
por Sulamita Esteliam
A ignorância é uma benção. Pude constatar a veracidade do dito, nem tão popular assim, ao ater-me ao meu próprio umbigo nos últimos onze dias do ano que se foi, mais o primeiro do ano que começa.
Dei-me o presente de passar ao largo dos acontecimentos no 65º ano da minha existência. E digo que me fez muitíssimo bem, obrigada.
Ao invés de ler, escrever e assistir, vaiar ou bater palmas, vivi: fui à praia, tomei banho de mar, caminhei, bebi, comi, dormi, amei, preguicei, dancei, celebrei, arenguei.
Não necessariamente nesta ordem e com a mesma intensidade em todos os aspectos. Mas que foi bom foi.
Todavia, não só de ócio, prazer e ignorância vive uma mulher. Limpei, cozinhei mais do que sempre, lixei, pintei, costurei, fiz e aconteci.
O show da Elba Ramalho na virada do ano na Praia de Boa Viagem me fez sentir garota novamente. Euzinha e o maridão nos acabamos de dançar.
Tudo é uma questão de perspectiva. Se não tem, a gente inventa para se distrair. Só não vale fugir da raia, perder o fio da trama.
É preciso perseguir a luz, até para manter acesa a esperança.
É preciso segurar e não soltar a mão do outro na travessia do rubicão.
Fazer do sonho uma ponte, do medo uma escada, como ensina Fernando Sabino no seu Encontro Marcado.
Não, não vi a posse do capiroto, porque não sou obrigada. E dou graças por isso.
Retomar o contato com a realidade é preciso, entretanto, mesmo que faça mal ao estômago e às ideias.
Das noticias que me chegam neste ano que recomeça, nada surpreende.
E nem me causa espécie ou surpresa que os coleguinhas de imprensa tenham sido tratados como vira-latas dispensáveis nas cerimônias de posse.
Colhem o que ajudaram os patrões a plantar. E as exceções só confirmam a regra.
E agora clamam por democracia, transparência e tratamento respeitoso!?
Afinal, assume um (des)governo cevado pelos profissionais que fazem a mídia venal. Trabalhadores da imprensa a serviço da mesma plutocracia que apostou no tudo ou nada.
E o desgoverno cumpre o que prometeu: nada será como está, ainda que prevaleça o desmantelo.
Agora, sim, verão o que é terra arrasada, o que o Zé Povinho tem sofrido no lombo desde que violar a Constituição tornou-se meio de vida na política nacional.
Agora, sim, verão o que é guerra. Claro, os justos pagam pelos pecadores.
E veteranxs como esta velha escriba, que continuam na linha de frente, terão saudades do Toninho Malvadeza, ex-governador, ministro e senador baiano.
O velho prócer da direita, que atropelava jornalista no ar, com a maior desfaçatez, vai parecer um anjo de candura perto do que virá aí.
Feliz Ano Velho para você também, com o perdão do Marcelo Rubens Paiva.
Clique para ler a Nota Oficial de repúdio divulgada pela Fenaj – Federação Nacional dos Jornalistas.
E aqui a nota de protesto da Abraji – Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo