por Sulamita Esteliam

Ferramenta desenvolvida pelo professor Fabrício Benevenuto, pesquisador de Ciência da Computação da UFMG, detectou campanha ‘fake news’, notícias falsas contra as universidades públicas no WhatsApp. O alerta foi disparado pelo próprio pesquisador e divulgado na rede por uma parceira de ativismo feminista, pelos direitos sociais e pela democracia.
A pergunta que o professor deixa no ar, não cala:
– Quem financia essa fábrica de desinformação?
O fenômeno, digamos assim, é o mesmo que se constatou nas últimas eleições e que levou o Brasil aonde estamos, se repete: esforço orquestrado para disseminar falsidades e infâmias para atingir objetivo obscuro.
Mentiras disparadas e repercutidas em massa, via zap-zap, que se vale da desinformação ampla e irrestrita para manipular consciências ou inconsciências.
A ação governamental visa justificar, se é que isso é possível, o corte de 52% na verba das universidades, estrangulando sua capacidade operacional e de produzir ciência. Sob a capa do enxugamento da máquina pública, sufoca a produção de conhecimento.
Significa que o desgoverno do capitão-fake-delirante só tem uma proposta: destruir. É feito praga de cupim subterrâneo quando, que invade as estruturas pelas frestas, e corrói tudo que vê pela frente.
É preciso deter seu poder de destruição.
A sociedade não pode ficar de braços cruzados e pés para cima, como fez o técnico Felipão, enquanto a Seleção Canarinho tomava um banho de gols da seleção alemã. Aquele 7 x 1 não pode ser esquecido.
Não é brincadeira de polícia e bandido, de cidadão de bem e celerados. O presente não pode jogar com o futuro de gerações e gerações, com o destino do País.
O anti-intelectualismo tosco é a base do ataque às universidades, à educação, ao conhecimento. Na visão do sociólogo Jessé de Souza, a ação não é gratuita; visa atingir, sobretudo, a baixa classe média.
Transcrevo um pequeno trecho do artigo publicado no Jornal GGN sobre “o que significa Bolsonaro no poder”:
– A relação da baixa classe média com o conhecimento é ambivalente: ela inveja e odeia o conhecimento que não possui, daí o ódio aos intelectuais, à universidade, à sociologia ou à filosofia. Este é o público verdadeiramente cativo de Bolsonaro e sua pregação. É onde ele está em casa, é de onde ele também vem. Obviamente esta classe é indefesa contra a mentira institucionalizada da elite e de sua imprensa. Ela é vítima tanto do ódio de classe contra ela própria, que cria uma raiva que não se compreende de onde vem, e da manipulação de seu medo de se proletarizar. Quando essas duas coisas se juntam, o pobre remediado passa a ser mais pró-rico que o Dória.
Faz-me lembrar um meme que circulou no segundo turno da campanha presidencial, que rememorava a rivalidade da cigarra com a formiga: a primeira, com raiva da segunda, ou vice-versa, votou no inseticida.
Por falar em Alemanha, a chanceler Ângela Merkel anunciou o investimento de 160 bilhões de euros para pesquisa nas universidades.
É a diferença entre a estultice a serviço da casa-grande, aliada ao complexo suicida das classes populares, e a visão de responsabilidade de Estado e perspectiva de futuro, horizonte da nação.
Não há solução fora do conhecimento. De onde essa gente acha que vem a internet e as redes sociais? Brotaram do nada? E a busca no pai google, no novo dicionário que tudo sabe? E o remédio para a ressaca, para o fígado, rim, baço, pâncreas, intestino, cabeça, coração?
Tudo é conhecimento desenvolvido nas universidades públicas ou com financiamento público.
Ouça o que diz a deputada Margarida Salomão (PT-MG). Não por acaso, ela é ex-reitora da Universidade Federal de Juiz de Fora. Fala, portanto, com conhecimento – olhaí a palavra mágica – de causa:
E, como escrevi no Twitter, nessa hora o complexo de vira-latas se esconde debaixo da cama ou se perde no abismo infindo…!
A ferramenta desenvolvida por Fabrício Benevenuto é diagnóstica, essencial porque traz à superfície o que é trabalhado subterraneamente.
Quem estudou ou trabalha com Fabrício Benevenuto @benevenuto.fabricio sabe que “ele é fera!!”, comenta a amiga na postagem do FB: “suas pesquisas se dirigem justo para a área de mídias sociais, dentre outras e têm gerado farta produção de artigos científicos, que já dispõem de cerca de 9 mil citações no h-index 34”.
A Wikipédia nos ensina que o h-index 34, ou h–index em inglês, “é uma proposta para quantificar a produtividade e o impacto de cientistas baseando-se nos seus artigos mais citados”.