‘Direitos são feitos de carne humana, sangue e suor. Sente o cheiro!’, provoca a juíza

por Sulamita Esteliam

Recebi o texto que posto a seguir num grupo de feministas mineiras no zap-zap. Vem a calhar para as minhas intenções do primeiro dia útil da semana.

Melhor, chega pronto, e não tenho que forçar meu indicador esquerdo avariado e em processo de cicatrização no tec-tec-tec; sou do tipo que teclo com os dez.

Além de tudo, forçoso concordar com a fonte de repasse: é, sim, um texto exemplar. E prova que a atitude de uns não contamina todp o ninho, pois que a autora é juíza, e federal.

Dessas profissionais que nos fazem manter acesa a esperança de justiça e direitos, na Justiça e no Direito, como fundamentais ao processo civilizatório, que dirá da democracia republicana.

E como andamos carentes desse tipo de toga e de pensamento.

Abençoada seja, Rachel Domingues do Amaral.

Devo informar que o texto, postado originalmente o Pequenas Igrejas, é de maio de 2017; a data da postagem é 29, mesma data em que foi reproduzido no Geledés.

Atualíssimo, como se pode verificar.

Em tempo: Raquel Domingues atua na Turma Recursal dos Juizados Especiais Federais do Mato Grosso do Sul,  é professora de Direito na Unigran e encerra agora o mandato de dois anos como membro efetivo do TRE-MS.

Raquel Domingues do Amaral, juíza federal – Foto capturada no Pequenas Igrejas

Sabem do que são feitos os direitos, meus jovens?

por Raquel Domingues do Amaral – juíza federal – Pequenas Igrejas , via Geledés

Sentem o seu cheiro?

Os direitos são feitos de suor, de sangue, de carne humana apodrecida nos campos de batalha, queimada em fogueiras!

Quando abro a Constituição no artigo quinto, além dos signos, dos enunciados vertidos em linguagem jurídica, sinto cheiro de sangue velho!

Vejo cabeças rolando de guilhotinas, jovens mutilados, mulheres ardendo nas chamas das fogueiras! Ouço o grito enlouquecido dos empalados.

Deparo-me com crianças famintas, enrijecidas por invernos rigorosos, falecidas às portas das fábricas com os estômagos vazios!

Sufoco-me nas chaminés dos Campos de concentração, expelindo cinzas humanas!

Vejo africanos convulsionando nos porões dos navios negreiros.

Ouço o gemido das mulheres indígenas violentadas.

Os direitos são feitos de fluido vital!

Pra se fazer o direito mais elementar, a liberdade, gastou-se séculos e milhares de vidas foram tragadas, foram moídas na máquina de se fazer direitos, a revolução!

Tu achavas que os direitos foram feitos pelos janotas que têm assento nos parlamentos e tribunais?

Engana-te! O direito é feito com a carne do povo!

Quando se revoga um direito, desperdiça-se milhares de vidas …

Os governantes que usurpam direitos, como abutres, alimentam-se dos restos mortais de todos aqueles que morreram para se converterem em direitos!

Quando se concretiza um direito, meus jovens, eterniza-se essas milhares vidas!

Quando concretizamos direitos, damos um sentido à tragédia humana e à nossa própria existência!

O direito e a arte são as únicas evidências de que a odisseia terrena teve algum significado!”

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