultou na prisão de Lula, num processo que teve uma condenação sem provas, e, com isso, na pavimentação do caminho que levou o Brasil a Jair Bolsonaro.
Uma semana depois de sua eleição, facilitada pela exclusão de Lula do processo eleitoral, o Wilson Center realizou uma conferência sobre corrupção na América Latina.
O nome de Gabriela estava entre os participantes. De volta ao Brasil, com Moro deixando a magistratura para trabalhar com Bolsonaro, ela assumiu a condução de dois outros processos que envolvem Lula.
No roteiro previsível da Lava Jato, uma nova condenação de Lula não apenas servirá para manter Lula mais tempo afastado da vida pública quanto ajudará na construção de um “álibi”para Moro.
Afinal, se Lula for condenado por Gabriela Hardt, os defensores de Moro poderão dizer que ele não foi o único a condenar o ex-presidente e, com isso, se tentar afastar o discurso da parcialidade do ainda juiz, quase ministro de Bolsonaro.
Para os analfabetos políticos, cola. Para os demais, não.
Há indicações de que o que move Moro é a mesma invisível que afaga Gabriela. O que fará justiça ao ex-presidente é a história, não esses setores do Poder Judiciário que não escondem o que pensam de Lula e o projeto que tornou o país um dos mais respeitados do mundo nos seus doze anos de normalidade institucional.
No que depender de juízes como Moro e Gabriela, a promessa de Bolsonaro se cumprirá.
“Lula vai apodrecer na cadeia”, disse o presidente eleito, futuro chefe de Moro.
