
por Sulamita Esteliam
O A Tal Mineira compartilha o texto a professora e deputada estadual eleita e diplomada, Beatriz Cerqueira (PT-MG). É o relato sereno e bem escrito sobre a desfaçatez ocorrida durante a diplomação dos parlamentares eleitos no Estado de Minas Gerais, na noite da quarta-feira, 19.
Deu-se no grande teatro do Palácio das Artes, onde partidários de você sabe quem não se permitiriam o mínimo gesto de compostura e pudor! Afinal, espetáculo é com eles mesmo, que seja grotesco.
Minas não está sozinha, embora pareça deliciar-se com o papel. Cenas idênticas de intolerância, grosseria e quebra de decoro – à essa altura, de que nos serve o decoro!? – têm se repetido nas cerimônias de diplomação dos eleitos Brasil afora. Os alvos são sempre os mesmos, parlamentares das esquerdas.
Está aberta a temporada de corporificação da república dos dementadores. E que o Universo se compadeça de nós.
Nas redes sociais, circula o vídeo com as imagens do vexame e da violência ocorridos na tentativa do deputado do PSl, de nome Junio Amaral de barrar, na marra, a manifestação silenciosa do deputado Rogério Correia, estadual eleito para a Câmara Federal.
Não há imagens da agressão à deputada estadual eleita, Beatriz Cerqueira, da qual se encarregou o público, gente de bem, e a profissional de comunicação responsável pela cerimônia. Mestra de boas maneiras para o coiso aplaudir.
O motivo da desfaçatez: a placa Lula Livre que ambos, deputados do PT exibiam.
Sobrou também para a deputada federal eleita, Áurea Carolina, do PSol, que foi a vereadora mais bem votada nas eleições municipais de 2016 na capital mineira.
Os seguidores do inominável não suportaram ouvi-la homenageando Marielle Franco, a vereadora carioca executada junto com o motorista há pouco menos de um ano, no Rio.
E os bandidos são os petistas.
A Liderança do PT na Câmara dos Deputados e a Frente Brasil Popular divulgaram nota de repúdio à agressão. Ressaltam o compromisso com a democracia plena e com a liberdade de expressão. E lembram que não se pode compactuar com tamanho desrespeito de quem não consegue tolerar o diferente.
Sem mais delongas, ao texto da Bia, seguramente uma mulher de fibra, que presidiu com vigor o Sindicato dos Professores e a CUT Minas Gerais e por isso se elegeu deputada estadual, a mais votada.
“Eu acompanhei com respeito e educação a diplomação do Governador eleito Romeu Zema. Ouvi seu pronunciamento sem manifestar qualquer deselegância ou agressão. Ele foi eleito. Mesmo que eu não concorde com suas ideias, não teria o direito de lhe arrancar o discurso das mãos.
Também assisti com o mesmo respeito e educação a diplomação dos senadores eleitos que representarão Minas Gerais. E assim me comportei com todos os deputados estaduais e federais.
Vi gente batendo continência num ambiente que não caberia tal gesto. E nem por isso saí gritando para que não o fizessem.
Quando a deputada federal eleita Aurea Carolina foi anunciada para ser diplomada, parte do público presente agiu com extrema hostilidade. Isso não incomodou o cerimonial do TRE.
A hostilidade a uma mulher, negra, que tem uma forma de fazer política que cada vez aglutina mais pessoas não foi um problema para a Cerimonial.
A mulher com maior votação para a Câmara de Vereadores de Belo Horizonte! Uma mulher com a representatividade de mais de 160 mil votos!
Ela ter sido ostensivamente hostilizada pareceu normal à maioria dos que estavam na Cerimônia.
Ela fez uma bela homenagem a Marielle Franco. As pessoas que a vaiavam estavam aplaudindo o assassinato da vereadora do Rio de Janeiro?
Após manifestações de parte do público presente para eu escondesse a placa que levava junto a bolsa onde estava escrito ‘Lula Livre’, a moça do Cerimonial (não sei o seu nome), pela segunda vez, me solicitou que retirasse a placa. Respondi que não faria.
Ela me disse que meu comportamento estava tumultuando a cerimônia. Discordei. Eu estava apenas com a placa. Não tinha feito, até aquele momento, nenhum gesto com ela além de carregá-la comigo.
Era a hostilidade de parte do público que estava atrapalhando, incapaz de conviver com pensamentos divergente do seu.
Após ouvir a opinião do deputado estadual que estava ao meu lado e que era favorável que a placa fosse retirada, ela arrancou a placa da minha mão e saiu. Seu comportamento foi aplaudido por parte do público.
Li todas as orientações e recomendações para a cerimônia da diplomação. Eu fui pessoalmente ao Cerimonial do TRE buscar isso. Em nenhum lugar estava escrito que eu deveria esconder a minha identidade partidária, ideológica e de pensamento.
A exceção de estado fica nítida quando uma mestre de cerimônia toma partido, concorda com a opinião de convidados que gritavam na plateia e de outro deputado que estava sendo diplomado e se sente no direito de arrancar das mãos de uma deputada eleita que estava sendo diplomada a sua identidade partidária.
Eu ouvi, sem agredir ninguém, inúmeros insultos, piadas, ironias durante o período da cerimônia. Isso também parece não ter incomodado o cerimonial.
Os gestos simulando metralhadora também não significaram uma problema para o Cerimonial.
A tentativa de arrancar das mãos do deputado federal eleito Rogerio Correia a outra placa também não foi um problema.
Espero que, nesta quinta-feira, o Cerimonial do Tribunal Regional Eleitoral me devolva a placa que ilegitimamente foi arrancada das minhas mãos. É um objeto que não lhe pertence e não tem o direito de ficar com ele.
Fica apenas com a responsabilidade do que fez hoje e com silêncio e omissão que teve diante da hostilidade que pessoas com pensamento diferente vivenciaram.”
*Texto da ex Presidente da CUT MG e a deputada eleita pelo PT/MG a mais votada*