por Sulamita Esteliam
Precisei de alguns dias para reciclar as energias acumuladas nas duas últimas semanas. Refugiei-me em casa de amigxs em Porto de Galinhas, acompanhada do maridão. Assim, não participamos da manifestação de protesto contra a celebração do 31 de março, determinada pelo desgoverno delirante.
E o que pudemos ver através das redes sociais, mostram que, nas palavras do deputado federal Rogério Correia, do PT de Minas, “o tiro de Bolsonaro saiu pela culatra”.
Faz lembrar a bola fora do ex-presidente Fernando Collor, que convocou o povo a ir para as ruas de verde e amarelo, em apoio a seu governo, e as ruas se cobriram de preto, ajudando a puxar o tapete já surrado do seu des-governo, que resultou em impeachment. O ano era 1992 do século passado.

No Recife, o ato de repúdio ao golpe civil-militar de 1964 se deu no Monumento Tortura Nunca mais, com a presença de ex-presos políticos, familiares de mortos e desaparecidos e ativistas dos movimentos sociais. Vale à pena ler a cobertura do Marco Zero Conteúdo, de onde o A Tal Mineira capturou algumas fotos que ilustram esta postagem.
É um verdadeiro escárnio celebrar a ditadura que nos sufocou durante 21 anos do século passado.
Assista ao documentário O Dia que durou 21 anos, Fala sobre a participação dos Estados Unidos na preparação do golpe militar de 1964. Foram dois anos de trama urdida, com o auxílio luxuoso da nossa plutocracia e classe média de plantão.
Qualquer semelhança com o golpe que derrubou a presidenta Dilma Rousseff, encarcerou o ex-presidente Lula e manipulou para levar o capitão delirante e sua guarda armada ao poder, não é mera coincidência.
A ex-presidenta, ex-presa política e sobrevivente de torturas, também se manifestou nas redes:
‘1964 é uma ferida aberta na história política do país. São tempos que evocam tortura, morte e exílio.
Os 55 anos do golpe militar no Brasil são, para todos nós que lutamos contra o arbítrio, pelas liberdades e pelos direitos humanos e sociais, uma triste lembrança.
Assista ao vídeo divulgado por Dilma e que resume o que foi 1964:
Tem outro vídeo bem explicativo do que foi o período ditatorial no país. Fundamental para as novas gerações conhecerem a verdade, e para as velhas reconhecerem o equívoco de terem dado sorte ao azar.
Um massacre que, afora o aprofundamento brutal da desigualdade social que oprime sempre os mais fracos, torturou e matou 144 pessoas e “desapareceu” com outras quase 300, sem que seus familiares, ao menos o direito a enterrar seus mortos.
Afora a censura à imprensa, à cultura, ao direito individual e coletivo de manifestar-se, de reunir-se e a limitação até mesmo à livre circulação das pessoas em seus espaços sociais, expulsão e exílio. “Brasil, ame-o ou deixe-o” ´é o bordão que melhor traduz os anos de chumbo.
Quem cresceu e/ou viveu a ditadura sabe bem o que é isso.
No Brasil inteiro houve atos de protestos, alguns com enfrentamento entre manifestantes do campo progressista e os gatos pingados de sempre, que se uniformizam de verde amarelo, como se detivessem a propriedade das cores e símbolos nacionais. Não, não os têm.
Em Sampa foram colorados para correr, como mostra o vídeo do coletivo Jornalistas Livres:
Na minha Macondo de origem, o Sindicato dos Jornalistas puxou o ato dos movimentos sociais que reuniu milhares de pessoas na Praça da Liberdade.
Os manifestantes seguiram em passeata pela Av. João Pinheiro até o centro da cidade. Confira mais fotos que recebi, via Betinho Duarte, em grupo no Zap-Zap – inclusive a foto da direita no alto desta postagem:
Lá também houve quem se manifestasse pró-ditadura: 14 pessoas exatamente, como mostra a foto ao lado.
O colega Palmério Dória, jornalista e escritor paulistano, faz uma observação interessante no Twitter: pelo menos no que diz respeito a São Paulo, a maioria dos manifestantes contra o golpe de 1964 era de jovens.
Significa que, como se manifesta uma cidadã, “há, sim, esperança, há luz no fim do túnel”.